Orientação sexual é um posicionamento do sujeito em relação ao desejo sexual, ou seja, a pessoa identifica a sua orientação na forma como os seus desejos se manifestam

Cores da bandeira assexual representam a assexualidade, a grayssexualidade, a alossexualidade e a comunidade assexual. Foto: Reprodução.

Em entrevista ao Jornal Opção, o psicólogo Júlio Manoel, que trabalha com demandas relacionadas à sexualidade e desempenho sexual, explicou que a orientação sexual é um posicionamento do sujeito em relação ao desejo sexual, ou seja, a pessoa identifica a sua orientação a partir da forma como os seus desejos se manifestam. Isso implica que não se trata de um processo de escolha consciente, mas sim do reconhecimento de desejos que estão além da vontade consciente. A assexualidade, segundo Manoel, acontece quando a pessoa não identifica em si desejos sexuais.

De acordo com o portal online Asexual Visibility and Education Network (AVEN), que reúne pessoas que se identificam como assexuais, o comportamento erótico “não é necessariamente preto e branco, existe um amplo espectro entre os pontos finais de ‘assexual’ e ‘hipersexual’, com diferentes níveis de sexualidade”.

A ideia de assexualidade foi instigada pelos pesquisadores William H. Masters e Virginia E. Johnson, em 1977. Os dois incluíram a falta de libido como mais uma possibilidade de manifestação sexual do ser humano, que foi invisibilizada por um discurso hegemônico de necessidade de expressões eróticas. 

No entanto, apenas no início do século XXI o movimento assexual ganhou força, com a criação de comunidades de debates na internet.  Em 2001, o estadunidense David Jay, criou a AVEN, que hoje é a maior comunidade assexual do mundo.

A Rede de Visibilidade e Educação Assexuada (AVEN) foi fundada em 2001 com dois objetivos distintos: criar aceitação pública e discussão da assexualidade e facilitar o crescimento de uma comunidade assexual. Desde então, crescemos para hospedar a maior comunidade assexual do mundo, servindo como um recurso informativo para pessoas que são assexuais e questionadoras, seus amigos e familiares, pesquisadores acadêmicos e a imprensa. Os membros da AVEN em todo o mundo participam regularmente de projetos de visibilidade, incluídos, entre outros, na distribuição de panfletos informativos, na realização de workshops, na organização de reuniões locais e na conversa com a imprensa interessada. A comunidade AVEN se concentra no fórum da web, que oferece um espaço seguro para as pessoas assexuadas e interrogadoras e seus parceiros, amigos e famílias discutirem suas experiências (Tradução livre, About Aven)

A bandeira assexual exibe as cores preto, que simboliza a assexualidade, cinza, que expressa a grayssexualidade (pessoas que só sentem atração sexual raramente, de forma específica), branco, que figura a alossexualidade (pessoas sexuais) e roxo, que representa a comunidade assexual.

“Isso deve ter cura”

O auxiliar administrativo Ariel Franz, de 29 anos, se declara assexual. Ele conta que quando se assumiu, sofreu com estigmas. “Me lembro de uma vez quando contei para minha melhor amiga que eu era assexual, ela disse pra eu procurar um médico, porque ‘isso deve ter cura’, mas ela não entendia que eu estava bem dessa maneira e não precisava de nada”.

Julio Manoel afirmou que a psicologia não considera nenhuma orientação sexual como problema psicológico. “A gente não trata a maneira como a pessoa se percebe no mundo. O que nós tratamos enquanto problema são sofrimentos que podem advir de uma dificuldade de ser aceito ou de se colocar dentro grupos sociais diante da identificação ou da dúvida” ressaltou o psicólogo.

Em 2013, Ariel criou um grupo no Facebook intitulado “Assexuais”, com o propósito de reunir as pessoas para trocas de experiências e debates. Hoje o grupo nacional soma mais de 8 mil membros, além de ter se desdobrado em comunidades regionais e outros grupos, como o “Assexuais Também Amam”, que tem a finalidade de promover relacionamento afetivo entre assexuais.

“Me achava uma pessoa muito diferente por não sentir atração sexual como todos ao meu redor sentiam, ficava me perguntando o porquê de eu ser assim. Me descobri assexual assistindo uma entrevista da pesquisadora Elisabete Regina, em que ela falava sobre assexualidade no programa Gabi Quase Proibida, em 2013. Depois disso procurei grupos no Facebook e não encontrei. Daí criei o Assexuais, um grupo para poder nos reunirmos, trocar experiências e não nos sentirmos tão sozinhos nesse mundo hipersexualizado” Ariel Franz, 29 anos.

Ariel também ressalta que ser assexual é diferente de ser arromântico. “Temos os mesmos sentimentos de qualquer outra pessoa de outra orientação sexual, nos apaixonamos, amamos, a diferença é que não há atração sexual, pode até haver, mas em situações específicas. Quando namoramos uma pessoa alossexual, é importante que haja um diálogo sincero entre as partes, para que possam sempre respeitar os limites um do outro”.

Algumas celebridades também são assumidamente assexuais. Entre elas, a cantora Emilie Autumn, o rapper Mike Skinner e a atriz comediante Paula Poundstone. O ex-vocalista de The Smiths, Morrissey, no auge dos anos 80 também se declarava assexual. Recentemente, no reality show Big Brother Brasil, exibido na rede Globo, o integrante Victor Hugo, de 25 anos, revelou que nunca sentiu vontade de fazer sexo com ninguém.