Anselmo Pereira anuncia mudanças na Câmara e avisa: “Paulo Garcia vai ter que aprender a ouvir”

12 dezembro 2014 às 15h43

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Tucano quer reformular relação com o Paço. Para tanto, vai fortalecer o Poder Legislativo, exigindo mais abertura da prefeitura: “estamos roucos de ouvir”

Um dia após ser eleito presidente da Câmara de Vereadores de Goiânia, o tucano Anselmo Pereira dá o tom da gestão para os próximos dois anos. A falta de diálogo entre o Paço Municipal e os parlamentares está na mira do novo dirigente da Casa. E a exigência é que a comunicação seja estabelecida com a base, o Bloco Moderado e a oposição.
Para cumprir a tarefa, conforme adiantou ao Jornal Opção Online em entrevista nesta sexta-feira (12/12), nada melhor do que Olavo Noleto, chefe de gabinete do prefeito Paulo Garcia (PT). E atributos ele tem, pois era chefe de Assuntos Federativos da Presidência da República. O ex-auxiliar de Dilma Rousseff foi procurado pela reportagem, mas estava em viagem para São Paulo.
“E se quiser conversar, vai ter que ouvir”, alertou Anselmo. O novo comandante da Casa chegou a citar Osmar Magalhães, secretário do Governo, mas alegou que o auxiliar deve estar cheio de outras atribuições que não sejam as de articulação entre as duas esferas. O último a cumprir a função foi o falecido Darcy Accorsi (PT), à frente da extinta Secretaria do Legislativo.
E os dois lados sentem falta da presença de um articulador que tenha livre acesso ao plenário e aos corredores da prefeitura. Anselmo sente-se no dever reabrir os caminhos entre os Poder Legislativo e Executivo. Principalmente por ter uma mesa diretora eclética para os próximos dois anos, como PMDB, PT, PRB e PSL. “Cabe a mim fazer o exercício da aproximação junto a prefeitura, em sinal de respeito”, disse, se referindo à composição formada para o pleito.
A intenção é facilitar a aprovação de matérias de interesse da cidade que acabem por auxiliar a gestão de obras e recursos da capital. Paulo Garcia terá de mostrar jogo de cintura, pois a as comissões de Constituição, Justiça e Redação (CCJ) e a Mista devem ser comandadas por oposicionistas Thiago Albernaz (PSDB) e Elias Vaz (PSB), conforme adiantado na manhã da última quinta (11).
Parceria

No entanto, Anselmo já deu o recado: não quer prejudicar a gestão petista, mas sim ajudá-la a ser bem sucedida. Para isso, apontará as falhas e, também, soluções para as mesmas. “Não vamos usá-las para praticar a política do quanto pior, melhor”, resumiu.
Para isso, o decano da Casa, com oito mandatos no currículo, a prefeitura tem que exercitar a prática da atenção. A ausência da palavra no dicionário do prefeito Paulo Garcia é reclamada pelos vereadores desde o segundo semestre de 2013. “Ganhamos a mesa porque estamos roucos de ouvir. Precisamos de conversação absoluta”, frisou. Tal comportamento do prefeito foi percebido nas prestações de contas dos quadrimestres.
O petista se mostra azedo a pergunta de vereadores e jornalistas ou não repassa dados, transferindo a responsabilidade para algum secretário. O presidente eleito garantiu que vai exigir a presença dele no cronograma correto, bem como explicações detalhadas de todas os gastos da prefeitura. “Só não consigo uma fórmula mágica para melhorar o humor do administrador, mas, se for preciso pão de queijo, cafezinho… Vou oferecer tudo para que possamos ter um encontro agradável”, explicou.
O novo presidente quer indicar o cargo de controlador-geral um técnico do Tribunal de Contas do Município para evitar erros em sua gestão, além de querer adiantar a aprovação das contas públicas antecipadamente.
Fiscalização
Outro diferencial adiantado por Anselmo foi que a Câmara não irá devolver, pelo menos em sua gestão, nem um centavo do duodécimo à Prefeitura de Goiânia. “Porque precisamos de equipamentos a partir de 2015 para que tenhamos aproximação eficiente com o povo”, argumentou.
O recurso será usado para a implementação de serviços de comunicação, como uma agência de notícias da Casa, a Câmara Itinerante e a criação das Câmaras Metropolitanas — que ficarão responsáveis de tratar assuntos que envolvam saúde, mobilidade urbana e educação –, por exemplo.
O dinheiro também pode ser destinado às obras de ampliação do prédio, realização de concurso público e a compra, ou locação, de nova frota de veículos. “A maioria dos gabinetes tem internet paga pelos próprios vereadores. Isso é impossível no século XXI”.
Anselmo garantiu, ainda, que não é função do Poder Legislativo “avisar” o prefeito de que há problemas na gestão dele. “Nós vereadores somos encarregados de legislar. Fiscalizar é uma função secundária. Porém, a Casa vai, sim, parar sua função para cobrar os serviços mínimos que a prefeitura não oferecer à população”, assegurou.

Ao final, o presidente eleito reiterou: “se eu tiver que ir à prefeitura 20 vezes, eu vou. Quero ajudar o prefeito Paulo Garcia”. Ao ser questionado sobre o porquê de tantos problemas na administração atual, o tucano arremata: “ele tem bons secretários… Acho que falta foco na gestão. Vamos ajudá-lo nessa mudança de comportamento”.