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Paulo Mourão (PT) e Osires Damaso (PSC) também estão na disputa, mas dificilmente terão chance de vaga no 2º turno

A eleição deste ano para o governo do Tocantins promete uma disputa dura, acirrada e equilibrada entre duas grandes forças políticas ainda em formação, mas que têm demonstrado enorme capacidade de aglutinação em função do vazio com o declínio das forças tradicionais. O Tocantins, ainda muito influenciado por seus velhos líderes, não gira mais em torno do siqueirismo decadente e do mirandismo ultrapassado. Novas forças, com novos personagens, dão o tom da disputa.

De um lado, o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) recém-ungido ao poder, inflado pela força da máquina administrativa, é só empolgação. O jovem governador já desponta como o nome que pode liderar a corrida pelo Palácio Araguaia. Ele próprio garante que tem números animadores a seu favor. Do outro, o ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas (PL), oposição emergente, montada às pressas com o que sobrou do carlessismo. Gestor experiente, um nome forte no norte do Estado e que vai precisar de aliados de peso nas regiões central e sul.

Dois nomes com perfis bem diferentes. Wanderlei é político por vocação. Tocantinense, de Porto Nacional, que iniciou a carreira como vereador em sua cidade, eleito em 1988, para representar o distrito de Taquaruçu do Porto, que seria emancipado no ano seguinte. Em 1991, assumiu a subprefeitura de Taquaruçu; em 1996, se elegeu vereador em Palmas, tendo exercido a vereança por quatro mandados consecutivos, sendo duas vezes presidente da Câmara. Em 2010, conquistou uma cadeira na Assembleia Legislativa, sendo reeleito em 2014. Em 2018, se elegeu vice-governador e em 2021, se assumiu o governo.

Dimas é mineiro, de Uberaba, engenheiro civil, empresário do ramo da construção civil; foi dirigente da Federação das Indústrias do Tocantins, ingressou na política em 2002 ao se eleger deputado federal. Prefeito de Araguaína eleito em 2012, se reelegeu em 2016 e fez seu sucessor em 2020. Tornou-se um nome bem avaliado após o choque de gestão no comando da prefeitura de Araguaína.

Tudo indica que será uma disputa acirrada, com possibilidade real de ser decidida no segundo turno. Pelo menos é o que preveem os líderes dos principais partidos e analistas políticos que acompanham o processo e que apontam que o cenário mudou completamente de uns tempos para cá, alterando também os protagonistas, a lógica e a dinâmica da disputa.

Pela primeira vez na história política do Tocantins se projeta uma eleição sem a presença dos velhos caciques que comandaram o Estado até aqui – Siqueira Campos, Moisés Avelino, Marcelo Miranda e Mauro Carlesse – outros nomes como Raimundo Boi, Carlos Henrique Gaguim e Sandoval Cardoso também governaram o Estado, mas não foram eleitos em eleição direta para o cargo.

Ao que tudo indica, será uma eleição mais equilibrada e, portanto, mais democrática. Um pleito que pode marcar o surgimento de um novo ciclo do poder no Estado.

A reviravolta tem início no dia 20 de outubro de 2021. Até então o governador Mauro Carlesse (UB) se apresentava como o todo poderoso mandatário, que rejeitava a ideia de deixar o governo para ser candidato ao Senado, embora contasse como certa sua eleição, por não confiar em ninguém. Carlesse já pressentia enfrentar problemas ou tentava impor condições para manter o controle da política, após deixar o governo? A falta de confiança era maior em relação ao vice Wanderlei Barbosa que sonhava ser o nome escolhido pelo Palácio, mas não contava com simpatia do chefe.

Carlesse era grosseiro, na avaliação dos aliados, de forma intencional. Buscava uma forma de diminuir o prestígio de aliados para tentar impor um nome da sua preferência. Nome de fora, como ele, que certamente enfrentaria muita resistência. Mas, em 20 de outubro de 2021, Carlesse foi afastado do governo por decisão do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Mauro Campbell e viu o mundo virar de ponta cabeça.

O poderoso governador que dizia ter prestígio de eleger até um poste terminou seu governo de forma abrupta, tendo de renunciar ao mandato para salvar a biografia chamuscada de denúncias de crime de responsabilidade, acossado por um processo de impeachment aprovado por unanimidade no plenário da Assembleia Legislativa. Com a manobra o ex-governador deu a entender que buscava salvar os direitos políticos, direito de ser candidato a deputado ou senador nas próximas eleições. Na prática, o ex-governador conseguiu apenas frustrar o impeachment e evitar ser cassado. Nada mais.

