A gafe “amazônica” do chanceler alemão Friedrich Merz
20 novembro 2025 às 10h12

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Rui Martins
Imaginem se o chanceler alemão conservador de direita Friedrich Merz tivesse experimentado um prato de maniçoba, ou de pato no tucupi! Tivesse dançado e tomado um gole num boteco! Com certeza não teria falado mal de Belém, comentou o presidente Lula da Silva ao saber das críticas do líder europeu.
Picado por mosquitos, excitados com a presença da comitiva alemã, e irritado com o som de violino tocado de noite pelos pernilongos, capazes de furar o controle de segurança do seu quarto, e suando com o calor, o chanceler deu vexame ao voltar a Berlim e fazer declarações depreciativas sobre a cidade de Belém do Pará, onde esteve pela COP 30, publicadas na imprensa alemã e repercutidas pela imprensa brasileira, quase no final da COP 30.
A imprensa alemã, que acompanhava o chanceler, contou para seus leitores a falta de educação e de diplomacia do chanceler, aliás já conhecido por dizer besteiras e abobrinhas, comprometendo o respeito curtido no Brasil pela cultura alemã.
A bastante lida revista alemã “Der Spiegel” contou com destaque a grosseria de Merz com o título “Como o chanceler Merz provocou a cólera dos brasileiros”, ilustrada com uma foto do chanceler com Lula da Silva, num aperto de quatro mãos e sorrisos de praxe. A legenda identifica Lula da Silva e Merz, seguida de uma frase ferina: “É preciso desaparecer o mais rápido possível?”
Mas, ao falar na correria para deixar logo essa região primitiva cheia de indígenas, Merz não esperava a repercussão na imprensa internacional desse gesto de repulsa a Belém, ao Amazonas e ao Brasil.
O jornal suíço “20 Minutos” deu destaque num título agressivo: “Merz, tua xenofobia é o novo muro de Berlim” — baseado num texto distribuído para todo mundo pela Agência France-Presse. A legenda da foto do chanceler é irônica: o chanceler não gostou das condições de seu alojamento.
O texto fala do discurso cheio de preconceitos do chanceler alemão. “É curioso, disse o governador Helder Barbalho, ver que aqueles que contribuíram para o aquecimento do planeta fiquem surpresos pelo calor na Amazônia.”
Por sua vez, o prefeito de Belém, Igor Normando, também criticou: “Infelizmente, o chanceler alemão pronunciou um discurso cheio de arrogância e de preconceitos, ao contrário de seu povo que mostra nas ruas de Belém sua fascinação por nossa cidade”.
O jornal “20 Minutos” acrescenta que o ministro alemão do Meio Ambiente, Carsten Schneider, adotou uma atitude bastante diferente afirmando que “as pessoas maravilhosas do Brasil lhe cativaram pela calorosa hospitalidade”.
O jornal francês “Le Figaro” também deu destaque às ofensas do líder alemão destacando a frase de Merz à sua comitiva “Quem de vocês gostaria de ficar aqui?”, provocando uma viva polêmica no Brasil. Merz tinha acrescentado que nenhum jornalista alemão gostaria de ficar em Belém e que todos estavam contentes por deixar o lugar e voltar para a Alemanha.
Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
