A recente ameaça do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa adicional de 10% a países alinhados ao Brics (bloco econômico formado por 11 países) gerou reações no grupo, mas longe de causar tensão, fortaleceu a união e o compromisso dos membros com a independência econômica.

A avaliação é do embaixador Celso Amorim, assessor internacional do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista ao jornal O Globo, Amorim afirmou que a fala de Trump “não afeta em nada” o Brics.

Pelo contrário, segundo ele, “reforça a disposição de seus membros e parceiros associados de traçar nosso caminho e buscar mais independência”. De acordo com fontes do governo brasileiro, não há qualquer intenção de responder com hostilidade às declarações de Trump.

A estratégia, conforme relatos de bastidores, é manter um tom conciliador e reforçar a imagem de um “Brics paz e amor”. Nos discursos oficiais realizados na manhã desta segunda-feira, 7, durante a cúpula do Brics no Rio de Janeiro, as ameaças de tarifas por parte dos EUA sequer foram mencionadas.

As discussões se concentraram em temas centrais como mudanças climáticas e saúde global, que terão declarações conjuntas dos países participantes. Ainda assim, diplomatas reconhecem que as ameaças americanas deram mais visibilidade ao encontro e ao papel crescente do Brics no cenário internacional.

Amorim: “Brics está fazendo a agenda do mundo”

Para Celso Amorim, o Brics se consolida como força geopolítica global. “Os dirigentes dos principais organismos internacionais estão aqui no Rio. O secretário-geral da ONU, da Organização Mundial do Comércio e da Organização Mundial da Saúde. O Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura e o NDB (Novo Banco de Desenvolvimento) acabarão tomando o lugar do FMI e do Banco Mundial”, declarou.

Entre os países-membros, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, também se posicionou sobre as ameaças de Trump. Ele destacou que a força do Brics está na convergência de valores e na visão comum de cooperação baseada nos próprios interesses nacionais.

A China, por sua vez, reiterou sua oposição ao protecionismo econômico. “Guerras comerciais e tarifárias não têm vencedores. O protecionismo não é o caminho a seguir”, declarou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning.

O presidente Lula, segundo sua equipe, só deve comentar diretamente a ameaça de Trump se for questionado por jornalistas durante a coletiva de encerramento da cúpula. Ainda assim, a orientação é de manter o tom diplomático e evitar qualquer acirramento com os Estados Unidos.

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