Deputados recém-eleitos já anunciam interesse em disputar prefeituras pelo interior e devem transferir título. Prática é comum na história brasileira e pode ser tentativa se manter “vivo” no Poder

Joaquim Roriz, ex-governador do DF, e José Sarney, ex-governador do Maranhã - ambos mudaram domicílio eleitoral e foram se aventurar em outros estados | Fotos: divulgação / Fotos Públicas
Joaquim Roriz, ex-governador do DF, e José Sarney, ex-governador do Maranhã – ambos mudaram domicílio eleitoral e foram se aventurar em outros estados | Fotos: divulgação / Fotos Públicas

A exportação em Goiás vai muito além da soja ou carne. O Estado possui políticos espalhados pelo País afora: são prefeitos, governadores, senadores… Uma série de políticos que deixaram sua terra natal para conseguir viabilização em outras unidades da federação.

A busca pelo poder gera uma onda de “políticos paraquedistas”, que não estabelecem sua base em um local específico, mas vão conforme as possibilidades identificadas. Fato não exclusivo de nosso Estado.

Talvez o melhor exemplo para ilustrar tal afirmação seja o ex-presidente José Sarney (PMDB). O político nasceu no Maranhão, foi  promovido politicamente no local, tendo sido deputado federal, governador e senador. Mas em 1990, com a negativa do PMDB em liberar legenda para que se candidatasse ao Senado, o peemedebista foi ao Amapá pleitear o cargo — e foi eleito não apenas uma vez, mas três.

Marcelo Miranda / Foto: Fernando Leite/ Jornal Opção
Marcelo Miranda / Foto: Fernando Leite/ Jornal Opção

Em Goiás, a própria história deu uma “ajudinha” a esses políticos. Com as duas divisões do Estado — em 1960, dando origem à Brasília; e em 1988, ao Tocantins –, várias figuras políticas foram alçar novos voos nos dois locais.

O goianiense Marcelo Miranda (PMDB), eleito governador do Tocantins pela terceira vez em 2014, não se encaixa no grupo, já que foi para o novo Estado no Norte sem nunca ter disputado cargo eletivo aqui. A diferença é justamente esta: Miranda firmou suas bases em Tocantins.

Por outro lado, o ex-governador do Distrito Federal, Joaquim Domingos Roriz (PRTB), nascido em Luziânia, exerceu vários mandatos em Goiás: foi vereador em sua cidade natal, deputado estadual e federal Goiás, e vice-governador de Henrique Santillo. Depois de ser nomeado como governador de DF em 1988, pelo então presidente Sarney, Roriz não saiu mais de lá.

Sobre “políticos paraquedistas”, o professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) da área de Ciência Políticas Pedro Célio Alves Borges explica que, no Brasil, os casos são quase sempre prejudiciais, considerando que “a instituição federativa fica fragilizada”. Ao ressaltar que alguns casos podem ser benéficos, o professor cita Juscelino Kubitschek, que representou Goiás no Senado. “Existem alguns exemplos que diferenciam do que geralmente ocorre, claro. O ex-presidente trouxe bons frutos para Goiás, e a região”, pondera.

O cientista político explica que não sabe dizer de forma clara o que significa esta migração política, relatando que políticos que não estabelecem uma base eleitoral fixa, se beneficiam das fragilidades da legislação eleitoral. “Não sei como a legislação pode evitar isso, além de estabelecer um tempo mínimo de domicilio eleitoral. Um tempo para criar vinculo, para criar uma nova base”, pontuou.

Dança dos municípios

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José Nelto / Foto: Fernando Leite/ Jornal Opção

Claro que as mudanças de domicílio eleitoral não ficam restritas a apenas o cenário “interestadual”. A verdade é que a mudança de cidade para cidade é muito mais comum.

Recentemente, já se ventilam nomes de várias figuras políticas — alguns deles deputados estaduais recém-eleitos — que “sonham” com prefeituras.

O peemedebista José Nelto, eleito para uma cadeira na Assembleia Legislativa após oito anos sem mandato, possui colégio eleitoral em Goiânia. Mas já pensa na prefeitura da longínqua Águas Lindas de Goiás, no Entorno do DF. “Político foi feito para trabalhar. Se hoje é deputado e amanhã aparecer oportunidade de ser prefeito, é normal sair do cargo”, explicou ele ao Jornal Opção Online.

O deputado garante que possui negócios imobiliários na cidade e garante que a ideia de disputar a prefeitura de Águas Lindas foi um convite de lideranças do próprio município — convite este que veio de um grupo liderado pela candidata a deputada estadual derrotada Maria Celeste (PMDB).

A peemedebista relatou ao Jornal Opção Online que a cidade não possui uma liderança política que se destaque, e que José Nelto possui negócios na cidade, e está sempre lá. “Eu vejo uma inexperiência na gestão de Águas Lindas”, elencou Celeste.

E José Nelto está interessado mesmo no município. Já esteve lá cinco vezes depois das eleições. De acordo com ele, para ver “as demandas da cidade” e “lutar por elas” na Casa Legislativa.

Com o colégio eleitoral em Goiânia, Nelto afirma que poderia tentar a Prefeitura de Goiânia, se seu nome fosse colocado pelo partido como possibilidade. “Olha, se for viável, se conseguir unir a oposição, eu não rejeito desafio”, disse – algo, entretanto, fora de cogitação, pelo que se vê no cenário político do PMDB.

Misael Oliveira / Foto: Fernando Leite/ Jornal Opção
Misael Oliveira / Foto: Fernando Leite/ Jornal Opção

O prefeito de Senador Canedo, Misael Oliveira (PDT), é um dos políticos que encontrou seu lugar fora de “casa”. O integrante do PDT saiu de Goiânia para atuar em Senador Canedo, onde é prefeito desde 2012.

Antes da atuação na cidade, Misael foi vereador em Goiânia por quatro vezes, sendo que seu primeiro pleito vitorioso foi em 1992. Dez anos depois, Misael se candidatou a deputado estadual. Em sua reeleição obteve votação expressiva em Senador Canedo, onde obteve o apoio do ex-prefeito Senador Canedo e padrinho político na cidade, Vanderlan Cardoso (PSB).

Em entrevista ao Jornal Opção Online, Misael explicou que sempre teve nome em Goiânia e em Senador Canedo, principalmente após sua candidatura a deputado estadual pela segunda vez, em 2006, quando obteve o apoio de Vanderlan. “No final das contas, sou mais canedense do que goianiense. Vez por outra que eu venho para Goiânia”, apontou.

Outros goianos “exportados”

Kátia Abreu deixará a presidência da CNA | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção
 Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

A senadora pelo Tocantins, Kátia Abreu (PMDB), é outro exemplo de que não há divisa estadual para os políticos. A goianiense, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), já foi deputada federal por Tocantins de 2000 até quando foi eleita senadora, em 2006. Reeleita este ano pela terceira vez ao cargo de senadora, a peemedebista foi indicada ao Ministério da Agricultura para o próximo governo da presidente Dilma Rousseff (PT).

E a lista segue. O primeiro governador de Rondônia, Jerônimo Garcia de Santana, nasceu de Jataí, e depois de exercer o cargo na gestão de Rondônia, não saiu mais do Estado.

Assim como Confúcio Moura (PMDB), atual governador de Rondônia, que sempre disputou cargos no Estado, já tendo sido prefeito em um município de Rondônia, além de deputado federal e governador. O político nasceu em Dianópolis, que com a divisão de Goiás ficou no território do Tocantins.

O atual governador de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho Júnior (PP), é da cidade de Rio Verde, sendo que exerceu também quatro mandatos como deputado estadual em Minas, desde 1994.

No Distrito Federal, a ex-governadora Maria de Lourdes Abadia (PSDB) é natural de Bela Vista de Goiás, e além do cargo como gestora estadual, foi também deputada distrital e federal no DF.

No Tocantins, Sandoval Cardoso (SD), que foi deputado estadual além de ter assumido o governo do Estado; e Carlos Henrique Amorim (PMDB), o Gaguim, que também já foi governador do Tocantins, são goianos, sendo Sandoval goianiense, e Gaguim natural de Ceres.