‘Banco do crime’: PCC movimentou R$ 8 bilhões para bancar campanhas políticas
02 setembro 2024 às 11h14
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Investigações da Polícia de São Paulo (PC-SP) identificaram um plano complexo usado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) para movimentar R$ 8 bilhões, além de financiar campanhas eleitorais. O esquema foi descoberto a partir de uma prisão corriqueira por tráfico de drogas na capital paulista, em 2023.
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O montante, segundo a PC, foi movimentado por meio de um “banco virtual do crime” e por outras 19 empresas. Parte do valor bilionário também foi movimentado por membros da facção criminosa com o intuito de bancar políticos e suas campanhas para as eleições municipais deste ano.
A instituição financeira pertence a João Gabriel Yamawaki, preso durante operação no dia 6 de agosto. O banqueiro é primo de Anderson Manzini, o Gordo, que está detido desde 2002 por roubo a banco, homicídio e extorsão mediante sequestro.
Gordo também é apontado como braço direito de Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, que ganhou notoriedade ao ser expulso da cúpula do PCC por se opor a Marco Herbas William Camacho, o Marcola, em um racha entre as lideranças da facção.
Prisão levou a esquema
Gordo é casado com Fabiana Lopes Manzini, que foi presa em junho 2023, após a polícia apreender 28 quilos de maconha e oito de cocaína em uma casa, na qual ela estava hospedada em Itaquaquecetuba. Quando descobriram o elo de Fabiana com Gordo, a PC solicitou a quebra do sigilo telemático da mulher e teve acesso às mensagens de Whatsapp dela.
O teor revelou os planos do PCC para se infiltrar na política em cidades do litoral paulista, região metropolitana e interior do estado. Em meio à investigação, um banco digital, cujo responsável é João Gabriel, também entrou no radar da polícia.
Vereadores indicados
As investigações mostram que Fabiana mantinha contato com João Gabriel Yamawaki, para que ele indicasse os candidatos que seriam financiados pelo PCC. A mulher assumiu os negócios do marido, desde que ele foi preso, e é apontada pela polícia como membro da maior facção criminosa da América Latina.
Nas trocas de mensagens, João Gabriel fala para Fabiana ver com o Gordo “sobre as campanhas de vereadores”. Ele menciona nomes de parceiros da facção, disponíveis para disputar uma vaga no Legislativo, nas cidades de Ubatuba, no litoral, além de Mogi das Cruzes e Santo André, ambas na região metropolitana de São Paulo.
Além de ser primo de Gordo, o banqueiro foi batizado na facção e seria indicado, como mostram as investigações, para compor a “Sintonia Geral dos Caixas”, setor responsável pela movimentação financeira e operações de câmbio da facção. Ao todo, seis membros do PCC são alvo da investigação, na qual outras 26 pessoas também estariam envolvidas com os negócios do crime organizado.
Quem são os vereadores e suspeitos presos
Três vereadores e mais 10 pessoas foram presas em uma operação conduzida pelo Ministério Público (MP). Entre os detidos estão Ricardo Queixão (PSD), vereador de Cubatão; Flavio Batista de Souza (Podemos), de Ferraz de Vasconcelos; e Luiz Carlos Alves Dias (MDB), de Santa Isabel. De acordo com o MP, os vereadores ficarão presos por cinco dias para preservar as investigações, com a possibilidade de ampliação desse prazo.
Na Baixada Santista, além do vereador Ricardo Queixão, foram presos o advogado Áureo Tupinambá, conhecido por atuar na defesa de André do Rap, um dos chefes do PCC condenado a 25 anos por tráfico internacional, e a servidora pública Fabiana de Abreu Silva. A operação incluiu o cumprimento de 15 mandados de prisão temporária e 42 mandados de busca e apreensão, expedidos pela 5ª Vara Criminal de Guarulhos. O material apreendido foi levado para a sede do MP na capital paulista.