Aposentadoria em 2026 exige planejamento e pode definir renda por toda a vida
29 dezembro 2025 às 17h48

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A chegada de 2026 deve marcar uma mudança decisiva para milhares de trabalhadores que planejam se aposentar. O avanço das regras de transição da Reforma da Previdência torna o processo mais rígido, altera critérios de acesso e pode impactar diretamente o valor final do benefício. Diante desse cenário, especialistas alertam que a aposentadoria deixou de ser um ato automático e passou a exigir planejamento detalhado e decisões estratégicas.
Tradicionalmente, o fim de ano é o período em que muitos segurados fazem um balanço da vida contributiva e começam a projetar o futuro. Agora, porém, esse movimento ganha contornos mais complexos. A escolha equivocada da regra ou o pedido feito no momento errado pode resultar em perdas mensais definitivas, com reflexos ao longo de toda a aposentadoria.
Segundo o advogado Humberto Tommasi, sócio fundador do escritório Ozon e Tommasi Advogados, o planejamento previdenciário se tornou indispensável. “A cada ano, o segurado avança nas regras de transição, e isso impacta diretamente o cálculo do benefício. Em muitos casos, aguardar alguns meses representa ganho relevante. Por outro lado, antecipar o pedido pode gerar perdas consideráveis, que acompanham o aposentado por toda a vida”, afirmou ao Jornal Opção.
Ele ressalta que não existe mais uma solução padrão. “Não há regra única. Cada pessoa tem uma trajetória contributiva diferente, e cada caso precisa ser analisado individualmente, com simulações e estudo do histórico. A decisão precisa ser técnica, não intuitiva”, pontua.

A complexidade do sistema também ajuda a explicar o aumento na procura por revisões e planejamentos. Outro fator de preocupação é o elevado número de indeferimentos no INSS. “Grande parte dos pedidos negados ocorre por falhas simples, como erros no CNIS ou documentos incompletos. Muitos desses problemas poderiam ser evitados com uma análise prévia adequada”, observa Tommasi.
O advogado previdenciário Marcus Vinicios Cardoso reforça que a principal dúvida de quem está perto de se aposentar não deve ser apenas “quando”, mas “como” se aposentar. “A decisão não é automática; ela é estratégica. O que mais pesa é o valor final do benefício, não apenas a data em que ele começa a ser pago”, explica.
De acordo com ele, regras como a de pontos costumam favorecer quem teve longa carreira contributiva e salários mais estáveis. “Ela permite escapar de idades mínimas mais rígidas e, em alguns casos, alcançar um coeficiente melhor. Já a aposentadoria por idade mais tempo pode ser mais vantajosa para quem já atingiu a idade mínima, mas não soma pontuação suficiente. Em 2026, com regras mais duras, comparar cenários será essencial”, diz.
Cardoso destaca que, na maioria dos casos, a aposentadoria é irreversível. “Hoje não existe mais desaposentação. Um erro no protocolo pode significar perda mensal para o resto da vida. Por isso, a análise individual permite corrigir vínculos, ajustar salários, escolher a melhor regra e até planejar contribuições futuras para elevar o coeficiente”, afirma.
Ele detalha que um check-list básico antes do pedido inclui a conferência minuciosa do CNIS, a correção de vínculos sem registro, o ajuste de salários de contribuição, a análise de todas as regras possíveis, a simulação de valores em cada cenário e a verificação de períodos especiais, rurais ou concomitantes. “Sem isso, o risco de prejuízo é muito alto”, alerta.
Entre os indeferimentos mais comuns, segundo o especialista, estão erros cadastrais, contribuições abaixo do mínimo, vínculos concomitantes mal lançados e escolha equivocada da regra. “O advogado atua de forma preventiva, organizando provas, corrigindo dados e estruturando o pedido tecnicamente. Isso reduz drasticamente as negativas e evita judicialização desnecessária”, afirma.
Para quem mira a aposentadoria em 2026, esperar pode ser uma estratégia vantajosa, mas nem sempre. “Já vi casos em que aguardar seis meses aumentou o benefício em centenas de reais por mês. Mas também há situações em que esperar não compensa. Por isso, a decisão precisa ser matemática e jurídica”, explica Cardoso.
Outro ponto sensível são as contribuições feitas após a Reforma. “Todas as contribuições a partir de julho de 1995 entram na média, inclusive as mais baixas. Quem teve períodos intermitentes ou longos intervalos sem contribuir pode sofrer grande redução no valor. Em alguns casos, complementar contribuições ou revisar salários antigos muda completamente o resultado”, destaca.
Para o advogado, carreiras mistas exigem atenção redobrada. “São as que mais sofrem com erros do INSS. É fundamental revisar contribuições concomitantes, validar períodos especiais e garantir que tudo esteja corretamente lançado. Documentos como carteira de trabalho, carnês, PPPs e recibos precisam estar organizados”, diz.
A expectativa é de que 2026 concentre um dos maiores volumes de pedidos de aposentadoria dos últimos anos. O alerta dos especialistas é direto. “A aposentadoria não pode ser tratada como um simples pedido no INSS. Ela é um projeto financeiro de longo prazo. Quem planeja, escolhe melhor e recebe mais. Quem não planeja, muitas vezes descobre o erro quando já é tarde demais”, concluiu Cardoso.
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