Antenor: o fotógrafo amador mais popular do Brasil

21 junho 2018 às 17h00

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“O fotógrafo tem sempre que estar atento. Se tem dez fotógrafos juntos para cobrir um evento, eu nunca estou entre eles, porque o meu objetivo é buscar outro ângulo”, diz
Francisco Barros
Especial para o Jornal Opção
Hobby, todos sabem, é uma palavra inglesa que significa “passatempo preferido”. Tem gente que leva essa atividade tão a sério que chega a confundi-la com profissão. É o caso do gaúcho de Gravataí, Antenor Tatsch Júnior. Desde os 13 anos, por influência do falecido pai, que era jornalista, Júnior (como é mais conhecido no seu Estado natal), começou a fotografar, para o semanário Correio Dinâmico, da cidade de Alvorada. Mas sempre de forma amadora. Com 16 anos, iniciou-se numa profissão que ele considera similar: impressor gráfico. “Porque também trabalha com cores”, explica.
Mesmo atuando em outras áreas, nunca abandou o hobby da fotografia. Mas foi a partir de 2006, quando as filhas ingressaram no CTG (Centro de Tradições Gaúchas), que a atividade ganhou impulso. “Ao me verem fotografar, as pessoas começaram a pedir para que eu também fizesse registros para elas”, comenta. Ele foi ganhando cada vez mais gosto pela cultura gaúcha. Tanto que, pouco depois, em 2008, começou a clicar a tradicional Cavalgada do Mar. Ela já se encontra na 34ª. Edição e figura no Livro dos Recordes (Guiness Book) como o maior evento cultural de cavalarianos do mundo.
As fotos que fez para a Cavalgada estamparam as primeiras páginas dos principais jornais do Estado do Rio Grande do Sul, como Zero Hora, Correio do Povo e O Sul. Nesse mesmo ano, Júnior foi convidado para ser o fotógrafo oficial e o divulgador da Cavalgada. No final de 2008 veio o primeiro reconhecimento importante: a Brasil Telecom escolheu uma foto sua para ilustrar um cartão telefônico, cuja tiragem foi de 450 mil exemplares. Na sequência, foi novamente convidado, também pela Brasil Telecom, para fazer a sua 1ª. Exposição Fotográfica, tendo como temática, óbvio: a Cavalgada do Mar.
Em função da boa acolhida desse trabalho, em 2011 recebeu outro convite para a sua primeira exposição fora do Rio Grande: no Rio de Janeiro, intitulada “Outros Olhares do Pampa Gaúcho”. Na sequência, nesse mesmo ano, a exposição percorreu as seguintes capitais: Belo Horizonte (MG), Campo Grande (MS), Brasília (DF), Goiânia (GO); e, ainda, duas cidades mineiras: Uberlândia e Juiz de Fora. Em 2012, Júnior continuou a maratona de Exposições, mas agora com uma temática mais ampla: divulgar os eventos tradicionais do Rio Grande do Sul. E percorreu Brasília, Uberlândia, Belo Horizonte e Goiânia.
Antenor não esconde o orgulho de ter recebido, em 2013, uma homenagem em Brasília, no gabinete do então Ministro dos Esportes, Aldo Rebelo. O político havia participado, na época em que era deputado federal, da Cavalgada do Mar, quando foi fotografado por Júnior. Tornaram-se amigos. Quando expôs em Brasília, Aldo foi visita-lo. Ao receber a homenagem, Antenor presenteou o ministro com um quadro de fotografias. Mas ele faz questão de ressaltar: “Nunca abusei, nem tirei vantagem, do convívio das pessoas importantes com as quais me relacionei”.
Júnior comenta, sem falsa modéstia, que hoje é uma personalidade pública reconhecida no Rio Grande do Sul devido ao seu hobby com a fotografia. E ele revela um dado que deve deixar espantado até fotógrafos profissionais: o seu acervo é estimado em mais de 2 milhões de fotos. E como armazena tudo isso? “De uma forma até um pouco convencional: em DVDs. As imagens são em alta resolução. Tenho por volta de 1 mil DVDs”, explica. Outro feito que considera importante: foi o primeiro civil a fazer uma exposição no Comando Geral da Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, em 2011.
Antenor guarda consigo uma certeza: “Na fotografia é preciso ter sorte”. E um segredo profissional, na sua condição de autodidata: “O fotógrafo tem sempre que estar atento. Se tem dez fotógrafos juntos para cobrir um evento, eu nunca estou entre eles, porque o meu objetivo é buscar um ângulo diferente do deles”. E ele, ainda, acrescenta sem ressentimentos: “A fotografia, financeiramente, não me deu retorno. Eu não cobro pelas fotos que faço. Mas, por outro lado, não posso reclamar que o meu trabalho sempre foi muito bem aceito e foi bem reconhecido”, argumenta.
Para cuidar do sustento, seu e da família, ele deu uma pequena pausa na fotografia nos anos de 2015 e 2016. Mas em 2017 foi convidado pela direção da Fenasul (Feira de Tradições Gaúchas) para uma nova exposição fotográfica itinerante, outra vez em diversas cidades do país: Belo Horizonte, Uberlândia, Goiânia, Campo Grande, Cuiabá, Santos, Ribeirão Preto e Campinas. Esta nova exposição foi denominada: “Eu sou do Sul. É só Olhar para Ver”, título homônimo de uma famosa música regional do Rio Grande do Sul, interpretada pelo grupo Os Serranos.
A fotografia, como foi evidenciado, é sua paixão. E ela já lhe trouxe muitas alegrias. E algumas poucas tristezas. Uma delas o marcou muito e profundamente. Ele fala pouco sobre o assunto: aconteceu num rodeio em que ele fotografava. Um garoto sofreu queda de uma montaria e morreu. Júnior registrou o milésimo de segundo que antecedeu a morte desse guri. Nunca mostrou para ninguém a foto. Só a entrega para os pais. Recusou convites para publicá-la. Não quis publicidade. Não quis dinheiro. A ética falou mais alto. E a solidariedade com a família do garoto. “Até arrepio quando falo desse assunto”, conta.
O que faz Antenor com a fotografia está calcado em três eixos: difundir a cultura tradicional gaúcha, traduzir visualmente as belezas do seu Estado e alcançar a dimensão estética para o seu trabalho. Para isso é necessário buscar um olhar diferenciado, calcado em enquadramentos inusitados e numa visão artística da realidade que o cerca. Ele atua como uma espécie de adido cultural ou embaixador do Rio Grande do Sul, só que sem as benesses do cargo. Agora mesmo está negociando a sua primeira exposição internacional em Sacramento, na Califórnia (EUA).
Ele não arrisca a fazer as contas de quantas pessoas já viram suas exposições fotográficas. Teria sido meio milhão? “É possível que seja até um pouco mais, mas não ouso chutar um número”, argumenta. Assim é o fotógrafo amador Antenor Tatsch Júnior: falante, baixinho, humilde. Mas, possivelmente, existe uma definição melhor para este sulista: alguém que carrega, no peito e no olhar, o amor pela cultura e pelas tradições gauchescas. Onde elas estiverem lá estará ele, captando instantâneos inusitados, que fazem a alegria de todo fotógrafo. Amador ou não.