Panorama da economia do país e de Goiás entre 2014 e 2015, segundo especialistas
05 maio 2014 às 13h17
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Profissionais da área sustentam que com os atuais investimentos, é muito improvável um crescimento de 3% no próximo ano. Em Goiás, agronegócio auxilia Estado a enfrentar a crise nacional
A crise econômica que o Brasil passa é algo evidente para todo brasileiro. Esperando um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2,3% para este ano, um número estagnado no do ano passado, e uma projeção para a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2014 em 6,5% – o teto da meta – o país que irá sediar a Copa do Mundo em 2014 não está em suas melhores condições.
O economista e professor da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Gesmar José Viera, 64 anos, não acredita que a economia conseguirá subir para 3% até o próximo ano, como foi recentemente divulgado pela ministra do Planejamento, Miriam Belchior, que disse ver como real a previsão de crescimento do PIB em 2015 com a recuperação da economia internacional. Em entrevista ao Jornal Opção Online nesta segunda-feira (5/5), Gesmar sustenta que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) está muito ligado à infraestrutura. “O que temos de investimento em infraestrutura?”, questiona. “Toda a verba nacional está sendo investida na construção e reforma de estádios.”
De acordo com Gesmar, não há nada relacionado a melhoria na área de energia, rodovias e ferrovias que tanha previsão para ser concluído em menos de quatro anos. O professor vê que com a o crescimento das economias mundiais, a economia brasileira pode ser, de certa forma, “arrastada”. “O Brasil é uma país estratégico, e pode sim ter esse crescimento, mas não a curto prazo. Seria algo a médio ou longo prazos.”
Já o economista e pesquisador Luiz Batista, acredita que os efeitos de ações de política fiscal, expansão moderada da oferta de crédito, crescimento da renda e concessão de serviços públicos, tendem a estimular o consumo em um ritmo mais moderado, comparativamente aos anos anteriores, dando impulso aos investimentos. “Acredito que a perspectiva de maior crescimento das economias mundiais, a recuperação da economia dos EUA, a expansão — mesmo que ainda moderada das economias pertencentes à União Europeia — sinalizam para uma expansão mais favorável para a economia brasileira”.
Agronegócio auxilia o Estado de Goiás a enfrentar crise na economia brasileira
O Estado de Goiás, que continua acima da média nacional, fechou 2013, conforme estimativa do Instituto Mauro Borges da Segplan, com uma expansão de 3,1% influenciada pelo bom desempenho do setor de serviços (3,5%), da indústria (2,4%) e da agropecuária (1,2%). Segundo a gerente de contas regionais e indicadores do Instituto Mauro Borges (IMB) da Segplan, Dinamar Maria Ferreira Marques, esse cenário se dá, principalmente, pelos produtos produzidos no Estado, basicamente alimentos — por isso o Estado não foi tão afetado pelas sucessivas crises. O agronegócio no Estado representa 28% da economia. Dados do IBGE apontam que em 2013 a atividade que liderou o crescimento na economia foi a agropecuária, com 7%.
Neste sentido o economista Gesmar José Viera sustenta que mesmo com os problemas com a chuva no início do ano, o setor continuará bem na economia. “Pode ser que não cresça, talvez, mas não digo que irá diminuir.” Entretanto o professor universitária afirma que o Estado está bem, mas há sempre o risco de sofrer devido aos problemas econômicos a nível nacional. “As economias são muito amarradas”, explicou.
O produtor de soja Flávio Faedo explicou ao Jornal Opção Online que mesmo com os problemas relativos à chuva no início do ano, a safrinha está indo bem e pode reverter os problemas econômicos no Estado. Flávio prevê uma perda pequena, que de acordo com ele talvez chegue a 5% da arrecadação, em relação ao PIB agrícola. “No final das contas, com esse valor diluído, a perda será mínima.”
De acordo com o produtor, a perspectiva de produção de soja é ser mantida ou talvez crescer entre 2% a 5%. “É difícil dizer, por dependemos de uma série de questões, entre elas o clima. Se tudo continuar como está, eu diria que teremos esse crescimento.”
Medidas emergenciais
Recentemente o governo federal anunciou um pacote com medidas emergenciais para as montadoras a fim de aumentar as vendas do setor – o estímulo ao crédito para a compra de veículos é um deles. Outra política pública implantada pelo governo com o objetivo de amenizar os problemas econômicos no país é uma política monetária de aumento na taxa de juros, adotada pelo Banco Central, cujo objetivo é reduzir os impactos inflacionários na economia. O economista Luiz Batista concorda com a medida e afirma que é de extrema importância para que outras medidas adotadas possam surtir os efeitos esperados.
Existem outras políticas públicas associadas à desoneração fiscal para alguns segmentos da economia. Segundo Luiz Batista, elas permitem maior estímulo ao processo de produção, gerando renda e emprego.
Já o professor Gesmar Vieira vê todas as medidas do governo como paliativas. “Enquanto não tiver uma revisão geral a economia não irá fluir com maior equilíbrio. Gesmar acredita que os recursos públicos são mal utilizados, e que o governo está desesperado. “Eles estão sem recurso para cobrir os déficits. Após pagar as contas da máquina, o governo usa o que sobra de saldo para pagar dívidas, que tem aumentado substancialmente.”
O economista e professor da PUC defende que o governo pare com a liberação do IPI, entre outras medidas que ele chama de momentâneas. “É ano eleitoral. São medidas somente de impacto. Ficam criando mecanismo para facilitar o crédito, mas não adianta.” O professor ainda afirma que o país precisa de uma reforma política e fiscal urgentemente. “Essa reforma seria para reavaliar esse processo tributário e rever o processo orçamentário do governo.”
Problemas para o consumidor
A previsão para 2015 feita pelo Banco Central da inflação é de 6%, menor do que a projetada para 2014, de 6,5%. Segundo Dinamar Marques, o Banco Central tem utilizado como instrumento para conter a inflação o aumento da taxa básica de juros, a Selic – mas com isso o consumidor é duplamente penalizado.
Dinamar sustenta que com o aumento dos preços, devido à inflação, os salários vão perdendo seu valor, e a maioria dos trabalhadores que não têm seus salários corrigidos na mesma velocidade, não consegue comprar a mesma cesta de produtos que comprava antes do aumento de preços. “Pelo lado do aumento da taxa de juros, embora seja um mecanismo para conter a alta de preços, desestimula os investimentos, com isso prejudica todas as atividades produtivas da economia, refletindo em desemprego para a população”, explica Dinamar Marques.
O professor Gesmar Vieira explica que a renda tem caído substancialmente porque a inflação subiu. Gesmar defende que o consumidor tente economizar o máximo possível, cortar despesas e não pegar emprestado no atual cenário da economia brasileira. “A taxa de juros subiu, e eles continuam tentando fazer com que fique acessível a quem pega dinheiro emprestado. Entretanto, está péssimo para quem precisa financiar algo, pegar dinheiro emprestado”, defende.
De acordo com o professor da PUC, o salário mínimo está defasado, mas não é possível ajustá-lo propriamente porque o aumento gera custos problemáticos para empresas e Estado. “Não pode aumentar o salário acima da produtividade. O salário mínimo não pode ficar acima do PIB.”
E a Copa?
Com o anúncio de que o Brasil iria sediar a Copa do Mundo em 2014, o governo federal vinha pregando que a competição traria um crescimento estrondoso, tendo divulgado em 2012 que o mundial causaria uma injeção de R$ 142 bilhões na economia brasileira até este ano.
Entretanto, segundo a gerente de contas regionais e indicadores do IMB, Dinamar Maria, a Copa vem mostrando algumas transformações em cidades que sediarão jogos. O economista aponta que a construção ou reforma de estádios impulsiona o setor da construção civil, com geração de emprego e aplicação de investimentos na infraestrutura de transportes. “Serão deixados legado importantes no país, além do fluxo de turistas que contribuirá para impulsionar outros setores da economia, gerando novos postos de trabalho e renda”, explicou.
Já um estudo desenvolvido pela Moody’s (empresa que classifica crédito, riscos e realiza pesquisas do mercado a nível mundial) ao final do mês passado apontou que a competição vai gerar apenas 0,4% do crescimento do PIB no período de dez anos e os gastos com infraestrutura representam apenas 0,7% do total de investimentos previstos para o período entre 2010 e 2014. A instituição ainda sustentou que os gastos com a Copa terão um impacto insignificante sobre a economia brasileira, apesar da ideia popular de que o torneio custa muito caro ao país.
O professor de Economia Gesmar Vieira sustenta que a competição não trará crescimento econômico ao país. “Vai crescer o turismo, mas só isso. Depois vai ficar só a saudade.” O professor explica que todo o dinheiro nacional que deve ser investido em infraestrutura está sendo direcionado para construção e reforma de estádios. “Não vai ter ganho nenhum para o nosso país. Vai ter só perda.”
A Fecomércio fez uma estimativa de que o comércio irá ter uma perda R$ 166,5 milhões devido à competição. Isso porque as lojas não apresentaram aumento de venda de produtos relacionados à Copa e nos dias de jogos do Brasil os comércios não ficarão abertos.
De acordo Dinamar Maria, é complicado afirmar que Goiás terá efeitos negativos devido ao mundial, já que não só as lojas do Estado como de todo o país irão fechar. “Isso não irá ocorrer somente no Estado de Goiás, mas em todo o país. O comércio no país todo irá parar em dias de jogos da seleção brasileira.” Segundo Dinamar, estudos da Fieg apontam que esta perda poderá ser compensada devido a reposição de horas de produção paradas, não gerando os prejuízos apontados pela Fecomércio.
Dinamar acredita que a Copa deverá causar poucos efeitos – tanto positivos quanto negativos – na economia goiana. “Tendo o Distrito Federal como sede de alguns jogos, isso poderá impulsionar o turismo em nossa região.”