Em maio do ano passado, a Operação de Fiscalização e Remoção (ERO) de Boston, Massachusetts, anunciou a prisão de um homem de 50 anos, procurado pela Justiça brasileira, com ligações ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Esse caso chamou a atenção das autoridades em Brasília, uma vez que o PCC, facção criminosa brasileira, vem expandindo sua influência para além das fronteiras nacionais.

Desde 2022, órgãos de inteligência detectaram um aumento de membros de escalão inferior do PCC, conhecidos como “soldados”, entrando ilegalmente nos Estados Unidos. As autoridades americanas e brasileiras confirmam que dezenas de indivíduos associados à facção liderada por Marcola foram interceptados, como o caso do homem preso em Boston, que havia entrado no país ilegalmente apenas dois meses antes.

Embora a presença do PCC em solo americano ocorresse de forma pontual, principalmente para fugir da Justiça ou realizar contrabando de armas, a Polícia Federal brasileira já identificou a presença da facção em 26 países. Estima-se que o PCC tenha cerca de 40 mil membros, e dados apontam que familiares de grandes traficantes ligados à facção estão investindo em imóveis de luxo nos EUA, especialmente em Miami.

Segundo apuração da Folha de S. Paulo, a cooperação entre as polícias brasileira e americana vem se intensificando, com informações compartilhadas para ajudar na identificação de membros do PCC, inclusive por meio de tatuagens. Massachusetts e Pensilvânia, com suas grandes comunidades brasileiras, têm sido destinos frequentes para esses membros.

As operações da ERO resultaram na prisão e deportação de vários brasileiros com antecedentes criminais, incluindo Adinan de Souza Fontoura, capturado em agosto de 2024. “Ele demonstrou propensão a cometer ações violentas e representou uma ameaça aos moradores de Massachusetts. Agora, ele retornará ao seu país de origem para enfrentar a justiça lá”, disse o diretor do escritório de campo do ERO em Boston, Todd M. Lyons, em um comunicado oficial.

As prisões de imigrantes com histórico criminal nos EUA subiram de 46.396 em 2022 para 73.822 em 2023. A atividade do PCC nos Estados Unidos ganhou destaque em 2019, quando 14 suspeitos, associados ao chamado Primeiro Comando de Massachusetts (PCM), foram presos.

“Gangues violentas que proliferam a violência são um flagelo em nossas comunidades”, disse, em comunicado à época, o procurador Andrew E. Lelling.

“Nos últimos meses, membros e associados do Primeiro Comando de Massachusetts têm cometido crimes graves e violentos: roubando descaradamente empresas da comunidade, traficando drogas, traficando armas de fogo ilegais e até sequestrando uma jovem. Não ficaremos parados e permitiremos que esses criminosos perturbem a segurança e a paz de nossas comunidades.”

Em 2021, o presidente Joe Biden reforçou sanções contra o tráfico de drogas, incluindo o PCC na lista de organizações alvo. “O PCC opera em toda a América do Sul, e suas operações alcançam os Estados Unidos, Europa, África e Ásia”, diz nota do governo americano à época.

Em 2024, o governo Biden bloqueou bens de Diego Macedo Gonçalves do Carmo, conhecido como Bhrama, acusado de lavar cerca de R$ 1,2 bilhão para o PCC. Mesmo dentro da prisão, Carmo supostamente continua ativo na facção.

“Com uma extensa rede em toda a América Latina e uma presença global em expansão, o PCC representa uma das organizações de tráfico de drogas mais importantes e preocupantes da região”, disse o subsecretário do Tesouro para o Terrorismo e a Inteligência Financeira dos EUA, Brian E. Nelson.

Apesar dos esforços do PCC, especialistas, como o procurador Marcio Sergio Christino, acreditam que será difícil para a facção se consolidar nos EUA devido à longa existência de grupos criminosos locais. “Quem chega de fora, não chega pisando firme. O que os caras vão fazer lá? Eles fogem pra lá com o dinheiro. Lavam o dinheiro lá, porque é negócio até para as máfias americanas lavarem o dinheiro, porque cobram. Se eles chegarem lá e forem, por exemplo, traficar, vão encontrar uma oposição de todos aqueles que já estão ali”, afirmou ele à Folha.

No entanto, a expansão do crime organizado brasileiro continua a ser uma preocupação crescente para as autoridades internacionais. “Os europeus estão preocupados conosco, os Estados Unidos, a América do Norte, o mundo todo está preocupado com a América Latina, porque todos sabemos que a criminalidade organizada aqui é hoje uma realidade”, declarou em evento em São Paulo.

A reportagem da Folha afirmou que procurou órgãos americanos, como o Serviço de Controle de Fronteira e o Serviço de Imigração e Controle de Alfândega dos Estados Unidos, mas não recebeu resposta até a publicação.

Leia também: