Ainda pouco conhecida, apraxia na fala é tema de curso em Goiânia

22 fevereiro 2016 às 19h34

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Doença, que costuma ser confundida com autismo e outras síndromes, será abordada em dois dias de evento destinado aos profissionais da área de saúde e pais de crianças com o distúrbio neurológico

A apraxia da fala, um distúrbio neurológico que tem um diagnóstico mais preciso a partir dos 3 anos de idade, mas que já apresenta sintomas possíveis de serem percebidos aos 2 anos, impede que a criança realize o planejamento motor para falar. A doença, pouco conhecida e reconhecida no Brasil, é tema de um curso que acontece na sexta-feira (26/2) e no sábado (27) em Goiânia.
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A fonoaudióloga Elisabete Giusti ministrará, no auditório Valéria Perillo do Centro de Reabilitação e Readaptação Doutor Henrique Santillo (Crer), o curso Apraxia na Fala na Infância: Avaliação, Diagnóstico e Intervenção Terapêutica – Estudo de Casos Clínicos das 17 horas às 21 horas na sexta e das 8 horas às 17h30 de sábado. A inscrição custa R$ 550 e podem ser feitas pelo site Abrapraxia.
“A criança não consegue programa a sequência da fala. O pensamento está preservado, mas não consegue transformar esse pensamento em fala.” Essa dificuldade em pronunciar vogais, sílabas, consoantes ou palavras longas pode ocorrer por falta de estímulo, explica Elisabete.
Esse distúrbio neurológico chamado apraxia da fala, que acontece quando o comando do cérebro para falar não é concluído e a criança não consegue emitir sons, ainda é pouco divulgado e reconhecido no Brasil. “Sem a terapia adequada e o tratamento específico, ela não consegue desenvolver a fala, não consegue se expressar”, descreve a palestrante.
Por ser pouco conhecida, a apraxia na fala ainda não tem números consolidados de casos no País. Mas, de acordo com Elisabete, nos Estados Unidos a proporção é de que a cada 1 mil crianças, duas tem ou terão o distúrbio.
Outro problema no diagnóstico e tratamento é a confusão com outros problemas. De acordo com Elisabete, alguns pais associam a dificuldade de falar dos filhos com preguiça e profissionais de saúde podem considerar que se trate de autismo. “Muitas crianças com apraxia ainda estão sem diagnóstico.”
Segundo a palestrante, é comum que crianças façam tratamento com um fonoaudiólogo e o problema não seja resolvido. “É preciso começar do mais fácil para o mais difícil. Mães já me mostraram caderno de treino que tinha palavras como bicicleta, gelatina, e a criança não conseguia juntar duas vogais”, exemplifica.
Grau da doença
O distúrbio motor que causa a apraxia da fala pode ser diagnosticado a partir dos 3 anos de idade, mas já apresenta sintomas perceptíveis com 2 anos. Há graus de severidade, que começam com casos mais leves, quando a criança consegue desenvolver a fala, mas trocas os sons. Quando é grave a apraxia, o que Elisabete descreve como “não verbal”, a criança não consegue falar nada.
“É uma questão de planejamento. É como se tivesse um fio cortado entre o cérebro e a boca”, descreve Elisabete de forma prática a apraxia na fala. Por isso, o lema da campanha sobre a doença é “O fato de eu não falar não significa que eu não tenha nada a dizer”.

Associação
O curso é realizado pela Associação Brasileira de Apraxia de Fala na Infância (Abrapraxia), que tem entre as fundadoras a paulista Fabiana Collavini, que mora em Goiânia há oito anos e é mãe da Ana Beatriz, de 3 anos, que foi diagnosticada com a doença.
A descoberta da apraxia em Ana Beatriz só aconteceu após uma busca de Fabiana, desde os 11 meses de idade, por um diagnóstico que apontasse qual era o problema da filha para conseguir falar.
Depois de passar por duas fonoaudiólogas em um período de um ano e seis meses, foi levantada a suspeita de apraxia na fala, que foi diagnosticada por Elisabete Giusti em São Paulo.
A página da entidade possui 1.321 membros no Facebook e reúne profissionais de saúde e familiares que lidam diariamente com esse distúrbio motor.
Formação
Elisabete é graduada em Fonoaudiologia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), especialista em Desenvolvimento da Linguagem e suas Alterações pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e doutora em Linguística pela USP.
A palestrante é associada à The Childhood Apraxia of Speach Association of North America (Associação Norte-Americana de Apraxia da Fala na Infância – Casana).
Ela é terapeuta certificada pelo Método Hanen, do The Hanen Centre, em Toronto, no Canadá, no Programa de Orientação Voltado aos Pais – Como os pais podem ajudar no processo de desenvolvimento da fala, além de ter formação no Método Prompt, níveis I e II, de Técnica Indicada para Crianças com Distúrbios Motores da Fala, pelo The Prompt Institute, de Santa Fé, no Novo México, Estados Unidos.
A profissional usará sua experiência no diagnóstico e tratamento da apraxia na fala para falar sobre o que vem a ser esse distúrbio neurológico que impossibilita a criança de emitir sons pela boca, como diagnosticar, as formas de intervenção terapêutica, como se dá o planejamento motor para a produção da fala nas crianças, componentes da avaliação fonoaudiológica para detectar a doença em crianças com sintomas suspeitos e como a família e a escola podem ajudar.
Mais informações sobre a apraxia na fala: