Já reparou que, ultimamente, todo mundo quer sumir? Pois é. Mas, se isso está acontecendo com você também, não estranhe — a paz virou o bem mais desejado da era moderna e também o mais escasso. As mesmas pessoas que antes se exibiam nas redes sociais, mostrando que sucesso era sinônimo de relógios caríssimos, casas cada vez maiores e mais luxuosas, carros milionários, viagens para lugares exóticos e hotéis nababescos, jatinhos e agendas lotadas, hoje exibem meditação, retiros e “descanso digital”. Está acontecendo uma virada cultural silenciosa em todo o planeta, em que a quietude, a paz interior e o silêncio passaram a valer muito mais que ouro.

Nas últimas décadas, luxo e ostentação andavam juntos — um media o outro. Mostrar e esbanjar era essencial: consumo, poder, presença; quanto mais exposição, melhor. Mas, quando tudo isso se tornou excessivo — likes, stories, performance —, a elite foi atrás do oposto: menos virou mais, e invisibilidade agora é tudo. Na contramão, enquanto a classe média corre para ser vista, os ricos, milionários e bilionários fogem da hiperexposição. Um fenômeno conhecido como “quiet luxury” ou “luxo silencioso”, estilo que valoriza a sutileza das coisas, o tempo livre e, principalmente, o equilíbrio mental. O luxo perdeu o brilho e o silêncio virou a nova ostentação.

Em tempos de ansiedade digital, o melhor símbolo de status é a desconexão. Arrumar um tempo para si mesmo tornou-se um privilégio. De acordo com o Global Wellness Institute, o mercado de bem-estar movimentou, no ano passado, US$ 5,6 trilhões e deve crescer ainda mais este ano, com retiros, terapias e turismo de silêncio. O jogo virou: para ter sucesso, agora, é não mostrar — nem demonstrar. Estamos entrando na era em que o que vale mais é o que se sente e o que pode ser evitado, como a pressa, o barulho e o burnout.

Para se ter uma ideia de como a busca pelo simples e pela tranquilidade conseguiu virar a página da ostentação e do barulho — agora classificados como cafonas —, a procura por “retiros silenciosos” cresceu mais de 430% no Google em dois anos. O turismo de bem-estar deve atingir US$ 1,3 trilhão em 2025. De acordo com uma pesquisa realizada pela MindMiners em 2024, 61% dos brasileiros afirmam que “ter paz” é o maior sonho de vida, enquanto 78% dos executivos relatam sintomas de esgotamento mental. A Organização Mundial da Saúde classificou o Brasil como o primeiro no ranking dos países mais ansiosos do mundo. Será que você é um deles?

A elite cansou de competir pelo que todos podem ver e passou a disputar o que quase ninguém tem: tranquilidade. O status não está mais no carro que se dirige, mas no tempo livre que se possui. Privilégio é não andar com pressa, é ter uma rotina protegida do caos. Isso, sim, é exclusividade. Enquanto muitos tentam provar relevância pela produtividade, os ricos investem em sumir — e o nome disso é “ostentação invisível”: mostrar poder sem precisar mostrar nada. Ostentação excessiva virou sinônimo de cafonice; luxo mesmo é ter paz e não precisar fugir de si mesmo. Paz mental virou meta de vida — e saúde emocional é poder.

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