Artista goiano ganha mostra individual, mas não é informado
07 dezembro 2024 às 14h22
COMPARTILHAR
As obras do artista goiano Moacir Soares de Faria foram destaque na terceira edição da Rotas Brasileiras. A exposição, que aconteceu em São Paulo, teve ao menos 44 obras do artista expostas. Moacir, no entanto, não foi informado que sua arte seria exposta no evento organizado pela produtora cultural responsável também pela SP-Arte, a maior feira de arte e design da América do Sul.
Moacir tem um estilo que usa traços e cores fortes extraídos de gizes de cera e lápis coloridos. O artista desenha Deus e o Diabo. Ele também mescla rios, montanhas, animais, flores, frutas, homens e mulheres, sendo essas mulheres estando nuas em poses explícitas. As informações foram apuradas pela Revista Piauí
O artista começou sua jornada aos 7 anos de idade ao usar carvão do forno a lenha da casa dos pais para fazer os primeiros rabiscos. Já aos 20 anos, na década de 80, Moacir impressionava turistas que passavam por sua casa na vila de São Jorge, antessala do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.
Com isso, esses viajantes passaram a presentear o jovem artista com lápis de cor e elogiar suas obras. Moacir, então, passou a cobrar valores inexpressivos ou presenteava os visitantes com seus desenhos.
Uma reportagem da Folha de S.Paulo, publicada antes da abertura da exposição, colocava o artista goiano como personagem principal do evento. Em agosto, já com a exposição aberta, a galeria informou com destaque a participação da galeria na mostra que se chamava “Moacir Soares de Faria – Incomum e Metamórfico”.
O irmão mais novo e empresário de Moacir, Du Morais, contou, à revista Piauí, que ficou sabendo da exposição após o término dela. “Fiquei sabendo hoje de manhã. Uma amiga de São Paulo me contou”, disse Du.
Ao tomar conhecimento da exposição, Du enviou mensagem de WhatsApp à galeria pedindo explicações. “Responderam com áudios dizendo que haviam comprado mais de 120 obras do Moacir e para não me preocupar, porque sabiam preservar os direitos dele. Prometeram fazer uma visita, mas nunca apareceram. Marcaram e desmarcaram”, conta. Dois meses depois desse contato interrompido, a Cerrado abriu a Rotas Brasileiras com os desenhos de Moacir. “E de novo não avisaram a gente. Eu chamo isso de falta de respeito com o artista. É uma postura indecente”, disse.
No Brasil, a Lei de Direitos Autorais determina que o criador originário da obra um percentual de 5% sobre a valorização de cada transação feita, denominado “direito de sequência”. “Entretanto, diferentemente do que acontece na Europa, esse dispositivo não pegou no Brasil, não se tornou prática no mercado secundário de obras de arte em nosso país”, pontua Guilherme Carboni, professor da pós-graduação da Fundação Getulio Vargas Direito SP em entrevista à Piauí.