Mesmo após limpeza realizada pela Prefeitura de Goiânia, situação do local é deplorável e revolta familiares

Mayara Carvalho
Fotos: Fernando Leite/ Jornal Opção

Túmulos abertos, ossos expostos, restos de animais utilizados em rituais e lixo. Essa é a cena que familiares vão encontrar no Cemitério Parque, em Goiânia, ao visitar o túmulo de entes queridos durante o feriado de Finados, comemorado no dia 2 de novembro (quinta-feira).

Na capital, a expectativa é de que cerca de 400 mil pessoas compareçam aos quatro cemitérios municipais: o próprio Parque, Vale da Paz, Santana e Jardim da Saudade.

No entanto, o Jornal Opção esteve na tarde desta terça-feira (31/10) para averiguar as condições do Cemitério Parque, o maior cemitério municipal da capital, localizado no setor Urias Magalhães.

Construído há mais de 50 anos, mais de 200 mil pessoas já foram enterradas no local que, há anos, vive uma situação de abandono.

Apesar da Prefeitura de Goiânia, por meio da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), ter feito um “mutirão de limpeza” nos cemitérios em preparação ao Dia de Finados, a situação do local não ficou menos apavorante.

Não são poucos os túmulos abertos, com ossada exposta e mau cheiro. Familiares que faziam a limpeza dos jazigos se disseram indignados com a falta de respeito da gestão do prefeito Iris Rezende (PMDB).

Leandro Sousa, comerciante, fazendo limpeza de jazigo da família | Foto: Fernando Leite

O comerciante Leandro Souza estava no cemitério preparando o túmulo do pai para receber visitas. Ele conta que nesta época do ano é comum a prefeitura fazer uma “maquiagem” e que, no resto do ano, a situação é deplorável. “Aí o mato cresce, os vândalos começam a quebrar para roubar. Aqui não tem segurança, não tem nada”, denuncia.

Emocionado, ele desabafa sobre o sentimento de encontrar o local mal cuidado. “É muito difícil, quando a gente vem e o cemitério sempre está assim. Às vezes até evito vir aqui porque é ainda mais sofrimento”, lamenta.

Todos os anos, Nelgilvam Santos trabalha no Cemitério Parque fazendo limpeza dos jazigos. Para ele, já é comum ver as lápides abertas e ossos expostos: “Tem muita coisa feia aqui. Muita cova aberta, muita galinha morta. Todos os dias eu vejo pessoas fazendo rituais aqui dentro. É tudo aberto, não tem segurança.”

Edmar Gonçalves, aposentado| Foto: Fernando Leite/ Jornal Opção

Decepção foi o que Edmar Gonçalves, aposentado, sentiu. Ele também fazia a limpeza da lápide da família e não se conformava com o túmulo aberto ao lado. “É uma decepção total. A gente espera que na última morada da pessoa, que ela seja bem cuidada, mesmo que seja em memória.  Aí a gente chega aqui e encontra desse jeito. Hoje ainda está arrumadinho, no restante do ano isso aqui é abandonado”, reclama.

Para o aposentado, que há 40 anos visita o cemitério, a manutenção do local deixa muito a desejar. “Eles fizeram um mutirão, estão pintando os muros agora e ainda está desse jeito. É pouco caso, falta atenção com quem tem familiares aqui”, afirma.

Nossa equipe ainda encontrou restos de caixão e ossos queimados na rua do cemitério. Túmulos abertos até com ossadas de cabeça de bode e galinhas queimadas também fazem parte da “decoração” do Cemitério Parque.

Restos de animais utilizados em rituais no cemitério | Foto: Fernando Leite / Jornal Opção

Abandonado

A situação de abandono do Cemitério Parque já foi denunciada diversas vezes pelos vereadores na Câmara Municipal.

Em maio do ano passado, depois de visitar o local, o vereador Elias Vaz (PSB) e o então colega Geovani Antônio (PSDB) entregaram ao coordenador do Centro de Apoio Operacional (CAO) de Direitos Humanos do Ministério Público Estadual, Vinícius Marçal, representação pedindo que fosse apurada a situação do local.

Na época, o vereador disse ter presenciado um total desrespeito a quem foi sepultado no cemitério e aos familiares. “Há casos em que parte da sepultura foi arrancada, inclusive com a retirada de fotos instaladas por familiares dos falecidos. Mas o mais chocante é que há vários túmulos abertos, com ossadas expostas, misturadas às roupas com que as pessoas foram enterradas”, denunciou.

Um ano e meio depois, a situação não mudou absolutamente nada. O prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB) prometeu “colocar a casa em ordem” em seis meses, mas, como provado nas imagens acima, o descaso persiste.

Inclusive, em março deste ano, o vereador Jair Diamantino (PSDC) também cobrou soluções para o cemitério. Segundo ele, desde o mês de janeiro, tinha pedido à Comurg que fizesse a limpeza interna e externa do local, sem sucesso.

Resposta

Por meio de nota, a gestão Iris respondeu apenas que a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas) faz a notificação dos vândalos à Polícia Militar e que o crime é previsto no Código Penal.

Veja:

A Semas informa que casos de jazigos quebrados por vândalos são notificados na polícia através de um boletim de ocorrência. A Semas lembra ainda que violar túmulos é crime previsto no código penal:

* Violar ou profanar sepultura ou urna funerária é crime previsto no Artigo 210 do Código Penal. A pena varia de um a três anos e multa

Assessoria de imprensa da Semas