Academia Athletics, Bolshoi Pub e outros points em Goiânia: sem controle, vírus também mata CNPJs
03 abril 2021 às 19h18
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O vaivém por conta das restrições sanitárias para a circulação do coronavírus vai causando, numa esquina aqui, noutra avenida ali, a mortes de empresas tradicionais. Sem união, liderança e respeito à ciência, não há como mudar o quadro
O fechamento por tempo indeterminado da academia Athletics Sports, anunciado no fim desta semana, é mais um marco triste da pandemia em Goiânia. Em funcionamento há 30 anos e localizado em ponto nobre, no Setor Bueno, o estabelecimento era um dos destaques do ramo de atividades físicas da cidade.
Para publicar a decisão, o proprietário, Antônio Borges, compartilhou um vídeo que comoveu as redes, não só pelo comunicado em si, mas por relatar um drama que é vivido por milhares de empresários como ele no atual momento. Difícil negar o que ele confirma em seu relato: as idas e voltas nas medidas de restrição ao comércio e à circulação de pessoas têm funcionado como duros golpes em todo o ramo de prestação de serviços. A consequência é que muitas empresas, infelizmente, estão indo a nocaute.
Um experiente profissional da área de educação física, também ex-proprietário de academia, relata o momento grave: “A gente sabe que não dá para voltar com esse índice de infecção e de contágio. Muitos empreendedores têm consciência disso, outra parte quer reabrir de qualquer jeito, por desespero. Mas, no fundo, todos sabem que a situação não é de nenhuma normalidade e estão perdidos”, diz.
Mais do que a dificuldade conjuntural, pesa também para os empresários a noção de incerteza em médio e em longo prazos. A alta contaminação em todo o País e a falta de uma vacinação eficaz jogam mais interrogações. Isso referenda o cenário de completa incerteza sobre como evoluirá o quadro da pandemia no Brasil – já que não há nenhuma sinalização positiva, muito pelo contrário – e aumenta ainda mais a apreensão de todos os setores da economia.
Entretanto, o setor de prestação de serviços ligado ao entretenimento, à cultura e ao bem-estar físico é o que mais tem padecido. No mês passado, outra referência de seu setor anunciou que não abrirá por tempo indeterminado: o Bolshoi Pub, uma das casas de shows mais antigas da capital (com 17 anos de atividade), voltada para o público de pop-rock nacional e internacional.
Faltou comprar vacina antes
O vaivém por conta da necessária medida sanitária visando reduzir a circulação do coronavírus vai causando, numa esquina aqui, noutra avenida ali, a mortes de vários CNPJs também.
Era o que temia o presidente Jair Bolsonaro no começo da pandemia. Ironicamente, ao se negar a fechar acordo de 75 milhões de vacinas (isso apenas com a Pfizer) ainda em agosto, causando o atraso no início da vacinação – e mandando o Brasil para o fim da fila de muitas aquisições –, ele também é grande responsável: a prova é que países que apostaram logo na compra dos imunizantes, como os Estados Unidos, o Reino Unido, Israel e até o vizinho Chile, veem a esperança de um segundo semestre bem mais tranquilo.
Sem a Athletics, sem o Bolshoi, sem tantas outras empresas de referência em seus ramos, como será Goiânia quando voltar à normalidade? Aliás, quando voltaremos?
Ninguém sabe, porque nunca houve um planejamento sério e engajado de enfrentamento da situação. Nunca houve união dos setores dentro das cidades nem união nacional, comandada pela administração central de Brasília. A ciência, que pode nos salvar, inclusive economicamente, continua desrespeitada. Lutamos uns contra os outros até aqui. Numa cena trágica assim, só quem vence e evolui é o próprio vírus.