Jorge Pontes: “O apequenamento que sofremos foi de cabeça pensada” | Rose Brasil
Jorge Pontes: “O apequenamento que sofremos foi de cabeça pensada” | Rose Brasil

Ex-diretor da Interpol, o delegado aposentado Jorge Barbosa Pontes, em artigo publicado em jornal em defesa da Polícia Federal, respondeu a uma fala da presidente Dilma sobre a disposição do governo em investigar escândalos na Petrobrás. Na abertura do artigo Barbosa se dirige a Dilma:

“A presidente Dilma Rousseff diz que são os órgãos de seu governo que estão investigando os escândalos de corrupção da Petrobrás. Tal assertiva desconsidera que a Polícia Federal é uma instituição permanente do Estado brasileiro, transcendendo este ou aquele governo.”

Na frase seguinte o delegado acusa a presidente de manipulação politica. “Trata-se de uma corporação que vem conseguindo bons resultados em razão da abnegação de seus quadros de servidores”, denuncia Barbosa e prossegue:
— O que vem sendo observado, com razoável frequência é o empenho do governo em controlar politicamente as ações da Polícia Judiciária da União. Poderíamos citar algumas dessas medidas, sempre levadas a cabo disfarçadas em “atos de gestão”.

O delegado menciona um decreto assinado por Dilma em 2012 e que impõe à Polícia Federal autorização prévia do Ministério da Justiça à concessão de diárias a servidores em missão. “Com 123 unidades no país, para atender 5.561 municípios, a PF se vê refém do governo federal ao ter suas missões indiretamente monitoradas”, protesta contra o controle de ações quase sempre sigilosas.

Em entrevista no dia seguinte, o delegado Barbosa, acusou o governo de tentar desmontar a PF. “Acho que es­sa desconstrução, esse apequenamento que sofremos foi de cabeça pensada”, suspeitou. “Entre 2004 e 2007, alcançamos andares da criminalidade de uma forma que não estava sendo esperada”, emendou. Sutil­mente, referiu-se à investigação do mensalão durante a reeleição de Lula.

As manifestações de Barbosa coincidiram com o protesto do vice-presidente Michel Temer, na quinta-feira, sobre a suspeita do PMDB de ação manipulada da Polícia Federal para intimidar o candidato do partido a governador do Maranhão, senador Lobão Filho.

Segundo amigos que estavam com Lobão, 10 homens da PF abordaram o grupo, na noite de quarta-feira, no aeroporto de Imperatriz. Com armas em punho, os policiais teriam revistado as pessoas, carros, malas e o avião da campanha. Provavelmente em busca de dinheiro para caixa dois.

Aparentemente sem saber disso, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou na manhã seguinte, em Guarulhos, que, quando a PF investiga aliados do governo, pessoas pensam que o “ministro perdeu o controle da polícia”. Mas, quando os investigados são adversários, creem que “a Polícia Federal está sendo instrumentalizada”.

À tarde, Temer, afirmou que o PMDB repudiava a intimidação. “No Estado democrático de direito é inadmissível que forças policiais sejam instrumentalizadas para atingir candidaturas legitimamente constituídas.”

Detalhe: Cardozo e Temer usaram o raríssimo adjetivo instrumentalizado. É claro que o vice, por ironia, quis repetir o termo do ministro, a quem atingiu.