As limitações para a imparcialidade jornalística

07 outubro 2022 às 21h25

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Tudo é versão. Se uma notícia seleciona alguns aspectos da realidade, nada impede que outras seleções, outros recortes, sejam igualmente válidos. Alguns rejeitam esse relativismo já que em última análise poderia levar à manipulação. Defendem a existência de verdades objetivas. Desse debate surgem duas questões: qualquer recorte da realidade é válido? Haveria alguma verdade objetiva impossível de ser relativizada?
Talvez um conceito mais caro ao jornalismo seja o de transparência, e não o de verdade. Já que é impossível ser imparcial, o jornalista deve à população o compromisso com a verificação dos fatos e isso é transparência. A população sabe que o que está lá escrito por um jornalista pode ser verificado e comprovado depois, em diversas fontes. A noção estrutural de jornalismo, com sua pirâmide invertida, que determina que as informações sejam inseridas levando em consideração o grau de importância (do maior para o menor) é sempre sujeita a juízo de valor.
Apenas recorrendo às próprias percepções é possível definir o grau de importância das coisas. Por exemplo, um jornalista pode considerar que Educação é um tema mais relevante que religião, ou que Meio Ambiente é uma pauta maior que discussões sobre o uso do próprio corpo, e isso está definido à priori. Então, importante ter claro que o texto sempre carrega as metáforas de quem o produz.
Uma interpretação razoável para o jornalismo é de que ele esteja em busca de verdades que sirvam à coletividade – “verdades funcionais”. E, na ausência de sentidos absolutos para a vida, e para a função do jornalista, o compromisso deve ser com a rotina de verificação dos fatos de forma que seja possível testar, verificar e examinar as informações no futuro.