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Os níveis de demolição em Gaza variam de acordo com a localização. Khan Younis, por exemplo, foi pulverizada para exterminar as Brigadas de Khan Younis, o grupamento mais bem treinado e perigoso do Hamas. No norte do território, em Rafah, a demolição, absoluta, de vilarejos e cidades inteiras deu lugar a um longo corredor estratégico por onde passam veículos militares, tanques de guerra e soldados quando entram no enclave. Depois de quase dois anos do massacre perpetrado pelo grupo terrorista palestino Hamas, no sul de Israel, o Exército israelense justifica a presença de todo esse aparato com o propósito de evitar novas baixas — o número de militares mortos em ação já passa de mil. No entanto, soldados e civis continuam morrendo em meio ao apocalipse que atende pelo nome: Faixa de Gaza.

Na semana passada, a mídia israelense divulgou que o exército está pavimentando uma nova estrada que atravessa Khan Younis e que já foi batizada o “Caminho de Oz” ou “ Poderoso Escudo”. O objetivo é neutralizar a Brigada de Khan Younis, o grupamento de elite do Hamas, que Israel garante ter eliminado quase todos comandantes. Para abrir a “ estrada de Oz” os militares estão demolindo centenas de prédios em ruínas que um dia funcionavam como residência para milhares de palestinos.

Enquanto túneis são descobertos e terroristas do Hamas eliminados, a campanha militar dá sinal que não há mais objetivos reais a serem alcançados. Em vários trechos do território palestino, a presença de terroristas ou de civis é inexistente. O que há é apenas uma silenciosa desolação, consequência inevitável do conflito.

O silêncio agora, diariamente, é quebrado pelo barulho ensurdecedor de tratores e escavadeiras, demolindo todas as ruínas que encontram pela frente sem uma estratégia articulada — a não ser que o objetivo seja prevenir o retorno de civis palestinos para estas áreas. Apesar de todo trabalho sem precedentes de engenharia em campo, nenhum refém israelense foi localizado ou libertado, e o Hamas não foi desmantelado. Parece haver uma confluência entre a destruição de bairros inteiros e o colapso militar e político do grupo terrorista.

Apoiadores do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, ainda acreditam que Israel está a um passo da vitória na Faixa de Gaza pela “enésima” vez. O conflito ganhou um roteiro único que vem perdendo força dentro e fora do círculo militar: um bairro é pulverizado com bombardeios ininterruptos, cidades são pesadamente atingidas e “líderes” do Hamas são eliminados. Esses, na verdade, são nomes desconhecidos tanto dos israelenses quanto das efetivas lideranças do Hamas no exterior, de onde a Organização é realmente comandada. 

Os israelenses já se perguntam: qual é o objetivo da continuidade desse conflito? Por que o governo se recusa a um acordo que possa trazer os reféns que ainda estão em Gaza?

Ao vencedor, as batatas

Enquanto isso, o número de soldados mortos em combate só aumenta, assim como o de militares traumatizados, como os que preferem tirar a própria vida ao voltar para casa em função do que viram ou vivenciaram. A cada dia, aumenta o número de pais e mães que, desacreditados, questionam o governo israelense. Para que seus filhos e filhas estão sendo enviados à Gaza? O que, de fato, estão combatendo?

Alguém acredita que os líderes que ainda restam do Hamas vão sair dos túneis onde estão escondidos acenando bandeira branca? O Hamas não vai se render e está disposto a sacrificar toda população civil palestina em nome do terrorismo. Para o Hamas, a morte de civis, principalmente mulheres e crianças, aprofunda o ressentimento internacional contra Israel e reforça a narrativa global. Sob as ruínas de Gaza, o Hamas já deu início à sua regeneração. É nos escombros que uma nova geração de terroristas está em formação.

Não há como encerrar a guerra sem a participação diplomática do mundo árabe e da Autoridade Palestina para remover o Hamas do poder em Gaza. Essa possível resolução é conhecida por Israel, mas ainda é incerto se este é o objetivo de Netanyahu. Caso ele permita que o grupo possa se entrincheirar novamente, o Primeiro Ministro não só perde a guerra como abre o caminho para um novo 07 de Outubro. Ao final, a vitória será do Hamas.