As estudantes Maria Tereza Santos Pereira e Gabrielly Pereira Fonseca, do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Goiás (UFG), venceram a 1ª edição do Prêmio Mônica Menezes Campos, iniciativa do Ministério das Relações Exteriores (MRE) que valoriza a produção intelectual de pesquisadores negros na área de política externa. O reconhecimento, inédito para o Estado, marca a entrada da UFG no circuito nacional de pesquisas estratégicas e reforça a busca do Itamaraty por maior diversidade racial e geográfica em sua agenda institucional.

Criado em 2024, o Prêmio Mônica Menezes Campos é uma ação estratégica do Ministério das Relações Exteriores para fortalecer a inclusão e a equidade racial na produção de conhecimento sobre diplomacia e relações internacionais. A iniciativa surgiu no contexto das comemorações do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra e tem como objetivo integrar o debate racial ao centro da política externa brasileira.

Dividido em duas categorias — Estudantes de Graduação ou graduados e Pesquisadores com mestrado ou doutorado — o prêmio exige autodeclaração étnico-racial, documentação acadêmica e apresentação de artigo inédito. Os trabalhos vencedores são publicados na revista Cadernos de Política Exterior, editada pelo Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), da FUNAG, garantindo circulação entre diplomatas, pesquisadores e formuladores de política pública de alto nível.

A conquista das alunas da UFG tem impacto político e institucional que vai além do mérito acadêmico. Tradicionalmente, a produção intelectual ligada ao Itamaraty e aos estudos de política externa se concentra nos grandes centros — especialmente São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

O reconhecimento a um trabalho produzido em Goiânia rompe essa hegemonia e reforça a relevância das universidades federais do Centro-Oeste na formulação de pensamento estratégico. Para a UFG, trata-se de um argumento sólido pelo fortalecimento do curso de Relações Internacionais e pela ampliação do apoio institucional à pesquisa.

“É uma forma da gente competir com grandes programas de pós-graduação e mostrar que meninas goianas também sabem fazer ciência e produzir conhecimento,” afirma Gabrielly Pereira Fonseca ao Jornal Opção.

Artigo analisa discursos de Geraldo Alckmin e Marina Silva na COP 29

O artigo vencedor analisou os discursos do vice-presidente Geraldo Alckmin e da ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, durante a COP realizada no último ano. A pesquisa investigou se e como os representantes brasileiros incorporaram, em suas falas, questões relacionadas às desigualdades de gênero e raça — especialmente a situação de mulheres negras, apontadas em estudos recentes como o grupo mais afetado pelos efeitos das mudanças climáticas.

Segundo Gabrielly, a análise de discurso revelou ausência completa dessas pautas.

“O vice-presidente menciona desigualdade social apenas de forma genérica, sem aprofundar recortes de raça e gênero. Já a ministra, apesar de ser uma mulher negra, não faz referência aos dados que mostram que mulheres negras são as mais impactadas pela crise climática”, explica a pesquisadora.

A conclusão do estudo é que há invisibilidade estrutural das mulheres negras na formulação da agenda ambiental brasileira, mesmo quando figuras de destaque ocupam posições estratégicas no governo.

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