Arthur Lira bloqueia comissões e impede discussões sobre emendas
15 dezembro 2024 às 19h00
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O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), tomou uma medida surpreendente nesta semana que chamou atenção de muitos parlamentares. Na última terça-feira, 10, durante o Colégio de Líderes, Lira anunciou um esforço concentrado para acelerar a votação de temas importantes, como a Reforma Tributária e o corte de gastos.
No entanto, no dia seguinte, ele decretou a suspensão de todas as reuniões das comissões da Casa por nove dias, até dia 20, citando o “encerramento da sessão legislativa” e a necessidade de votar proposições de “relevante interesse nacional”. A decisão foi vista por muitos como uma forma de concentrar poder nas mãos do presidente da Câmara.
Embora o Regimento Interno da Câmara permita essa medida em casos excepcionais, o congelamento das comissões gerou reações entre os deputados. De acordo com a regra, Lira só poderia ter tomado essa decisão após ouvir o Colégio de Líderes. No entanto, dois parlamentares presentes no encontro disseram que não se lembram de Lira ter mencionado a suspensão das comissões antes de decidir pela medida.
Já o deputado Afonso Motta (PDT-RS) confirmou que o assunto foi abordado, mas de forma informal, sem o devido debate. “Ninguém ficou preocupado. Ele simplesmente disse: ‘Vamos fazer um período assim, assado. Vocês estão de acordo?’ Pronto, ninguém disse nada contra”, explicou Motta.
Apesar das justificativas apresentadas por Lira, a suspensão das comissões foi vista por críticos como uma manobra para centralizar as decisões sobre a distribuição das emendas, especialmente as que são geridas pela Comissão de Integração Nacional. Essa comissão é responsável por decidir sobre a destinação de 1,125 bilhão de reais, parte dos 10,6 bilhões de reais que a Câmara tem disponível para distribuir entre suas 30 comissões permanentes.
Com as comissões suspensas, não há possibilidade de novas deliberações sobre o destino das emendas, o que significa que as destinações previamente acordadas, sob a influência do presidente da Câmara, devem se manter. Isso beneficia especialmente Alagoas, estado de Lira, que pode ver uma quantidade significativa desses recursos sendo direcionada para sua base eleitoral.
José Rocha, deputado do União Brasil da Bahia e presidente da Comissão de Integração Nacional, foi um dos principais críticos da decisão de Lira. Em um discurso na Câmara, ele acusou o presidente da Casa de interferir nas atividades da comissão e comprometer sua independência. “É realmente um ato do atual presidente da Casa que cancela todas as reuniões de comissão com a finalidade de atingir a Comissão de Integração Nacional, a qual presido com muita honra e independência”, declarou Rocha.
Ele também relatou que havia marcado uma reunião para discutir a redistribuição dos recursos da comissão na manhã de quarta-feira, mas a sessão foi interrompida pela convocação de uma ordem do dia pela presidência da Câmara. “Agora somos surpreendidos com esse ato do presidente cancelando todas as atividades para que nós não pudéssemos redistribuir recursos que estão à disposição da comissão”, lamentou o deputado.
A suspensão das comissões é vista por muitos como uma tentativa de Lira de concentrar o poder de decisão sobre as emendas, impedindo que as comissões deliberem sobre a destinação dos recursos. Esse movimento de centralização ocorre em um momento crítico, quando a distribuição dos 10,6 bilhões de reais está sendo debatida nas comissões, e pode afetar diretamente os interesses de vários estados.
Para os opositores de Lira, o congelamento das comissões é um claro indicativo de que o presidente da Câmara está manipulando o processo para beneficiar seu estado de origem, Alagoas, e evitar que a redistribuição das verbas seja discutida de forma aberta.
No entanto, para aliados de Lira, a medida é vista como uma maneira de garantir que a Câmara possa se concentrar em questões prioritárias, como a Reforma Tributária e outras pautas do governo, sem a interrupção das comissões. Além disso, a decisão de suspender as reuniões das comissões também pode ser interpretada como uma tentativa de evitar novos embates políticos, especialmente em um momento em que o Congresso está pressionado a tomar decisões importantes para o país.
As críticas ao ato de Lira não se limitam à oposição, mas também vêm de dentro da própria Casa. A decisão de suspender as comissões tem gerado um clima de insatisfação entre parlamentares que veem na medida uma tentativa de enfraquecer as discussões sobre as emendas e a transparência no processo de distribuição dos recursos. A falta de reuniões nas comissões impede que os deputados revisem e redistribuam as emendas, o que deixa a alocação dos recursos nas mãos do presidente da Câmara, que detém o poder de decidir sozinho sobre essas questões.
Além disso, a medida de Lira gerou uma pressão sobre os parlamentares que, em tempos de crise fiscal, buscam maior controle e transparência nas decisões sobre o uso do orçamento público. A centralização do poder nas mãos de uma única pessoa pode enfraquecer o processo legislativo e dar margem a interpretações sobre a falta de democracia interna no Congresso.
A suspensão das comissões na Câmara dos Deputados coloca Arthur Lira no centro de um debate sobre a concentração de poder e a autonomia das comissões. Embora tenha justificado a medida como uma necessidade para priorizar temas urgentes, como a Reforma Tributária, Lira também dá sinais de que quer controlar o destino das emendas, o que pode ter implicações políticas significativas, especialmente para seu próprio estado, Alagoas. A manobra enfureceu os opositores, que veem nela uma tentativa de manipular a distribuição dos recursos para interesses próprios.
Enquanto a Câmara continua sua rotina legislativa, a medida de Lira deixa claro que o jogo de forças dentro do Congresso está longe de ser resolvido. A suspensão das comissões levanta questões sobre a transparência e a distribuição de poder no Legislativo, e o impacto dessa decisão será sentido por todos os deputados à medida que o processo de alocação de recursos segue seu curso.
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