Pré-candidatos ao governo correm atrás do vice ideal
20 fevereiro 2022 às 00h00

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Composição da chapa majoritária pode significar meio caminho da eleição, o outro, o candidato vai conquistar depois da largada
Cada eleição é uma eleição. Com a lógica do seu tempo, condicionada pelas circunstâncias do momento, e principalmente pela postura dos atores envolvidos. No Tocantins, especialmente neste pleito, está surgindo algo de novo que pode representar uma revitalização da mesmice política que se arrasta por décadas.
Pela primeira vez na história política do Estado, projeta-se uma eleição sem a influência direta, e quase sempre decisiva, dos velhos caciques que comandaram o Tocantins desde a sua criação. Siqueira Campos (DEM), Moisés Avelino (MDB), Marcelo Miranda (MDB), que juntos somam 28 anos de poder – Siqueira, quatro mandatos; Marcelo, três e Avelino, um – ainda são lembrados e instigados a participar do processo, mas já não têm mais o prestígio dos velhos tempos, de transformar apadrinhados em líderes emergentes e poderosos.
O governador afastado Mauro Carlesse (PSL) que pretendia bancar um nome para o Palácio Araguaia, contrariando pretensões de aliados que se achavam em melhores condições de disputar as eleições majoritárias, parece uma carta fora do baralho. Seu prestígio político residia no fato de ocupar a cadeira de governador. Agora afastado, seu espólio político está sendo repartido, seus aliados agora são potenciais adversários, o que afasta pelo menos por enquanto, o risco de uso da máquina administrativa como instrumento de favorecimento eleitoral.
Sem os velhos líderes e seus apadrinhados a disputa parece equilibrada, instigante, menos previsível e naturalmente mais interessante do ponto de vista da conquista do voto, que indica o caminho do convencimento à imposição de esquemas políticos, construídos na base do assistencialismo. Neste pleito os principais nomes posicionados para a corrida entram na disputa pela primeira vez. São líderes regionais que estão sendo alçados ao plano estadual.
Este cenário novo que se apresenta sem favoritismos inflados pela força do compadrio, talvez explique porque a escolha do vice está se tornando uma verdadeira batalha tão importante e problemática quanto a definição do cabeça de chapa. A escolha do vice passou a ser uma decisão estratégica que pode dizer muito sobre o resultado final. Pode ajudar a construir a vitória ou contribuir para a derrota.
O vice pode somar maturidade, densidade eleitoral, aglutinação de partidos e sobretudo demonstração de equilíbrio na composição geográfica da chapa majoritária. Não é fácil encontrar um nome com perfil que preencha estas qualificações. Daí a preocupação de alguns pré-candidatos em dividir com todos os integrantes da chapa majoritária esses requisitos. Neste cenário ao vice recai a exigência de que represente os anseios de eleitores bairristas que tendem a votar em qualquer nome, desde que seja da sua região.
O governador em exercício Wanderlei Barbosa (Sem partido) e o ex-prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas (Podemos), que lideram as apostas como os nomes que têm capital político para polarizar a disputa, adotaram a mesma estratégia para escolha do vice. Correm atrás de um nome que complemente aquilo que lhes faltam. Não falam em nomes por enquanto, mas nos critérios de escolha. Os dois acumulam prestígio em seus colégios eleitorais, mas praticamente são desconhecidos em regiões distantes das suas. Wanderlei precisa de um vice do norte; Dimas, do sul.
Dimas e Wanderlei são fenômenos regionais. Dimas tem boa aceitação no norte pelo bom trabalho que desempenhou à frente da Prefeitura de Araguaína durante oito anos, tendo feito o sucessor, e por extensão do eco da sua gestão tem forte prestígio no Bico do Papagaio. Para se tornar um candidato competitivo precisa conquistar o centro, o sul e o sudeste. Pela densidade eleitoral tanto o sul quanto o centro são importantes na composição de sua chapa. Os números das pesquisas seguramente estão apontando que o seu problema não é o centro, mas o sul e sudeste, onde a boa imagem da sua obra não chegou.
Wanderlei tem boa cotação no centro e ganhou credencial para conquistar o sul com a filiação de Laurez Moreira ao PDT. Por influência da longa carreira política, desde de 88, tem influência no sudeste e precisa conquistar o norte e o Bico do Papagaio. Como é um líder da região central, grande Palmas, terá que indicar um vice do norte, de preferência de Araguaína, para dividir o território do adversário, mas que também tenha liderança no Bico do Papagaio, região que eleitoralmente responde por um terço do colégio eleitoral do Tocantins.
Wanderlei demonstrou mais habilidade neste quesito. Arrancou Laurez Moreira da chapa de Dimas, deixando o ex-prefeito falando sozinho quando percebeu que o projeto de parceria alentada com o colega Laurez nunca passou de jogo de cena, sem o real compromisso de um projeto que contemplasse as pretensões dos dois, em que um teria que ceder. Dimas perdeu o que considera o vice ideal, para o seu discurso de gestor competente, o ex-prefeito da terceira maior cidade do Estado que deixou a prefeitura bem avaliado.
O mais importante desse capítulo dos vices, Wanderlei conquistou Laurez sem comprometer a vaga de vice que me parece reservada para um nome do norte. Laurez foi recebido no PDT como um coringa, que pode desempenhar qualquer papel, desde que seja fundamental para a vitória. É possível que Laurez, ainda pré-candidato ao governo, no final não seja vice nem candidato ao Senado, mas o homem forte da gestão de um eventual segundo governo Wanderlei Barbosa.
Por sua vez Ronaldo Dimas persegue um vice da região sul. Depois de perder o vice dos sonhos o ex-prefeito foi bater na porta da prefeita de Gurupi, Josi Nunes (União Brasil) e acenou com a possibilidade de aliança. Josi tem uma imagem bastante ligada ao governador afastado Mauro Carlesse (PSL). Sua eleição se deve ao apoio ostensivo do governador que jogou o peso da máquina para decidir a eleição. Uma união difícil em função das críticas de Dimas ao governo Carlesse, mas possível em função das circunstâncias da disputa.
Os outros pré-candidatos – senador Eduardo Gomes (MDB), ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB), ex-prefeito de Gurupi, Laurez Moreira (PDT), senador Irajá Abreu (PSD), ex-senador Ataídes Oliveira (PROS), ex-deputado Paulo Mourão (PT), e o deputado federal Osires Damaso (PSC) também estão se movimentando, mas não com a mesma desenvoltura de Wanderlei e Dimas.
O senador Eduardo Gomes (MDB) confessa que sequer definiu se será mesmo candidato, como tem sido anunciado. Trata a filiação ao PL como especulação e anuncia que a partir de março vai dedicar mais tempo às eleições. Por enquanto está focado no cumprimento do mandato. Se não for candidato Gomes estará no palanque de Ronaldo Dimas, com quem mantém forte amizade e estreia relação política.
Paulo Mourão (PT) é nome certo na disputa, muito mais para formar palanque para o presidente Lula do que propriamente por um projeto para o Tocantins. O petista pretende percorrer todo o Estado com a Caravana da Mudança, levando a mensagem de esperança de novos dias e convocando a militância para a defesa da democracia.
O ex-senador Ataídes Oliveira (PROS) e o deputado Federal Osires Damaso (PSC) mantiveram encontro e selaram o compromisso de caminharem juntos no fortalecimento da terceira via. Ataídes também está mudando de partido, troca o PROS pelo PTB, seis por meia dúzia.
Pelos menos três dos pré-candidatos – ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB), ex-prefeito de Gurupi, Laurez Moreira (PDT), senador Irajá Abreu (PSD) – mantêm seus nomes na disputa, mas não por muito tempo. Irajá Abreu e Laurez Moreira já não escondem que trabalham para o fortalecimento de uma grande frente partidária de apoio à reeleição do governador Wanderlei Barbosa, que inclui ainda a senadora Kátia Abreu (PP), o deputado federal Vicentinho Júnior (PP) e o ex-senador Vicentinho Alves (PP). Amastha tem mantido silêncio sobre suas pretensões, enquanto seu partido, PSB, caminha para os braços do governo.
Como se vê, a fila anda. Dos nove pretensos candidatos do início da corrida, nos próximos dias deve reduzir para seis. Os analistas acreditam que apenas três candidatos devem concorrer, aumentando ainda mais as possibilidades de polarização e decisão no segundo turno. Quem quer que seja eleito haverá renovação e possibilidade de início de um novo ciclo político no Estado. Nesta altura da corrida a disputa ainda segue pautada nos interesses eleitoreiros e não em projetos para o Tocantins. Que venha esse momento do debate do plano de governo.