Após pedido de equipe, TV edita trecho de entrevista de Milei sobre escândalo de criptomoeda; assista

18 fevereiro 2025 às 16h17

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Uma entrevista com o presidente da Argentina, Javier Milei, sobre o escândalo de criptomoedas, que foi batizado de ‘criptogate’ ofuscou o tema central da discussão. No trecho da conversa, que foi cortado a pedido de assessores do presidente, Milei fazia uma espécie de prestação de contas.
Durante a entrevista, um assessor do presidente interrompe e reclama de uma pergunta. O momento não foi exibido na TV mas foi divulgado no YouTube do canal Todo Noticias, e posteriormente apagado.
A exclusão da plataforma de vídeos, no entanto, não foi o suficiente, já que o trecho viralizou nas redes sociais, sendo abordado pela oposição e por jornais argentinos.
Essa foi a primeira entrevista de Miliei após o escândalo da criptomoeda $Libra, que foi divulgada por ele em sua conta oficial do X. A moeda registrou um grande aumento e, logo depois, colapsou. O presidente argentino foi acusado de fraude na Justiça, e já há um pedido de impeachment.
Ao ser questionado sobre possíveis implicações jurídicas, Milei diz que que não cuida desses temas. “Seria imprudente da minha parte falar sobre. Quem mais entende é o nosso ministro da Justiça, Mariano Cúneo Libarona”, diz.
O entrevistador afirma que Milei participou da divulgação da $Libra como cidadão e como presidente. Milei diz: “É bom que você destaque que tuitei como um cidadão, porque compartilhei na minha conta pessoal [no X]”. O jornalista, então, insiste: “Está bem, mas o senhor é o presidente.”
Criptomoeda
O presidente da Argentina, Javier Milei, gerou controvérsia e agora pode ser alvo de uma investigação após promover, em suas redes sociais, a criptomoeda $Libra. O lançamento, feito por Milei em seu perfil no X na sexta-feira, 14, fez a moeda digital alcançar um valor bilionário em poucas horas, mas seu preço derreteu de forma drástica logo em seguida, levantando suspeitas de manipulação e possível fraude.
Milei anunciou que o projeto da $Libra visava impulsionar a economia argentina, principalmente por meio de investimentos em pequenas empresas e startups locais, e incentivava seus seguidores a investirem. A reação foi imediata: em questão de minutos, o valor da criptomoeda disparou, mas logo depois entrou em colapso. Em menos de uma hora, a moeda perdeu mais de $87 milhões de seu valor de mercado, culminando em uma queda quase total.
Reações
O episódio gerou uma enxurrada de críticas de economistas, especialistas em criptomoedas e políticos da oposição, que questionaram a idoneidade do projeto e sugeriram que o presidente pode ter influenciado o mercado de maneira indevida. Frente à repercussão negativa, Milei apagou a postagem e se retratou.
“Algumas horas atrás, postei um tweet apoiando uma empresa privada da qual obviamente não tenho ligação. Não estava ciente dos detalhes do projeto e, ao tomar conhecimento, decidi não continuar a divulgá-lo”, escreveu o presidente, tentando se distanciar do caso.
A ex-presidente Cristina Kirchner não poupou palavras e atacou diretamente o presidente: “Olha onde você nos trouxe com sua loucura! Você transformou a Argentina em um cassino, e o dealer é o próprio presidente. Sua liberdade de mercado é a do cassino. Sua máscara caiu”, afirmou Kirchner, criticando a postura de Milei. Maximiliano Ferraro, deputado da Coalizão Cívica, também se manifestou, chamando o caso de uma “manobra especulativa” e pedindo a criação de uma comissão parlamentar para investigar o caso.
Suspeitas de manipulação
Especialistas apontaram que o episódio se encaixa em uma prática conhecida no mercado financeiro como “puxada de tapete” (rug pull), um golpe comum em criptomoedas, onde os criadores do ativo manipulam seu valor para lucrar enquanto outros investidores perdem dinheiro. Antes de Milei divulgar a $Libra, a maior parte da moeda estava nas mãos de um grupo restrito.
Após o lançamento, a criptomoeda teve uma valorização expressiva, mas logo os donos iniciais começaram a vender suas participações, causando o desmoronamento do valor e deixando investidores que entraram posteriormente com grandes prejuízos.
“Milhares confiaram em você [Milei], compraram por um preço alto e, em questão de horas, perderam milhões, enquanto alguns fizeram fortunas com informações privilegiadas”, escreveu Kirchner em sua conta no X, criticando a ação do presidente e levantando suspeitas sobre seu envolvimento com aqueles que lucrou com a queda da moeda.
O caso está longe de ser resolvido. Com as crescentes críticas e a pressão pública, a possibilidade de uma investigação no Congresso argentino segue em aberto, e o episódio levanta questões sobre a transparência e as práticas de políticos com relação ao mercado financeiro e a manipulação de ativos digitais.
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