Além da bíblia: pastores goianos revelam livros que mais gostam
13 dezembro 2025 às 08h06

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Mesmo tendo a Bíblia como referência central de fé e formação espiritual, pastores de diferentes denominações também recorrem à filosofia, à literatura clássica e às obras regionais para ampliar o olhar sobre o ser humano e a sociedade.
Entre os títulos mais recomendados, destacam-se livros que abordam superação, ética, política e identidade cultural, leituras que, segundo eles, ajudam a compreender melhor a vida além dos limites religiosos.
Em entrevista ao Jornal Opção, o pastor Giovani Ribeiro, da Assembleia de Deus – Ministério Fama, falou sobre três obras que considera fundamentais para ampliar a visão sobre a vida, a política e a condição humana.
Embora a Bíblia seja sua principal referência espiritual, ele destacou livros de filosofia, literatura mundial e produção regional goiana como essenciais para quem busca reflexão e autoconhecimento.
Logo no início da conversa, o pastor explicou que suas indicações partem de leituras que o marcaram profundamente. “Primeiramente, um livro que eu gosto muito é Assim Falava Zaratustra, do Nietzsche”, afirmou. Para ele, a obra do filósofo alemão é “de vital importância para o pensamento humano”.

Giovani ressalta a combinação entre poesia e filosofia presente na escrita do autor. “Nietzsche, além de filósofo, também era poeta. O livro é escrito em forma de aforismos, sentenças breves e poéticas, que tratam da superação do ser humano”, explicou.
Segundo ele, um dos conceitos mais belos da obra é o da superação contínua. “Para Nietzsche, o ser humano precisa se superar a cada dia para que possa viver melhor”, avaliou. A segunda indicação é um clássico da literatura política.
“Outro livro que eu também indicaria é A Revolução dos Bichos, do George Orwell”, disse. O pastor destaca que o autor evidencia os riscos dos extremismos. “O sistema político precisa viver sempre debaixo de equilíbrio. Não podemos ser nem extremamente radicais para um lado nem para o outro”, apontou.

Ele observa que a narrativa sobre os animais que conquistam a liberdade, mas acabam reproduzindo opressões, serve como alerta. “O livro mostra que aqueles que se tornaram livres de repente estavam andando sobre os outros animais. O que eu indico na obra é justamente a lição do equilíbrio, sobretudo na vida política”, completou.
A terceira escolha do pastor é um título goiano. “Um livro que eu gosto muito é Ermos e Gerais, de Bernardo Élis”, afirmou. Ele lembra que o autor é o único escritor de Goiás que integrou a Academia Brasileira de Letras.

Para Giovani, a obra se destaca pela crítica social presente nos contos. “Bernardo Élis critica todos os tipos de discriminação: do idoso, do negro, do pobre. É um livro muito interessante”, explicou. Além da crítica, ele ressalta o regionalismo forte que marca a escrita do autor.
“Ele usa um linguajar totalmente goiano, fala da nossa goianidade, do Cerrado, da fauna e da flora de Goiás. Mesmo ao fazer crítica social, não deixa de explorar com muita vivacidade a nossa identidade”, afirmou.

O cuidado emocional, a profundidade espiritual e a disciplina da mente têm sido temas cada vez mais presentes no cotidiano pastoral. É nesse contexto que o pastor João Queiroz, da Igreja Batista Renascer, elenca cinco livros que considera fundamentais para quem busca autoconhecimento, maturidade espiritual e equilíbrio diante dos desafios da vida.
Em entrevista ao Jornal Opção, ele detalha por que cada uma dessas obras o acompanha e inspira seu ministério. A primeira obra citada pelo pastor, Emoções Mortais, de Dr. Don Colbert, trata da relação entre saúde emocional e espiritualidade sob uma perspectiva clínica.
“Esse livro fala muito sobre a importância do cuidado emocional do pastor”, explica João Queiroz. “O autor trabalha de forma extraordinária os cuidados que a gente precisa ter no dia a dia do pastoreio. Aquilo que pode nos intoxicar, nos adoecer. Por ser médico, ele junta biologia e espiritualidade para mostrar como prevenir doenças emocionais.”

O segundo título escolhido, O Jesus que eu não conhecia, de Philip Yancey, apresenta, segundo ele, uma visão mais profunda e menos emocionalizada da figura de Cristo. “Philip Yancey consegue extrair algumas dúvidas que temos na nossa relação com Jesus”, afirma.
“Às vezes você acha que conhece, mas não conhece. Age muito no campo do emocional e esquece de realmente compreender Jesus na essência. Yancey é um dos escritores que eu mais admiro.”

Baseado em provérbios bíblicos, o livro “O homem é aquilo que ele pensa”, de James Allen, trabalha a importância do pensamento na formação da identidade e do destino. “Ele mostra o cuidado que preciso ter com a minha mente”, diz o pastor.
“Se eu acho que sou incapaz, vou ser sempre incapaz. Se acho que não vou dar conta, nunca vou dar conta. Ele ensina a trazer a mente para um lado mais positivo, de forma muito interessante.”

A quarta recomendação, Quebrando as Cadeias da Intimidação, de John Bevere, aborda como lidar com o medo e com palavras que tentam paralisar a vida espiritual e emocional.
“O John Bevere trabalha a questão da intimidação. Entender a importância de não permitir que qualquer palavra, acusação ou circunstância gere medo dentro de você”, explica. “Acho isso extremamente interessante.”

Encerrando a lista, João Queiroz cita um dos autores cristãos mais lidos do mundo. A obra, Sem Medo de Viver, de Max Lucado, ultrapassou 65 milhões de exemplares vendidos. “O livro deixa clara a importância de você entender que não precisa estar preocupado com o amanhã”, afirma o pastor.
“É viver a vida da melhor forma, esperar que as coisas aconteçam naturalmente. Sem criar situações na mente que impeçam você de prosseguir ou enfrentar obstáculos. É muito bom.”

