“A nova chupeta”: especialista alerta para riscos do uso excessivo de telas no aprendizado
29 agosto 2024 às 12h12
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Uma pesquisa de 2023 do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) destaca o crescente processo de digitalização das escolas e do ensino em todo o Brasil. A tecnologia tem chegado cada vez mais longe e se tornado indissociável do cotidiano. Entretanto, especialistas alertam para os riscos do uso não consciente das telas em crianças e adolescentes.
Segundo o levantamento do Cetic.br, 28% das escolas de ensino fundamental e médio (tanto pública quanto particulares) já proibiram totalmente o uso de celulares pelos estudantes. Enquanto isso, outros 64% adotaram uma proibição parcial, permitindo uso em determinados espaços e horários. Em Goiás, há uma lei que proíbe o uso de telefones celulares nas salas de aula das escolas da rede pública estadual de ensino.
Embora a Lei nº 16.993, sancionada pelo Governo do Estado de Goiás em 10 de maio de 2010, proíba o uso de telefones celulares nas salas de aula das escolas da rede pública estadual, a maioria das instituições de ensino não segue a legislação à risca. A norma, que entrou em vigor na data de sua publicação, delega às escolas a responsabilidade de definir as medidas disciplinares para os alunos que descumprirem a regra.
Apesar do poderoso recurso didático que pode ser encontrado nos aparelhos eletrônicos, o uso não supervisionado e individual pode acabar desconcentrando o aluno e desestimulando seu aprendizado. A pesquisa Cetic (departamento do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, ligado ao Comitê Gestor da Internet do Brasil) foi feita com 3.001 entrevistas com gestores de escola, por telefone. As ligações foram feitas entre agosto de 2023 e abril de 2024.
Uma outra tendência que pode ser observada na pesquisa é o aumento do controle sobre os celulares dos alunos mais jovens. Nas escolas que atendem os anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano), a proporção das que proíbem o uso de celular aumentou de 32%, em 2020, para 43%, em 2023. Já nas escolas que oferecem os anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano), essa proporção subiu de 10% para 21% no mesmo período.
Acesso nas escolas
O levantamento destaca que, entre as escolas de ensino fundamental e médio com acesso à internet, 58% restringem o uso da rede Wi-Fi por meio de senhas, um aumento em relação aos 48% registrados em 2020. Por outro lado, a proporção de escolas com Wi-Fi liberado caiu de 35% para 26%.
Além disso, é possível ver que 92% das escolas brasileiras de ensino fundamental e médio possuem internet, um aumento em relação aos 82% registrados em 2020. O crescimento foi mais expressivo nas escolas rurais, onde a conectividade passou de 52% para 81%, e nas escolas municipais, onde o número subiu de 71% para 89%.
Entre as instituições que ainda não têm acesso à internet, que representam 8% do total, os principais motivos são a falta de infraestrutura de acesso (66%), a ausência de infraestrutura na região (63%) e o alto custo da conexão (52%). Um dado relevante é o aumento na proporção de gestores que citam a falta de eletricidade na escola como uma razão para a ausência de conectividade, subindo de 17% em 2020 para 32% em 2023.
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O levantamento também revelou que 90% das escolas de ensino fundamental e médio possuem pelo menos um computador, seja desktop, notebook ou tablet. Nas instituições urbanas, a presença de computadores atinge a casa dos 99%. Já nas áreas rurais, esse número é de 75%. Entre as escolas municipais, 84% têm ao menos um dispositivo, enquanto nas estaduais essa porcentagem é de 97% e nas escolas particulares, 99%.
Na voz da especialista
Em entrevista ao Jornal Opção, a psicopedagoga Nilcilene Vieira afirma que “cada vez mais crianças têm chegado ao consultório com prejuízo do desenvolvimento cognitivo, de fala, de aprendizagem, devido ao uso excessivo de telas”.
A profissional diz que o uso excessivo dos aparelhos eletrônicos tem puxado problemas de concentração, de raciocínio e, em alguns casos, até de desenvolvimento da fala. “Infelizmente, as crianças e os adolescentes têm ficado em déficit cognitivo com relação ao pensamento, à elaboração do pensamento e de respostas”, resumiu.
A Inteligência Artificial é um ponto destacado por Nilcilene, que acredita que “a proibição total, eu acho benéfica”. Como esses aplicativos oferecem respostas prontas, a especialista reforça a importância de aprender a usar essa tecnologia como uma ferramenta que estimula e facilita o aprendizado, ao invés de se tornar refém das respostas prontas.
A especialista afirma que os adolescentes são os principais usuários das telas, entretanto, crianças têm começado a se inserir nessa realidade cada vez mais cedo. “A nova chupeta”, faz uso de uma comparação para explicar o espaço que a tecnologia tem ocupado.
Segundo a experiência da profissional, existem pais mais conscientes do dano causado pelo uso excessivo de telas, enquanto outros mostram resistência para impor diminuição. “Tem crianças que passam mais de seis horas [por dia] em telas”, lamenta, antes de complementar: “Prejudica o sono, que prejudica as conexões cerebrais, e consequentemente prejudica a aprendizagem como um todo”.