Deputado estadual pelo Pros, Professor Júnior Geo diz que prefeitura errou na gestão da Covid-19 e fala da pretensão de ser prefeito de Palmas

Deputado Júnior Geo: de olho na Prefeitura de Palmas | Foto: Cleober Taquara

O Professor Júnior Geo elegeu-se, em 2018, deputado estadual pelo Pros, após obter 10.944 votos. Anteriormente, havia sido eleito vereador em Palmas em 2012 e reeleito para o cargo em 2016. Nesta entrevista, o parlamentar faz reflexões sobre sua atuação como vereador e deputado, expõe suas posições em relação à gestão municipal, como também ressalta seus projetos para se tornar prefeito de Palmas, a partir de 2021.

José Luiz Pereira Júnior é tocantinense de Porto Nacional. Graduado em Geografia pela Universidade de Brasília (UnB) e pós-graduado em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais. É professor em diversos estabelecimentos de ensino e cursos preparatórios solidários, além de exercer cargo efetivo de professor no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFTO).

Considerando que o sr. é pioneiro em Palmas, como também já foi vereador na cidade e, agora, deputado estadual representante do município, qual é o seu sentimento em relação aos 31 anos de emancipação política, comemorada no último dia 20?
Palmas, por ser planejada, conseguiu se livrar de muitos problemas que muitas outras capitais enfrentaram. Contudo, outros já nasceram com a cidade. Por exemplo, as quadras residenciais deveriam ser assimétricas e semelhantes, no que concerne ao posicionamento das alamedas, de forma tal que todas elas fossem alinhadas da mesma forma. Também seria interessante que a sistemática de numeração fosse a mesma. Essa ausência de regra, nesse particular, dificulta a sequência lógica e o entendimento das pessoas, quer sejam moradores, quer sejam transeuntes. São equívocos pontuais que poderiam ter sido evitados.

Ainda assim, Palmas ainda está à frente de grande maioria dos municípios e de outras capitais, no que concerne ao planejamento e desenvolvimento. Durante os primeiros 27 anos, proporcionalmente, Palmas foi a cidade que mais cresceu no país. Esse crescimento está relacionado ao fato das pessoas que aqui se aportaram – oriundas de Goiás, Maranhão, Pará, Piauí, etc – terem acreditado que era possível crescer com a cidade. A força do trabalho e essa miscigenação trouxeram “uma cara” para Palmas, como uma cidade próspera e acolhedora.

As pessoas que moram aqui e que ajudaram erguer e construir essa cidade, têm orgulho dela. O entusiasmo é nítido, quando qualquer palmense – de nascimento ou de coração – é questionado sobre as belezas, facilidades e oportunidades que a cidade oferece.

Sou parte integrante dessa história. Enquanto professor, vereador e deputado, ajudei e ainda continuo ajudando – dentro das minhas possibilidades – a cidade crescer e prosperar. É com muita satisfação que encontro meus ex-alunos formados, trabalhando em órgãos públicos ou empresas privadas, com famílias constituídas e sendo felizes. Naturalmente, também fico feliz quando vejo que muitos projetos que apresentei e foram aprovados, beneficiam a população.

Logicamente, a cidade tem problemas que precisam de solução. Os vazios urbanos que se formaram é um deles?
Sem dúvidas, esse problema torna o “custo-Palmas” mais elevado. Encarece a limpeza urbana, o recolhimento do lixo, o transporte público e o deslocamento das pessoas em si. Se a cidade fosse mais adensada e concentrada, esse custo seria menor. A especulação imobiliária foi prestigiada pelas gestões e esses vazios foram criados, infelizmente.

Palmas tem uma extensão gigantesca, quase 30 quilômetros do último bairro da região sul ao derradeiro da região norte. Uma coisa é gerir 300 mil pessoas adensadas num plano diretor e outra, mais difícil e complicada, é gerir essa mesma população espalhada num raio de 30 quilômetros. Sem dúvidas, esses vazios são um dos grandes gargalos da cidade.

Porque o sr. quer ser prefeito de Palmas?
Como sempre disse, em outras entrevistas ao Jornal Opção, só entrei na política porque não encontrei candidatos que pudessem me representar como eu acho que deveriam fazê-lo.

Agora como deputado, procurei outras pessoas que já desenvolvem um bom trabalho em Palmas e que poderiam ser essa opção para serem candidatos a prefeito da cidade. Queria apoiar alguém e acho que, em razão do voto de confiança que obtive da população, era natural continuar lutando por essas pessoas na Assembleia Legislativa. Entretanto, infelizmente, não houve interesse de nenhum deles em abraçar no projeto. As pessoas têm medo de participar da política, assumir compromissos, responsabilidades e perderem suas liberdades individuais. Por isso, em nome do projeto, fui obrigado a colocar meu nome na disputa.

Preciso participar do processo evolutivo dessa cidade. Como já foi dito, sou deputado com os votos de Palmas, portanto, sou representante da capital no parlamento estadual. Mas não é o interesse puro e simples de ser prefeito que me motiva. Não é vontade apenas, mas sim a necessidade de ocupar o espaço para que possa concretizar as ações.

Junior Geo: “Não acredito que dinheiro ganha eleição”

Há uma prática no Brasil, há muitos anos, de ganhar eleições com a força do poder econômico. O sr. tem alguma alternativa para quebrar o paradigma já que tem reiterado que não tem “milhões” para gastar na campanha eleitoral?
O PROS fez pesquisas e o partido acredita que tem chances reais de eleger prefeitos nas seguintes capitais: Palmas, Cuiabá e Fortaleza. Eles pretendem distribuir o fundo partidário em candidaturas que realmente tenham chances de competir e ganhar. Por isso, acredito que farão investimentos na capital do Tocantins e isso já foi conversado com a executiva nacional do partido, com vistas a disputar em pé de igualdade.

Para mim, o dinheiro não é o que mais preocupa. Não acredito na máxima que o dinheiro ganha a eleição, em detrimento do candidato e suas propostas. Me disseram que sem dinheiro seria impossível ganhar qualquer eleição, mas, sem ele, me elegi duas vezes vereador em Palmas (2012 e 2016) e uma vez deputado estadual (2018). Não faz sentido fazer inúmeros compromissos para ganhar uma eleição e não ter como cumpri-los depois. O projeto não é esse, não posso “vender a alma”, comprometer a gestão, lotear as secretarias. Isso seria mais do mesmo. Não faço isso, sob nenhuma hipótese. Exatamente por isso – acreditando na consciência do eleitorado – creio que seja possível ganhar as eleições.

Quanto à chapa de candidatos a vereador, conseguimos angariar bons nomes, realmente competitivos. Respeitamos o compromisso de não filiar vereadores de mandato e tenho esperança de eleger – dentro da nova matemática da legislação – dois vereadores e, mais um, na sobra dos votos, mesmo porque acredito no “voto casado”. Se eu tenho esperança de me eleger, naturalmente, alguns vereadores da minha chapa também serão.

O sr. é, naturalmente, um defensor da educação, mas quais são os projetos para as outras áreas?
Na segurança pública, por exemplo, a prefeitura anunciou por três vezes o concurso público da guarda metropolitana. A última vez até compreensível em razão da pandemia. Mas a segurança pública é obrigação primária do Estado do Tocantins e, secundariamente, do município. A partir do momento em que a prefeitura começasse a assumir a segurança da cidade, o Estado teria condições de reescalonar policiais para o interior. É claro que o videomonitoramento é essencial nesta luta, porque podemos aumentar a segurança com custo muito menor. Teremos condições, até mesmo, de monitorar se a placa de um carro é clonada ou o veículo é roubado. 

Se falarmos em infraestrutura, posso citar o exemplo de não termos uma usina de asfalto no município. Por isso, somos obrigados a contratar, não é mesmo? Ora, e por que não poderíamos ter uma empresa Junior, cujos professores são altamente capacitados, para testar a qualidade do asfalto e das obras? Por que um funcionário público, que pode ser pressionado pela força do poder econômico, tem que ser o responsável pela fiscalização da obra? Temos condições, portanto, de fazer muito com boas ideias.

E quanto à saúde pública? O fato de Palmas não ter nenhum leito de UTI para atender sua população e sobrecarregar os hospitais do Estado – de forma cômoda – não é algo que lhe aflige?
Pela sua população – a maior do Tocantins – e pelo que representa no contexto, evidentemente que Palmas deveria contar com um Hospital Público Municipal ou, pelo menos, uma maternidade infantil. Há uma incomensurável demanda neste particular, pois todas as crianças que nascem em Palmas, não foram amparadas pelo município. Já deveria ter promovido esse investimento.

Penso que os gestores anteriores priorizaram a geração de lucros e arrecadação de impostos e, por pensar como empresários, consideraram a saúde como uma despesa, pura e simplesmente. Não é. A educação, a segurança e a saúde são causas sociais e devem ser consideradas dessa forma pelos gestores.  

Além disso, se analisarmos a forma como a prefeitura enfrentou a Covid-19 – nos postos de saúde – foi questionável. Não houve testagem em massa. Aliás, tenho notícias que a testagem foi seletiva. Permitiu que houvesse pânico e histeria na população. A cidade conta com UPAs tão somente. Não vejo ações efetivas, mesmo na assistência primária, às pessoas que precisam.

Ainda no tema saúde, enquanto deputado estadual o sr. analisou os decretos de calamidade pública editados pelos municípios tocantinenses, em razão da pandemia decorrente da Covid-19. Qual a sua percepção sobre esse momento que a população mundial enfrenta?
Vejo como substancial a ausência de líderes. Nos momentos de crise é possível perceber quem é líder ou não. Critico a falta de sincronia das três esferas de governo. É muito difícil conter o avanço da pandemia, uma vez que há uma capacidade de proliferação significativa do vírus. Porém, isso fica ainda mais difícil quando não há diálogo, nem tampouco as mesmas políticas públicas entre os poderes. Cada um deles dita uma norma diferente. Não houve consenso sequer sobre as regras e o tempo do isolamento, em relação aos Estados e municípios. Caso fosse sincronizado, esse isolamento, mesmo que fosse por duas semanas, teria evitado, e muito, a propagação do vírus.   

Atualmente, ao invés de dar sobrevida às pessoas ou ao comércio, os governantes estão simplesmente decretando calamidade pública e o fechamento do comércio. Me parece cômodo. Questiono as medidas adotadas no país e creio que nós poderíamos analisar as boas medidas e práticas adotados por outros países, colocando-as em prática no Brasil, diminuindo esses efeitos colaterais. Toda vez que atos políticos se sobrepõem ao problema, em detrimento da gestão, é preocupante.  

E quanto ao fato de alguns municípios terem adotado o protocolo da hidroxicloroquina no combate ao coronavírus?
Como professor, naturalmente, sou adepto da aplicação dos preceitos científicos. O que há de pesquisas de universidades brasileiras ou de outros países? Esse medicamento surtiu efeitos positivos ou negativos? Ou não houve alterações? Temos que ter acesso aos resultados, não dá para ficar no “achismo”. Precisamos de mais elementos, mais estudos, mais pesquisas para haver um posicionamento mais profundo. O problema é que os governos consideram que os investimentos em pesquisas são gastos supérfluos e desnecessários.

O sr. está engajado na luta dos servidores públicos do Estado do Tocantins, no que concerne aos prejuízos experimentados pelo Igeprev.

A CPI do PreviPalmas, que presidi na Câmara de Vereadores da capital, foi uma escola para mim. Aprendi muito sobre regime próprio de previdência, entre outros temas. O governo quer, agora, por meio de Medida Provisória, reduzir o número de conselheiros indicados pelos sindicatos dos servidores. Isso gerou polêmica. Na comissão, sou o relator da MP na Assembleia e acho que a redução não é a melhor saída.

Além disso, defendo a realização de concurso para servidores do Igeprev, para que servidores com capacidade técnica possam atuar no instituto, como também possam atuar como conselheiros, indicados nas cotas dos servidores.

O seu mandato tem se mostrado muito combativo no que concerne à luta pelos servidores públicos, como também pela educação. Quais têm sido seus projetos nesta área?
Infelizmente tive muita dificuldade no acesso à Secretária Estadual de Educação. Os deputados estaduais têm emendas impositivas e destinei grande parte das minhas às escolas espalhadas pelo Estado. A Secretaria só precisava apresentar as documentações para recebimento dos recursos, mas, para a minha surpresa, isso não ocorreu e o prazo se esgotou.

As verbas destinadas para o UFT e para IFTO foram liberadas porque os documentos foram apresentados, mas para as escolas estaduais não. Lamento muito esse tipo de comportamento, pois isso não contribui com o desenvolvimento do Estado do Tocantins. A educação abre mente e liberta as pessoas. É através dela que conseguimos mudar nossas realidades. Por isso, o meu incondicional empenho.