“Jesus tem se tornado uma espécie de fiador de uma política que incita o ódio”, afirma carnavalesco. Samba também cita o presidente Jair Bolsonaro

Foto: Reprodução

Conhecida por sua tradição e narrativas com forte crítica social, a escola de samba Mangueira criou um samba-enredo que já tem tirado o sono de alas conservadoras da sociedade antes mesmo do Carnaval. Trata-se de uma narrativa sobre um Jesus que não está no retrato. Essa é a definição do carnavalesco da escola, Leandro Vieira, de 35 anos, em entrevista ao Estadão.

Com uma crítica a elementos da política, a verde-e-rosa busca alcançar o segundo título consecutivo. Enquanto isso, setores religiosos acusam a escola de blasfêmia.

Representatividade

Para o carnavalesco, a ideia é apresentar um Jesus humano, com a cara do povo oprimido do Brasil. “Mais recentemente, em nome de um avanço conservador e da representatividade política de determinados setores políticos da sociedade brasileira, Jesus tem se tornado uma espécie de fiador de uma política que incita o ódio”, defende.

Um Jesus de mãe humilde e pai desempregado, que desce e sobe as ladeiras da favela: esse é o Jesus da mangueira. Mas a polêmica não para por aí, o samba cita ainda o nome do presidente Jair Messias Bolsonaro e diz: “Favela, pega a visão. Não tem futuro sem partilha. Nem Messias de arma na mão”.

Confira o samba-enredo 2020:

Autores: Manu da Cuíca e Luiz Carlos Máximo

Mangueira

Samba teu samba é uma reza

Pela força que ele tem

Mangueira

Vão te inventar mil pecados

Mas eu estou do seu lado

E do lado do samba também

 

Eu sou da Estação Primeira de Nazaré

Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher

Moleque pelintra no Buraco Quente

Meu nome é Jesus da Gente

 

Nasci de peito aberto, de punho cerrado

Meu pai carpinteiro desempregado

Minha mãe é Maria das Dores Brasil

Enxugo o suor de quem desce e sobe ladeira

Me encontro no amor que não encontra fronteira

Procura por mim nas fileiras contra a opressão

 

E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão

 

Eu tô que tô dependurado

Em cordéis e corcovados

Mas será que todo povo entendeu o meu recado?

Porque de novo cravejaram o meu corpo

Os profetas da intolerância

Sem saber que a esperança

Brilha mais na escuridão

 

Favela, pega a visão

Não tem futuro sem partilha

Nem Messias de arma na mão

Favela, pega a visão

Eu faço Fé na minha gente

Que é semente do seu chão

 

Do céu deu pra ouvir

O desabafo sincopado da cidade

Quarei tambor, da cruz fiz esplendor

E Ressurgi no cordão da liberdade

Mangueira