O cérebro não é capaz, em muitos casos, de separar o que é real do que é imaginário, levando o corpo a reagir da mesma forma desde o prazer de uma lembrança agradável à paralisia de imaginar um futuro assombrado

“Será só imaginação? Será que nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer?” (Descubra o autor)

Ainda que o cenário das discussões não saia da areia movediça da política, dos espantos acerca da corrupção alheia, da perplexidade perante a desonestidade e da desilusão quanto à brasilidade, que tal uma reflexão sobre o efeito colateral disso tudo?

Desânimo com as instituições ou desânimo de nós mesmos? Como admitir que no meio de tanta desestruturação política estejamos nós? É impossível não olhar pra frente e ficar imaginando como será o futuro.

Nós nos angustiamos diante do preço da gasolina, que mais parece um brinquedo de massacrar o salário, o aumento do custo de frutas e verduras, arroz e feijão, carne… Meios materiais reais, concretos, densos, que traduzem a sobrevivência. O medo de não consumir, nesse caso, apavora. A raiva e revolta contra aqueles que podiam fazer algo e não fazem só vêm aumentando.

O sentimento do perigo real é o mesmo que é gerado quando imaginamos que em 2017 ou 2018 não teremos comida? Ou teremos que vender o carro porque não vamos dar conta de pagar gasolina?

Um gráfico bem elucidativo
Um gráfico bem elucidativo

A figura de ilustração do texto, retirada do livro “As bases biológicas do comportamento”, do professor Marcos Brandão, traz uma ideia imediata que pode ser entendida claramente. Algumas sensações são codificadas em partes inferiores ao córtex cerebral estando “posicionadas” em áreas mais profundas – e, por que não dizer?, mais “primitivas” – do sistema nervoso. Confiram onde está o pânico, a raiva e o medo. Esses estados psíquicos são fortes e vitais, não necessariamente aprendidos.

Veja que a ansiedade se posiciona em áreas mais atuais, onde se processa a associação entre as diversas áreas. Aqui podemos especular o que é estresse e o que é ansiedade. Neste nível, estão associados planos mentais e estratégias de sobrevivência concreta a situações emocionais e a imaginação, capazes de criar contextos antecipatórios.

Esse é o ponto. A ansiedade é comum no homem como em outros bichos? Algum outro bicho antecipa o que pretende viver ou não para algo além de um dia? Horas? Minutos? Agora? Qual a diferença entre o perigo real e o mesmo perigo quando imaginado?

Você que está aí “sem” ansiedade poderia se estressar (fuga e luta) se uma onça entrasse no recinto em que se encontra? (nesse caso, você não é amigo da onça, ao contrário de muitos de nossos representantes políticos)

Entendo que a ansiedade e o estresse possam ser considerados como a mesma coisa e não acho que valha a pena separá-los, mas a reflexão de tais sentimentos nos leva a aterrissar em nossa condição complexa de enxergar e atribuir valores ao que estamos passando.

Qual a verdadeira crise, a que estamos vivendo ou a que estamos criando a partir do que a própria mídia nos martela a cada momento? Longe de dizer que ela não seja real, mas como ela poderia se tornar mais forte e possível na medida em que todos admitem que ela parte de nós, mesmo sabendo que a maior parte vem da corrupção e má administração pública?

Existem riquezas, existe produtividade, todo mundo acorda cedo para trabalhar, cria contas pensando em pagar, sonha que a violência pode acabar e que a honestidade, como uma heroína, possa um dia reinar. Esse é o nosso paradoxo, o que sentimos e o que somos levados a sentir, simples assim!

Eu me arriscaria a dizer que estresse e ansiedade se misturam. O primeiro, imediato e responsivo; o segundo, importante e complementar, mas que, sem controle, mata, aniquila corpo e alma como uma árvore que seca sem água.

Nessa mistura, podemos concluir que o tão infalível cérebro não é capaz, em muitos casos, de separar o que é real do que é imaginário, levando o corpo a reagir da mesma forma. Isso vale desde o prazer de uma lembrança agradável até a paralisia de imaginar um futuro assombrado.

Detalhe: a imaginação pode ser treinada.

“Nos perderemos entre monstros da nossa própria criação. Serão noites inteiras. Talvez por medo da escuridão, ficaremos acordados imaginando alguma solução para que esse nosso egoísmo não destrua nosso coração” (Descubra o autor de novo).