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Em números brutos, o Sudeste foi responsável pela maior quantidade de votos para Dilma. Foram 20.931.961 daquela região, contra 20.175.484 do Nordeste. Ressalte-se ainda que a presidente obteve a maioria dos votos em MG e RJ

Nada como uma disputa eleitoral acirrada para despertar o lado mais obscuro de algumas pessoas. Assim como aconteceu após o primeiro turno, não tardou para que paulistanos e sulistas (principalmente) começassem o show de agressões aos habitantes do Nordeste, “culpando-os” pela vitória de Dilma Rousseff (PT) no segundo turno do pleito deste ano com 51% dos votos válidos no país.

Mensagens como “Parabéns ao povo do Nordeste que vota no PT e depois vai pra SP governado pelo PSDB buscar uma vida melhor! Povo hipócrita!”; “Namoral, Nordeste mais uma vez atrasando o país..”, “Esses nordestino fdp tem que morrer na seca mermo, povo escroto, mamando na teta do governo, td ignorante fdp” e “Agora eu entendo quando o povo fala que nordestino é burro não é preconceito é pura realidade Brasil mais quatro anos na merda…” são exemplos da atmosfera que tomou conta das redes sociais desde a noite de ontem.

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De fato, como mostra o portal UOL em matéria publicada nesta segunda-feira (27/10), estas eleições se configuraram como aquela em que, pela primeira vez, o PT obteve proporcionalmente mais votos no Nordeste que no Sudeste. Em eleições passadas, de 2010 (Dilma x José Serra) e de 2006 (Lula x Alckmin), por exemplo, o Sudeste sozinho poderia ter sido responsável pelas eleições dos petistas, independentemente dos votos de nordestinos.

Em 2014, 37% dos eleitores de Dilma vieram daquela região, o que equivale a cerca de 20,2 milhões de eleitores. Em 2010 e 2006 os porcentuais foram de 33%. Já a participação dos eleitores do Sudeste nas eleições de Dilma e Lula caiu de 42% em 2006 para 40% em 2010 e 36% neste ano — apenas 1% a menos, portanto, que o Nordeste.

Ainda assim, em números brutos, o Sudeste foi responsável pela maior quantidade de votos para Dilma. Foram 20.931.961 daquela região, contra 20.175.484 do Nordeste. Ressalte-se ainda que a presidente obteve a maioria dos votos em Minas Gerais (terra de Aécio Neves) e no Rio de Janeiro. Inclusive, tais Estados poderiam ter determinado as eleições a favor do tucano.

Exatamente para desmistificar tais questões e tentar amenizar os episódios de xenofobia que recaíram sobre os nordestinos, o economista Thomas Conti fez questão de elaborar um infográfico (confira abaixo) demonstrando que, ao invés de um país dividido em azul e vermelho, o Brasil se tornou um gigantesco roxo na contagem de votos entre PT e PSDB.

mapa

O Centro-Oeste, literalmente no meio de nortistas e sulistas, ainda que tenha dado vitória a Aécio em cada um de seus três Estados, também revela uma forte divisão entre eleitores do PT e do PSDB. Na região, as porcentagens de votos para o tucano foram de 55% no Mato Grosso, 56% no Mato Grosso do Sul e 57% em Goiás.

Questões numéricas à parte, é lamentável que tantas pessoas se apropriem do momento eleitoral para desferir palavras de ódio naquilo que pode ser considerado um “não saber perder” que beira a infantilidade. A democracia garante — e tem entre os seus preceitos — a equidade no peso de votos de todos os cidadãos, sejam eles brancos, negros, indígenas, nordestinos, sulistas, paulistanos, cariocas, palmeirenses ou corintianos.

O respeito à opinião daquele que, assim como qualquer outro, votou naquele(a) que acredita ser a melhor opção para o seu país, também se configura como um pré-requisito para a convivência democrática. Se uns querem se mostrar mais politizados que outros, que demonstrem por meio de suas atitudes. Afinal, a democracia é feita do embate entre ideias opostas, e pouca coisa se mostra menos nociva para o futuro do país que atitudes intolerantes e intransigentes contra os que pensam diferente.

Aqueles que se depararem com comentários discriminatórios podem se reportar ao Ministério Público Federal e ao site da ONG SaferNet baseando-se no art. 20 da Lei nº 7.716/89 da Constituição. Em 2010, a estudante de direito Mayara Petruso foi condenada a um ano e cinco meses de prisão por uma postagem ofensiva no Twitter. “Nordestisto [sic] não é gente. Faça um favor a SP: mate um nordestino afogado”, publicou. A pena dela foi convertida em prestação de serviços para a comunidade.

Confira alguns dos tweets divulgados na rede após as eleições deste domingo:

https://twitter.com/camilarobert1/status/526503147490263042

https://twitter.com/edward_farina/status/526504857235390464

https://twitter.com/_NataliaLins_/status/526519713598550016

https://twitter.com/pedroiarossi/status/526499312029954048