Abandono de Cynara Mathias mostra pela enésima vez que a saúde em Goiânia está ao deus-dará
04 dezembro 2024 às 16h54
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A situação da saúde de Goiânia parece estar imersa em um abismo sem fim, e a recente desistência da nova secretária municipal de Saúde, Cynara Mathias, apenas confirma o cenário catastrófico que a população goianiense enfrenta. Ela e toda a sua equipe, que assumiram a pasta há apenas uma semana, entregaram os cargos diante da pressão de uma crise que em tão pouco tempo se revelou insustentável. A exaustiva luta contra a falta de insumos, antibióticos e leitos de UTI que já tirou vidas, foi o fator que levou a servidora pública a perceber que não haveria espaço para mais erros em uma gestão marcada por falhas graves e escândalos.
Cynara Mathias, servidora pública há 25 anos, foi convocada para substituir Wilson Pollara, que foi preso em uma operação do Ministério Público de Goiás (MP-GO), desvendando um esquema de corrupção dentro da Secretaria Municipal de Saúde. A situação já precária, piorou quando a investigação revelou um colapso na rede pública, com contratos irregulares e dívidas milionárias que comprometiam até o funcionamento de unidades essenciais. A falta de recursos e a ausência de políticas públicas mínimas são a tônica dessa crise. Sem condições de trabalhar, Mathias e sua equipe rapidamente perceberam que a responsabilidade de salvar um sistema de saúde em ruínas seria uma missão impossível.
É inegável que o cenário da saúde pública em Goiânia está longe de ser um mero problema administrativo, ele é uma tragédia social. A escassez de leitos de UTI tem sido um dos maiores desafios. Somente nas últimas semanas, pelo menos quatro pessoas morreram enquanto aguardavam transferência para essas unidades. A morte de cidadãos enquanto aguardam por atendimento básico é um reflexo de uma gestão pública falida, que não consegue prover o essencial para aqueles que mais necessitam.
Esses números não são apenas estatísticas; eles são vidas perdidas, famílias devastadas e uma cidade que parece caminhar para um colapso total. As promessas de ação rápida, como a abertura de novos leitos, soaram como vazias após a prisão de Pollara e a descoberta das falcatruas que corroem o sistema. O quadro de crise extrema se estende por meses, mas foi nas últimas semanas que o caos chegou ao seu pico. A falta de ambulâncias no SAMU, a escassez de médicos nas UPAs e CAIs, a insuficiência de insumos e, agora, o sufocamento do sistema de UTIs, são sintomas claros de um sistema à beira do colapso.
E o que vemos é uma cidade entregue à própria sorte, com uma administração ausente e um prefeito, Rogério Cruz, mais preocupado em justificar suas falhas do que em assumir a responsabilidade por sua gestão fracassada. A crise sanitária de Goiânia reflete não apenas a incompetência do Executivo Municipal, mas também a fragilidade das políticas públicas de saúde em nível estadual. O governador Ronaldo Caiado, ao convocar Sandro Mabel para assumir uma prefeitura antes do previsto, provavelmente já percebeu o erro de confiar em uma gestão que já se mostrava falha.
Sandro Mabel, o prefeito eleito, ainda que tenha assumido o cargo antes do previsto, está diante de um cenário que vai muito além das expectativas. O desafio de gerir uma cidade em crise é imenso, e a saúde de Goiânia, já à deriva, se tornou uma verdadeira bomba relógio. O ex-secretário de saúde preso e sua equipe não fizeram nada para reduzir os danos. Pelo contrário, contribuem para o aprofundamento do desastre com dívidas de mais de R$ 250 milhões, o que comprometeu até mesmo a manutenção de leitos hospitalares.
Se a gestão de Rogério Cruz já era marcada por escândalos, agora ela se firma como um exemplo de descaso com a população. O desaparecimento do prefeito nas horas mais cruciais de sua administração, principalmente após a prisão de seus secretários, foi o estopim para um mandato desastroso. E a maior vítima desse descaso é a população goianiense que sem alternativa se vê cada vez mais refém de uma saúde pública falida.
A entrega dos cargos por Cynara Mathias é um reflexo da desconfiança que permeia a gestão da saúde em Goiânia, e a realidade é clara: o sistema está a deriva. Cada dia sem uma solução eficaz traz mais sofrimento, mais mortes e mais um capítulo de um caos que parece interminável. A pergunta que fica é: até quando a população de Goiânia continuará a ser refém dessa tragédia anunciada?
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