Babá diz ter sido vítima de racismo e humilhação em loja de brinquedos
12 maio 2017 às 11h30

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Noelia Santos relata desconfiança desproporcional e momentos de constrangimentos em shopping de São Paulo

A babá Noelia Santos registrará ainda nesta sexta-feira (12/5) um boletim de ocorrência para que a Polícia Civil do Estado de São Paulo investigue suposto caso de injúria racial sofrido por ela na loja PBKids, no Shopping Eldorado, na capital paulista.
Segundo relato da babá de 48 anos ao jornal Folha de S. Paulo, ela foi abordada por um segurança da loja que pediu que ela informasse onde havia colocado um boneco que tinha retirado da prateleira.
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“Gostei de um boneco de joaninha, que fazia um barulhinho. Peguei e andei com ele pela loja, mas desisti de comprar porque achei caro, R$ 40. Devolvi em uma estante qualquer e fui embora”, disse à reportagem.
Ela disse que ainda ficou na loja por mais meia hora, quando notou que estava sendo “vigiada” pelo segurança. Diante disso, resolveu perguntar a ele onde ficava um produto qualquer, para criar uma “empatia” e “evitar constrangimentos”.
O segurança teria respondido com cordialidade e chamado uma vendedora para atendê-la, mas ainda sentia que havia “algo estranho”. “Aquele olhar, coisas que pessoas negras sempre passam. Para evitar mais um constrangimento na minha vida, tirei o cartão de crédito e fiquei com ele na mão”.
Após sair da loja sem levar nada, o segurança foi procurá-la perguntando onde estava o brinquedo. Ela disse que tinha devolvido à prateleira, mas ficou nervosa com o constrangimento e não conseguiu apontar o exato lugar.
“Liguei para o meu marido em pânico, pedindo ajuda. Estava me sentido humilhada, arrasada. Foi aí que o segurança piorou tudo falando ‘e aí, cade?’. Joguei tudo que havia na minha bolsa no chão e gritei que não era ladra, que aquilo era preconceito.”
Depois de se acalmar, Noelia conseguiu se lembrar onde estava o brinquedo e esclareceu a situação. O segurança e a gerente da loja pediram desculpas, mas a babá moradora do Grajaú na zona sul de São Paulo resolveu não deixar o caso por isso mesmo.
“Não posso ser barrada nos lugares por causa da minha cor, e os negros não podem ficar acuados por irem onde bem entendem. Se a gente não fizer nada, nada muda. Tem preconceito sim. Tem preconceito o tempo todo, em todo lugar.” disse à Folha.
A PBKids é uma das maiores varejistas do ramo de brinquedos. Ao jornal, informou por meio de nota que apura os fatos relatados pela babá. A empresa considera o caso “inusitado” e descarta qualaquer possibilidade de ter havido preconceito racial.
O pronunciamento oficial ressalta ainda que a empresa não tolera qualquer tipo de discriminação em suas lojas “não só racial, mas de gênero, idade e credo” e que adota políticas afirmativas, inclusive com a comercialização de produtos que “evocam a diversidade”.