Empresa do bolsonarista Luciano Hang divulgou acordo com o atual bicampeão brasileiro para estampar sua logo nas mangas da camisa; valor do contrato é de R$ 6,5 milhões. No Twitter, #ForaHavan foi um dos assuntos mais comentados

Algum desavisado que tenha acessado o Twitter no fim da tarde e na noite desta segunda-feira, 10, e tenha visto a hashtag #ForaHavan pode ter pensado que seria algum protesto engajado contra alguma atitude do empresário Luciano Hang, dono da rede de lojas de departamentos e por isso mais conhecido como “Veio da Havan”.

Sempre envolvido em polêmicas políticas por seu apoio incondicional e militante ao presidente Jair Bolsonaro – de quem ocupou a garupa em uma moto durante uma inauguração de ponte em Rondônia, na sexta-feira, 7 –, Hang tem tido também posições bastante contestáveis em relação às medidas sanitárias durante a pandemia.

O bilionário não hesita em desafiar as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e promove aglomerações a cada inauguração de nova unidade da Havan em todo o País, causando risco de contaminação a empregados e consumidores. Nem a perda da mãe, Regina Hang, para a Covid-19, em fevereiro – depois de ele próprio ter sido internado com a doença –, mudou suas atitudes. 

Quem pensou que havia engajamento contra a empresa e seu dono acertou. Mas, desta vez, o motivo ia um pouco além: o alvo maior do protesto virtual era o Clube de Regatas Flamengo. 

É que o atual bicampeão brasileiro vai receber R$ 6,5 milhões até o fim do ano para estampar a marca da Havan nas mangas da camisa rubro-negra. 

O acordo foi anunciado no perfil oficial da loja tanto no Instagram como no Twitter.

No Instagram, curiosamente, havia uma quase unanimidade de comentários positivos, embora bem breves. O pugilista Esquiva Falcão, flamenguista fanático, comemorou com emojis de aplausos.

No perfil da Havan no Twitter, porém, a reação foi bem dividida, com prevalência de críticas. O humorista Leandro Ramos, conhecido pelo personagem Julinho da Van, do Choque de Cultura, foi bem duro no protesto:

Outro humorista, Antônio Tabet, conhecido por seu trabalho no Porta dos Fundos e também flamenguista, lamentou:

E teve também jogador rubro-negro se envolvendo na polêmica. O lateral Filipe Luis, catarinense nascido em Jaraguá do Sul, respondeu ao anúncio da Havan (também de Santa Catarina) dando boas-vindas à empresa com um tom orgulhoso. As reações ao comentário do atleta foram em grande parte de decepção e surpresa – muitos acreditavam que o craque fosse “esquerdista”:

Curiosamente, o Flamengo não divulgou a nova parceria nem no Twitter nem no Instagram. Mas o perfil tuiteiro do clube deu uma espécie de spoiler combinado com o da loja. E ambos receberam uma resposta bem azeda e direta do professor e sociólogo rubro-negro Celso Rocha de Barros:

A polêmica pode significar o segundo grande desgaste à imagem institucional do clube em menos de dois anos: o primeiro foi a forma com que o clube lidou com as indenizações às famílias dos garotos mortos no incêndio do alojamento do Ninho do Urubu, em 2019.

A estratégia de investir no marketing do futebol não é nova para a Havan. A empresa de Luciano Hang já patrocinou e patrocina vários clubes do futebol brasileiro, entre eles Vasco da Gama, Athletico Paranaense, Chapecoense, todos da Série A brasileira, e Brusque (SC), que subiu para a Série este ano. A loja também tem placas de publicidade nos estádios.