Ao concluir, João Queiroz destaca que boas leituras não substituem a Bíblia, mas ampliam a compreensão da vida espiritual e emocional. “São livros que ajudam no cuidado do pastor e de qualquer pessoa de um modo geral”, resume.

Em entrevista ao Jornal Opção, o pastor Fabiano Reis, da Assembleia de Deus Ministério Vila Nova, compartilhou as obras que mais o influenciaram ao longo de sua trajetória cristã, leituras que considera fundamentais tanto para seu desenvolvimento pessoal quanto para sua atuação pastoral.
Entre as obras que considera indispensáveis, Fabiano Reis começa por “Autoridade Espiritual”, de Watchman Nee. “Talvez esse seja um dos livros mais contundentes que fala sobre autoridade espiritual. Ele faz uma abordagem em linguagem muito simples, mas de forma muito clara”, explicou.

Outra referência importante em sua estante são os escritos de C.S. Lewis, especialmente Cristianismo Puro e Simples. “Gosto demais, até porque a abordagem do C.S. Lewis é muito boa. Ele publicou várias literaturas e tem uma linguagem acessível, mesmo sendo um escritor de tantos anos atrás”, destacou.

Quando o assunto é a doutrina do Espírito Santo, o pastor cita John Bevere. “Um livro que eu gosto muito, que fala sobre o Espírito Santo, é do John Bevere. O título inclusive é esse: “O Espírito Santo”. Talvez seja um dos trabalhos que mais falou sobre essa terceira pessoa da Trindade de forma clara”, afirmou.

Ele também recorre com frequência a obras mais antigas, como “Esgotamento Espiritual”, de Malcolm Smith. “Publicado em 1988, se não me falha a memória. É um livro de que gosto muito”, disse.

Outro nome presente em suas leituras é Warren Wiersbe, conhecido por seus comentários bíblicos. “Ele tem uma abordagem não versículo por versículo, mas muito clara e específica sobre os textos bíblicos”, avaliou.

Na literatura voltada à formação pastoral, o pastor destaca Hernandes Dias Lopes. “Gosto principalmente do “De Pastor a Pastor”. O ‘Piedade e Paixão’ era um capítulo nesse livro, e ele fez depois um livretinho que é muito bom também”, lembrou.

Para estudos mais aprofundados, Fabiano Reis recorre à coleção do teólogo Russell Norman Champlin. “É uma coleção inteira, mais ou menos 14 volumes. Eu gosto muito, mas é mais para estudo sistemático da Bíblia, não é bem um livro para ficar lendo sempre”, explicou.


Em entrevista ao Jornal Opção, o pastor Matheus Abinair, Assembleia de Deus do Ministério Fama, compartilhou cinco obras que marcaram sua trajetória pessoal, espiritual e intelectual. Entre clássicos da literatura universal e títulos fundamentais da tradição cristã, ele explicou por que cada livro permanece relevante para sua vida e ministério.
O primeiro foi Ana Kariênina, de Liev Tolstói, romance monumental dividido em oito partes. Para o pastor, a força da obra está na profundidade com que a vida cotidiana é retratada.
“Ana Kariênina mostra a complexidade da vida, do casamento, principalmente no personagem do Levín, que depois eu até descobri que é um autorretrato do próprio Tolstói. O livro fala do valor da simplicidade da vida de um casal, da vida no campo. É muito bonito, a forma como é construído”, afirmou. Ele acrescentou que Tolstói também ilumina “como o adultério é mortal para o casamento”.

Da literatura brasileira, o pastor destacou sua autora preferida, a poeta divinopolitana Adélia Prado. Ele escolheu o livro Faca no Peito, obra de uma fase prolífica da escritora.
“A Adélia sempre mescla cristianismo, filosofia e beleza, de um jeito muito dela. Faca no Peito reúne alguns poemas belíssimos, incluindo aquele famoso: ‘O poeta cerebral acordou cedo. Tomou café sem açúcar’”, lembrou.

O terceiro título citado foi Confissões, de Santo Agostinho, um clássico absoluto do pensamento cristão. Segundo ele, Agostinho é “inescapável para a filosofia, como pai da filosofia da revelação”.
“Além de ser profundamente pessoal, Agostinho mostra como percebeu, durante toda a vida, que a providência divina o guiava de alguma forma, ao conhecimento de Deus e ao conhecimento de si próprio”, explicou Abinair.

Entre as influências contemporâneas, o pastor mencionou Inteligência Humilhada, de Jonas Madureira. A obra, segundo ele, foi determinante em sua maturação espiritual e pastoral.
“O Jonas é um cara muito preparado: pastor batista, filósofo, pós-doc pela USP e Universidade de Colônia. No livro, ele parte muito de Agostinho e fala, entre outras coisas, da antropologia bíblica do ser humano, nossa incapacidade, nossa miséria e a compaixão de Deus”, afirmou. “É um livro que me marcou muito.”

O quinto livro indicado foi Deuses Falsos, do teólogo e pastor norte-americano Timothy Keller, falecido recentemente. A obra trata da idolatria moderna e da transformação de dons legítimos em obsessões espirituais.
“Keller mostra como coisas que são muito boas, família, profissão, filhos, dinheiro, podem se tornar ídolos no coração humano. Nada disso é ruim em si, mas pode ocupar um lugar que só Deus deveria ocupar”, explicou Abinair.

Ele também destacou a relevância cultural do autor: “Ele era pastor de uma igreja muito importante em Nova York e chegou a ser colunista do New York Times. Veja o tanto que era uma pessoa relevante”.

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