Os alimentos ultraprocessados foram beneficiados na votação da Câmara dos Deputados que regulamentou a Reforma Tributária, ficando isentos do imposto extra sobre produtos prejudiciais à saúde, conhecido como Imposto Seletivo (IS) ou “imposto do pecado”. Alimentos como bolacha recheada, macarrão instantâneo e salgadinhos de pacote — ricos em sódio, corantes, açúcar e conservantes, mas pobres em nutrientes — não serão tributados pelo IS, criado para taxar produtos nocivos à saúde e ao meio ambiente.

Esses alimentos ultraprocessados são responsáveis por 57 mil mortes anuais no Brasil, um número que supera o total de mortes causadas por homicídios, acidentes de trânsito e tumores de mama e próstata. De acordo com o artigo “Mortes prematuras atribuíveis ao consumo de alimentos ultraprocessados”, publicado em novembro de 2022 pela USP, Fiocruz, Unifesp e Universidad de Santiago de Chile, essas mortes representam 10,5% das mortes precoces de brasileiros entre 30 e 69 anos.

A nutricionista Maíra Azevedo explica ao Jornal Opção de que forma o consumo desses alimentos pode levar à morte. “Eles irão colaborar com essas mortes através das doenças que são causadas pelo consumo excessivo dos mesmos, como: obesidade, diabetes, hipertensão e câncer. Lembrando que o problema está no consumo excessivo. Em uma alimentação saudável a moderação é o fator chave”, exemplifica.

A especialista apontou que os principais malefícios causados pelo consumo constante de ultraprocessados incluem:

  • Obesidade: Devido ao alto teor de açúcares, gorduras e calorias vazias.
  • Diabetes Tipo 2: A ingestão regular de açúcares refinados pode levar à resistência à insulina.
  • Doenças Cardiovasculares: Alimentos ultraprocessados geralmente contêm altos níveis de gorduras saturadas, sódio e aditivos que podem aumentar o risco de hipertensão, aterosclerose e outras condições cardíacas.
  • Câncer: Alguns estudos sugerem uma associação entre o consumo de ultraprocessados e um risco aumentado de câncer, possivelmente devido a aditivos químicos e métodos de processamento.
  • Problemas Digestivos: A falta de fibras nos ultraprocessados pode causar constipação e outros problemas digestivos.
  • Deficiências Nutricionais: Ultraprocessados são pobres em nutrientes essenciais, o que pode levar a deficiências vitamínicas e minerais.
Nutricionista Maíra Azevedo, pós-graduada em Nutrição Esportiva

Os alimentos ultraprocessados são mais letais do que homicídios, câncer de mama, câncer de próstata e acidentes de trânsito no Brasil. Em 2022, o consumo desses produtos causou 57 mil mortes no país, superando os seguintes números de óbitos anuais:

  • 39.500 homicídios, conforme o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
  • 33.894 mortes no trânsito, segundo dados de 2023 do Ministério da Saúde (SIM – Sistema de Informações de Mortes).
  • 18.139 mortes por câncer de mama em 2021, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer.
  • 16.055 mortes por câncer de próstata em 2021, segundo o SIM.

Ultraprocessados na Reforma Tributária

O Imposto Seletivo, conhecido como “imposto do pecado”, poderia ter aumentado o preço desses alimentos e, assim, reduzido seu consumo. Um estudo do Banco Mundial revelado pelo uol notícias, a ser lançado este ano, sugere que um aumento de 10% no preço dos ultraprocessados no Brasil reduziria seu consumo em 17%, em média.

Além das mortes, os alimentos ultraprocessados sobrecarregam o Sistema Único de Saúde (SUS). O mesmo estudo estima que o sobrepeso e a obesidade custam ao SUS R$ 1,5 bilhão por ano. A pesquisa da USP indica que, se a população reduzir em 50% a ingestão de ultraprocessados, 29,3 mil vidas poderiam ser poupadas anualmente.

A reforma tributária zerou os impostos para 15 alimentos da cesta básica. Entre os produtos com alíquota zero estão farinhas, arroz, leite, manteiga, feijões, raízes, tubérculos, café, entre outros. A lista, no entanto, incluiu a margarina, feita com gordura ultraprocessada. O motivo, segundo o governo federal, é que o alimento faz parte do hábito da população pobre.

O macarrão instantâneo, leite fermentado, requeijão e iogurte terão imposto reduzido em 60%, o mesmo que incidirá sobre alimentos como sal, farinha e cereais.

Como mudar os hábitos

Mudar os hábitos alimentares e reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados pode ser alcançado através de diversas práticas eficazes. Em primeiro lugar, a nutricionista Maíra Azevedo indica a reeducação alimentar. “Aprender sobre os malefícios dos ultraprocessados e os benefícios dos alimentos naturais é essencial para fazer escolhas conscientes. Este processo pode ser facilitado pelo acompanhamento de um nutricionista, que oferece orientação personalizada e educação sobre escolhas alimentares saudáveis”, pontua a especialista.

Outro passo importante é o planejamento de refeições. Planejar as refeições com antecedência ajuda a evitar a necessidade de recorrer a ultraprocessados. Fazer uma lista de refeições para a semana e preparar os ingredientes necessários pode garantir que opções saudáveis estejam sempre disponíveis, minimizando a tentação de optar por conveniência em detrimento da saúde.

Além disso, realizar compras inteligentes é crucial. “Optar por alimentos frescos e naturais ao fazer compras, evitando os corredores que contêm alimentos ultraprocessados, pode fazer uma grande diferença”, completa Maíra Azevedo. Focar em comprar frutas, legumes, carnes magras, grãos integrais e laticínios naturais ajuda a manter uma dieta equilibrada e nutritiva.

Cozinhar em casa também é uma prática que promove uma alimentação mais saudável. Preparar refeições utilizando ingredientes frescos e integrais permite o controle sobre o que é consumido. Cozinhar em casa pode ser uma atividade prazerosa e uma oportunidade de experimentar novas receitas e sabores, contribuindo para a redução do consumo de alimentos ultraprocessados.

Por fim, é importante aprender a ler e interpretar rótulos de alimentos. Preferir alimentos com poucos ingredientes e evitar aqueles que contêm nomes de aditivos e conservantes desconhecidos ajuda a fazer escolhas mais saudáveis. Ao incorporar essas práticas no dia a dia, é possível reduzir significativamente o consumo de alimentos ultraprocessados e promover uma alimentação mais saudável e equilibrada.

*Com informações de Gustavo Soares