Autoridade Nacional da Palestina e Hamas se unem contra “acordo do século” de Trump
29 janeiro 2020 às 08h17
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Para o presidente dos Estados Unidos, o plano é uma visão que traz uma situação de ‘ganha-ganha’ para os dois lados
O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, repudiou o plano de paz com Israel apresentado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O chamado “acordo do século” propõe que Jerusalém siga com Israel e reconhece o Estado Palestino, este último com uma série de limitações.
“Rejeitamos este acordo desde o início. Nossa posição era correta quando nos negamos a esperar. Não cederemos”, disse Abbas, ao chamar o plano de Trump de “tapa do século”.
O líder da ANP adiantou que responderá o presidente Donald Trump e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, “com tapas”. Ele também revelou que conversou com o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, e que os dois concordaram em se manter unidos contra o plano de Trump.
Hamas
Nesta terça-feira, 28, o Hamas divulgou uma nota em que convoca uma “luta para acabar com o ‘acordo do século’ e os planos de acabar com a causa palestina”, citando Abdel Rahman Zidan, membro do conselho legislativo palestino.
“É hora de usar todas as opções legais nas cortes internacionais e ativar os esforços diplomáticos no nível árabe e islâmico para acabar com a normalização”. Além disso, pedem que seja anunciado o fim do Acordo de Oslo, que regula o relacionamento entre Israel e palestinos, e da cooperação de segurança com os israelenses.
Repercussão
A ONU, o Egito e a Jordânia adotaram uma posição de cautela diante do anúncio do plano. Tanto as Nações Unidas quanto a Jordânia defenderam as fronteiras de 1967. Para a Jordânia, respeitar estas fronteiras é “a única via para uma paz global e duradoura”.
A União Europeia, por sua vez, reafirmou sua posição firme a favor de “uma solução negociada e viável aos dois Estados”.
Bruxelas “vai estudar e avaliar as propostas avançadas”, afirmou o chefe da diplomacia do bloco, Josep Borrell, em uma declaração feita em nome dos 28 países-membros, na qual pediu para “relançar os esforços dos quais temos necessidade urgente” em vista desta solução negociada.
Para a Alemanha, apenas uma solução “aceitável pelas duas partes” pode “conduzir a uma paz duradoura entre israelenses e palestinos”, reagiu o ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas. “Vamos estudar a proposta de forma intensiva e partiremos do princípio de que todos os parceiros vão fazer o mesmo”, disse Maas em um comunicado.
Entre os aliados dos Estados Unidos, Londres classificou a proposta como “séria” e afirmou que ela “pode representar um avanço positivo”. Já a Rússia defendeu “negociações diretas” entre Israel e palestinos para chegar a um “compromisso mútuo aceitável”.
Na Faixa de Gaza, milhares de pessoas foram às ruas protestar contra o chamado “Acordo do Século”. Líderes de todas as facções palestinas e manifestantes percorreram as ruas da Cidade de Gaza e queimaram bandeiras israelenses e dos EUA, além de um boneco de Trump.
Já na barreira divisória entre Israel e o território de Gaza houve confrontos isolados entre manifestantes e soldados israelenses perto de postos militares na Cisjordânia ocupada. Israel está em alerta diante da possibilidade de protestos, e o Exército do país aumentou nesta terça a presença no Vale do Jordão, uma região de fronteira com a Jordânia.
Acordo
Autoridades palestinas não participaram da elaboração e da apresentação do plano proposto por Donald Trump, e que é de autoria do seu genro, Jared Kushner. Veja os principais pontos da proposta: Jerusalém Oriental será a capital do Estado Palestino; Jerusalém continuará indivisível e capital de Israel; Dobrar o tamanho do território ocupado pelos palestinos; Pacote de ajuda financeira de 50 bilhões de dólares.
O anúncio foi feito ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que foi oficialmente indiciado nesta terça-feira, 28, por acusações de corrupção, e seu rival nas próximas eleições israelenses, Benny Gantz.
“Nosso plano tem 80 páginas e é o acordo mais detalhado já feito”, disse Trump, ao enfatizar que a proposta de acordo é apoiada pelos partidos de Netanyahu e Gantz. Para o presidente dos Estados Unidos, o plano “é uma visão que traz uma situação ‘ganha-ganha’ para os dois lados, uma ‘solução dois Estados’ realista” continuou Trump.
“Fiz muito por Israel”, se vangloriou o americano, “mudamos a embaixada de Tal Aviv para Jerusalém e reconhecemos as colinas de Golã como território israelense. Portanto, é razoável que eu faça muito para os palestinos ou não seria justo. Quero que esse acordo seja ótimo para eles. Hoje é uma oportunidade histórica para que conquistem a sua independência”.
No entanto, analistas observam que o plano de Trump é extremamente benéfico para Israel e duro para a Palestina. Apesar de garantir o reconhecimento do Estado Palestino, as limitações impostas e distribuição de territórios inóspitos para os palestinos acaba por inviabilizar a aceitação da proposta.
A apresentação do plano também pode representar um ganho político para o presidente americano que já se movimenta para tentar a reeleição, e para os líderes israelenses. Mas, apesar de dificilmente prosperar, pode abrir caminho para o diálogo que seguiu adormecido nos últimos anos. (Com informações da Exame)