“Um governo que não deu certo” — assim Ronaldo Caiado (UB), governador de Goiás e pré-candidato à Presidência da República, descreveu a administração do presidente Lula da Silva (PT) ao portal Infomoney em entrevista publicada nesta quarta-feira, 4. O líder goiano acusou o governo federal de agir de forma desesperada, apontando o recuo no aumento do IOF como evidência de que o governo federal está “nos últimos estertores”.

Segundo Caiado, o episódio do IOF evidencia o descompasso entre o governo federal e os setores produtivos e legislativos. “Não chamou ninguém para conversar. Não consultou o Congresso, não consultou os empresários”, acusou, ao comentar a proposta inicial de aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras, anunciada pelo governo Lula e posteriormente revista diante da repercussão negativa.

Para o governador, o imposto onera diretamente os brasileiros que mais precisam de crédito, como microempreendedores, pequenos empresários e cidadãos das classes média e baixa.

Ao fazer referência à extinta CPMF, Caiado classificou o IOF como um mecanismo similar de penalização disfarçada: “Você faz um empréstimo bancário, você renova o empréstimo de três em três meses, vem aquela conta do IOF de novo na sua conta. O cidadão que comprou lá a geladeira, um fogão, um liquidificador, aquele custo do IOF já está naquela parcela que ele vai pagar naquele produto”. Para ele, esse tipo de política tributária desestimula o empreendedorismo e sufoca a economia. “Todo mundo vai ter medo de produzir no Brasil”, afirmou.

Além das críticas econômicas, Caiado usou o espaço no InfoMoney para reforçar seu posicionamento político com vistas à sucessão presidencial. O governador foi o primeiro nome da centro-direita a se colocar oficialmente como pré-candidato à Presidência em 2026. Ao justificar a antecipação, ele afirmou que a oposição precisa de tempo para apresentar projetos e percorrer o país.

“Não adianta você querer ser candidato a partir da convenção. A convenção do partido acontece no meio de julho de 2026. Até você registrar a candidatura, você tem 40 dias de campanha. Como é que você vai discutir um assunto ou um projeto ou a sua plataforma principal com 40 dias de uma campanha? O governo tem a máquina de governo, tem o presidente que é candidato à reeleição, então ele está fazendo campanha todo dia. Nós, na oposição, nós precisamos de andar. Nós precisamos de levar aquilo que nós fizemos”, ressaltou o governador de Goiás.

Em uma das declarações da entrevista, Caiado prometeu conceder “anistia ampla e irrestrita” a todos os envolvidos nos atos antidemocráticos de 8 de Janeiro, caso seja eleito presidente. A proposta, segundo ele, visa pacificar o país, à semelhança do que teria feito Juscelino Kubitschek após o golpe que sofreu. “Fizeram o golpe com ele, realmente existiu um golpe, e ele foi lá e falou, olha, deixa eu trabalhar, anistia esse pessoal aí, deixa eu criar Brasília, deixa eu desenvolver o Brasil, deixa eu chegar no centro-oeste brasileiro, deixa eu levar o desenvolvimento para o país.”

A fala remete à figura do ex-presidente Jair Bolsonaro, apontado como um dos líderes dos atos golpistas. Caiado, que foi aliado de Bolsonaro, tenta, ao mesmo tempo, preservar esse eleitorado e se descolar do ex-presidente com uma retórica mais pragmática. Ao ser lembrado de sua divergência com Bolsonaro durante a pandemia, destacou sua postura independente.

“Se teve um ponto de divergência entre eu e Bolsonaro foi no período da pandemia. Naquele momento, eu, como médico que sou, eu entendo muito mais de pandemia do que ele. Fui o primeiro Estado a fazer o decreto de isolamento social”, disse.

Sobre as deportações de goianos promovidas pelo governo de Donald Trump, Caiado minimizou a questão. Para ele, o republicano apenas cumpriu promessas de campanha. “Quem o elegeu foi o povo americano, em cima de um programa dele, de governo. É isso que a gente precisa aprender: o que se fala numa campanha, é o que se faz”, comentou.

Ao abordar a viabilidade do governo Lula em avançar com a pauta econômica até o fim do mandato, Caiado foi categórico: “É um governo que chega aos dois anos e cinco meses e qum não fez até agora, é muito difícil ele fazer alguma coisa. Sabe por quê? Porque o governo transmitiu para a população um sentimento de não ter um projeto para o país e o não cumprimento daquilo que ele afirmou repassar aos seus eleitores.”

Para ele, a gestão atual perdeu a confiança da população ao não cumprir promessas e reviver programas antigos sem efetividade. “Não tem nada pior do que a perda da esperança (…) O terceiro governo do Lula é um governo que não deu certo em nada.”

Caiado também aproveitou para lamentar o não cumprimento de uma promessa feita por Lula aos governadores: “[Lula disse ] “vou atender cada governador com três obras que eles desejarem em seus estados”. A minha obra nunca chegou em Goiás. Nenhuma..”

Ao defender seu nome em relação a outros nomes da centro-direita, como Tarcísio de Freitas (SP), Eduardo Leite (RS) e Ratinho Júnior (PR), o governador goiano evitou ataques diretos, mas fez questão de ressaltar sua gestão bem-sucedida.

“Eu governei meu Estado, um Estado falido, quebrado, bloqueado no Tesouro Nacional, capaz de ser inviabilizado, devendo R$ 6,8 bilhões para credores, para servidores do mês de novembro e dezembro do ano de 2018, colapsados. Hoje é um Estado que tem hoje a liquidez de R$ 15 bilhões em caixa. É um Estado que paga tudo em dia, que fez a reforma administrativa, da Previdência, fez corte de incentivos fiscais e, ao mesmo tempo, teve um controle rígido com o dinheiro arrecadado.”

Com 86% de aprovação, Caiado se apresenta como gestor eficiente e exemplo do que pretende levar ao plano nacional. “Coloquei secretários de altíssimo padrão, respeitei o dinheiro público.”

Por fim, afirmou que, ao contrário de outros políticos, não busca o poder para se reeleger: “Eu já disse, eu só serei candidato com um mandato. O presidente que for ser eleito para cuidar da sua reeleição, não vai tratar da pauta econômica, não vai tratar da pauta administrativa, não vai poder estimular o que se precisa ter hoje da contenção de gastos (…) Elas são simplesmente adiadas e cada vez mais acumulando uma sobrecarga para o contribuinte brasileiro.”

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