Enquanto construtora anuncia o empreendimento como “o futuro maior parque da capital”, gestão Iris faz vistas grossas e não dá qualquer previsão

Anunciado há mais de dois anos, o Parque do Cerrado, localizado no Parque Lozandes, na região Sul da capital, tinha a promessa de ser um dos maiores parques do País, não apenas pelo tamanho — para se ter uma ideia, o local destinado ocupa uma área oito vezes superior à do Vaca Brava —, mas também pela concepção participativa, que mesclava opções de lazer e serviços a atrações naturais, esportivas e culturais.

A previsão era que o espaço fosse entregue à população em um prazo de cinco anos. Depois de quase metade deste tempo, no entanto, registros do terreno localizado ao lado do Paço Municipal mostram que nada avançou desde então.

Promessa de campanha do prefeito Iris Rezende (PMDB), a atual gestão estabeleceu como meta entregar 25 parques ainda neste mandato, mas ainda não se sabe se o do Cerrado integrará a lista.

Guilherme Takeda, arquiteto responsável pelo projeto do Parque do Cerrado | Reprodução/Facebook

O primeiro empecilho está no próprio projeto original, assinado pelo renomado arquiteto e paisagista Guilherme Takeda, referência no Brasil neste tipo de trabalho, e que contou, à época, com o acompanhamento da equipe técnica da Agência Municipal do Meio Ambiente (Amma).

Conforme a Associação Amigos do Parque do Cerrado, criada em 2015 para acompanhar e vistoriar a execução da obra, a atual gestão municipal considerou como “inviável” o projeto original. Um dos principais motivos apresentados seria que, do jeito que está, a obra seria executada sem levar em conta a vegetação nativa.

“O principal fator é que existem várias árvores que não podem ser retiradas. Por ser um projeto que já tem um certo tempo é normal que algumas árvores na região já tenham crescido”, explica Neilton Pedro Chaves, conhecido por Marruco, um dos integrantes da associação.

Agora, o grupo deve se reunir nas próximas semanas para tentar readequar o projeto. Ao menos foi o que ficou acertado durante reunião com técnicos da Amma na última semana. A intenção é apresentar a nova proposta durante workshop com a presença de moradores da região Leste, no próximo dia 2 de agosto. “Os recursos para as obras não foram discutidos na reunião, mesmo porque é um projeto colaborativo”, adiantou Marruco.

Em entrevista recente, o presidente da Amma, Gilberto Marques Neto, comentou o assunto e disse que “sabe que alguns empresários têm interesse na construção do parque e que a prefeitura estuda sua viabilidade”. “A prefeitura tem o compromisso de construir em torno de 25 parques. Nós temos mais de 200 locais que podem ser feitos parques em Goiânia e somente o prefeito pode definir quais locais serão esses”, completou.

Procurada pelo Jornal Opção, a Prefeitura de Goiânia optou por não responder os questionamentos da reportagem quanto à construção do parque, ou do aporte de recursos para tanto.

Investimentos

Parque é anunciado em página da construtora Euroamérica na internet | Reprodução

O projeto original do Parque do Cerrado apresentava estimativa de R$ 100 milhões em investimentos e seria executado pela Prefeitura de Goiânia por meio de Parcerias Público-Privadas, além da colaboração de outros entes federativos, como o governo de Goiás, que chegou a garantir recursos para construção de pelo menos um oitavo da obra.

Outro parceiro anunciado à época foi a construtora Euroamérica, proprietária de edifícios residenciais na região. Além de doar o projeto arquitetônico, a empresa ficou responsável por doar insumos para a execução do projeto, que acabou não avançando.

No endereço eletrônico da construtora, entretanto, um anúncio do Parque do Cerrado é destaque logo na página de entrada e dá como certa a construção do que define como “o futuro maior parque de Goiânia”.

Em nota enviada ao Jornal Opção, a Euroamérica se restringiu a repetir que fez a doação do projeto arquitetônico “com base nas diretrizes ditadas em conjunto com a população, associações de bairros vizinhos a região, profissionais da área ambiental, de arquitetura e órgãos da prefeitura”. “Toda a concepção do parque foi norteada em encontros públicos, resultantes de um processo democrático que espelharam o real desejo da comunidade”, diz o comunicado.

Sobre o aporte financeiro anunciado à época, a assessoria de comunicação da construtora informou que a possibilidade foi de fato levantada em 2015, mas que, com o engavetamento do projeto pela prefeitura, as negociações consequentemente cessaram.

O parque

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O Parque do Cerrado foi criado pela Lei nº 9.360/2013 para ser o maior de Goiânia, com 706 mil metros quadrados, área que corresponde ao tamanho de oito parques Vaca Brava ou cinco parques Flamboyant. Segundo dados da Agência Municipal de Meio Ambiente (Amma), trata-se da segunda maior unidade de conservação da capital, perdendo apenas para o Jardim Botânico.

O projeto original prevê divisão de oito setores e mais de 60 diferentes atrações, incluindo um teleférico, cinema ao ar livre, quadras para prática de esporte, ciclovias, área para food trucks, lago, mirante, além de uma passarela suspensa para interligação com o Centro Cultural Oscar Niemeyer.

Também era prevista a construção de um anfiteatro feito com materiais recicláveis, pontos de internet sem fio, pista de skate, playgrounds, paredes de escalada, entre outras atrações. À época da divulgação do parque, o arquiteto responsável pelo projeto Guilherme Takeda disse que a proposta foi pensada de forma colaborativa e chegou a falar que iria trabalhar para que o projeto fosse “construído e mantido dessa forma”.