Banco do PCC financiou salários de piloto que depôs contra Ciro Nogueira e Rueda
22 setembro 2025 às 09h59

COMPARTILHAR
A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) identificaram que parte do salário do ex-piloto da Táxi Aéreo Piracicaba (TAP), Mauro Caputti Mattosinho, foi paga diretamente pela fintech BK Instituição de Pagamento S.A., conhecida como BK Bank, apontada como peça-chave no esquema de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Em depoimento à PF e em entrevista ao ICL Notícias, Mattosinho afirmou que o presidente do União Brasil, Antônio Rueda, estaria entre os verdadeiros donos de jatos executivos operados pela empresa e relatou ainda ouvir conversas sobre encontros com o senador Ciro Nogueira, presidente nacional do Progressistas.
A descoberta integra a Operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto, que mirou a Faria Lima e revelou um sofisticado esquema financeiro ligado ao crime organizado. Documentos divulgados pelo ICL Notícias mostram que o salário de Mattosinho foi pago diretamente pela fintech durante meses de 2024, totalizando R$ 58,3 mil. Os comprovantes revelam depósitos feitos em abril, maio, junho, julho e agosto, antes de ele deixar a empresa em setembro.
A BK Bank, segundo relatório da PF e do MP-SP, teria sido utilizada de forma recorrente pelo PCC para movimentar recursos de origem ilícita. A instituição servia como canal de ocultação, valendo-se de “contas bolsões” que dificultavam o rastreamento das operações e inibiam os sistemas de prevenção à lavagem de capitais. O banco também estaria conectado a usinas sucroalcooleiras, distribuidoras e fundos de investimento ligados ao grupo.
Mattosinho relatou ao ICL Notícias que, inicialmente, recebia diretamente da fintech. “No começo, tive alguns pagamentos vindos do BK. Depois, o Epaminondas começou a me pagar de contas variadas, de empresas dele. Eu era registrado com salário de R$ 3 mil, R$ 4 mil e o restante era direto na conta”, declarou o piloto, em referência a Epaminondas Chenu Madeira, empresário e piloto que controla a TAP, registrada oficialmente no nome de sua mãe.
Estrutura empresarial e conexões investigadas
Além da TAP, Epaminondas figura como sócio em outras duas companhias do setor: a ATL Airlines e a Aviação Alta. Ambas aparecem como cotistas da Capri Fundo de Investimento em Participações, cujo representante legal é o advogado Rogério Garcia Peres. Documentos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de 2024 listam a gestora Altinvest Gestão e Administração de Recursos de Terceiros, também ligada a Peres, como administradora do fundo Capri.
As investigações apontam que Peres, assim como os empresários Mohamad Hussein Mourad, o “Primo”, e Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”, mantinham conexões financeiras com a BK Bank. O piloto relatou ter transportado “Primo” e “Beto Louco” pelo menos 30 vezes em voos realizados pela TAP, indicando que ambos eram sócios ocultos de Epaminondas na compra de aeronaves.
Na entrevista concedida ao ICL Notícias, Mauro Mattosinho também relatou que durante um dos voos operados pela TAP, transportou uma sacola de papelão que, em sua percepção, continha grande quantia em dinheiro vivo. No mesmo dia, de acordo com o depoimento, Beto Louco comentou com outros passageiros que teria um encontro marcado com o senador Ciro Nogueira.
Pouco antes da divulgação dessa primeira informação, Ciro Nogueira se antecipou e rejeitou qualquer vínculo com o investigado. O senador afirmou não ter “tido proximidade de qualquer espécie” com Beto Louco e negou de forma categórica ter recebido qualquer recurso. Além disso, encaminhou ofício ao ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, solicitando que o caso fosse apurado pelas autoridades competentes.
Para reforçar sua defesa, o parlamentar declarou ter colocado à disposição da Justiça seus sigilos bancário, telefônico e telemático, e ingressou com uma ação contra o ICL Notícias, na qual pede indenização por danos morais.
Em nota, a TAP declarou que “não tinha conhecimento do envolvimento de investigados na Operação Carbono Oculto até sua deflagração” e reforçou que atua “em observância à lei”. A companhia também ressaltou que não pode divulgar informações sobre passageiros sem autorização ou requisição judicial.
A Altinvest e Rogério Peres, por sua vez, negaram qualquer vínculo com a BK Bank ou com atividades ilícitas. “Rogério Garcia Peres possui reputação ilibada e sólida carreira jurídica e no mercado financeiro”, informou a nota. A empresa também frisou que não administra fundos relacionados a aeronaves e que suas atividades são conduzidas em conformidade com as normas da CVM e da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA). Sobre o fundo Capri, a gestora destacou que não possui ingerência sobre sua administração.
Ainda em resposta, a Altinvest afirmou que Peres não é sócio de postos de combustíveis, como mencionado em relatórios, esclarecendo que apenas realizou investimentos em imóveis da BR Distribuidora.
Leia também:
ACM Neto surge como possível substituto após investigação da PF
Rueda dá 24 horas para filiados do União Brasil deixarem cargos no governo Lula