Um dia antes da votação do impeachment, um manifesto organizado pelo deputado Eduardo Siqueira Campos (UB) chamou atenção. O documento foi assinado por 21 dos 24 deputados e declarou apoio à reeleição do governador Wanderlei Barbosa, em meio a um processo conturbado e imprevisível, como se viu. O documento revela a pressa dos deputados em demarcar espaço no novo governo, antes mesmo de ele existir. O que sugere que os deputados olhavam para o impeachment como palanque e não como processo de investigação.

Apoio maciço que pode virar problema
O documento revelou também que o projeto de reeleição do governador Wanderlei Barbosa tem capacidade de aglutinação tão grande que pode virar um problema. Como contemplar os interesses dos 21 ou 22 deputados que o apoiam se sua coligação nas melhores das hipóteses só consegue eleger 13 ou 14 deputados. Um problema que deve virar crise no final da janela partidária.

O governador conta ainda com apoio de dois senadores, Kátia Abreu (PP) e Irajá Abreu (PSD) e pelo menos três dos oito deputados federais – Vicentinho Júnior (PP), Carlos Henrique Gaguim (Republicanos) e Eli Borges (SD) – e mais de 100 prefeitos, segundo dados de aliados. A previsão é contar com pelo menos seis partidos: Republicanos, Solidariedade, PDT, PSD, PP e PRTB.

O ex-prefeito de Araguaína teve de sair a campo para tentar neutralizar o rolo compressor da máquina governista. Trocou o Podemos pelo PL e garantiu o apoio do senador Eduardo Gomes (MDB). Tem possibilidade de compor chapa com a deputada Dorinha Seabra (UB), como candidata ao Senado e busca um vice de Palmas ou de Gurupi. Esta semana participou de eventos com a presença das prefeitas de Palmas Cínthia Ribeiro (PSDB) e de Gurupi Josi Nunes (UB), além do senador Eduardo Gomes (MDB).

Dimas conta ainda com o apoio de três deputados federais – Tiago Dimas, seu filho (Podemos), Dulce Miranda (MDB), e Dorinha Seabra (UB) – do ex-governador Marcelo Miranda (MDB) que postula disputar o senado, a ex-prefeita de Palmas Nilmar Ruiz (PL) e também um grande número de prefeitos, algo em torno de 40 a 50 prefeitos, tendo em vista a liderança de Eduardo Gomes e de Marcelo Miranda junto aos prefeitos, independente de sigla partidária.

A renúncia do governador afastado Mauro Carlesse pouco antes da votação do segundo turno do impeachment não surpreendeu os deputados que parece que já esperavam por esta decisão. Na verdade, os deputados fizeram constar no rito do impeachment, espécie de regimento interno do processo, que, se o governador renunciasse ao mandato, o processo seria encerrado. O final parece ter saído do tamanho da encomenda. Carlesse fora do processo, os deputados se alojaram de mala e cuia dentro do novo governo, tal qual como no governo Carlesse.

O ex-deputado Paulo Mourão (PT) e o deputado federal Osires Damaso (PSC) estão no páreo, mas longe de ser uma alternativa fora da polarização Wanderlei e Dimas. Mourão tem experiência, conhece a realidade do Estado e busca montar um plano de governo a partir dos debates com os segmentos organizados da sociedade. O PT espera que a boa aceitação de Lula no Tocantins possa alavancar a candidatura de Mourão.

O deputado federal Osires Damaso (PSC) aposta no filão dos evangélicos. É o pré-candidato que melhor representa o segmento. Tocantinense de Paraíso do Tocantins, Damaso não tem nada a perder. No mínimo se tornará mais conhecido para as próximas disputas.

Laurez Moreira (PDT) e Ataídes Oliveira (Pros) mantêm o nome na disputa, mas são cada vez menos pré-candidatos ao governo. Ataídes ainda não tem partido para correr. Laurez tem partido, mas está comprometido com a reeleição do governador Wanderlei Barbosa.

O acirramento entre Wanderlei e Dimas só está começando. A tendência é aumentar conforme o desenvolvimento da campanha. O acirramento da disputa deixa o processo em aberto. Wanderlei e Dimas já provaram que têm condições de governar o Tocantins. Contam com aliados e militantes em todo o Estado. Mas terão de percorrer muito chão para consolidar suas candidaturas. Afinal, disputam o governo pela primeira vez. São conhecidos e prestigiados em suas regiões, mas não em todo o Estado. Quem conseguir levar a sua mensagem ao maior número de tocantinenses certamente tem tudo para vencer as eleições.