Presidente do PMDB acredita que a expulsão da senadora Kátia Abreu será confirmada pela direção do partido

Foto: Carlos Roberto

Lembrando que os dois primeiros anos da administração estadual foram de extrema dificuldade, o presidente estadual do PMDB, Derval de Paiva, diz que houve significativa melhora a partir deste ano. Goiano da cidade de Cumari, mas radicado no Tocantins desde a criação do Estado, Derval tem um vasto currículo político. Advogado desde 1977 (graduado pela Faculdade Anhanguera de Ciências Humanas, em Goiânia), dedica-se atualmente à agropecuária. Filiado ao antigo MDB, foi eleito deputado estadual em Goiás em 1970, 1974 e 1978. Migrou para o PMDB, de onde nunca mais saiu, ainda em 1980, após a abertura política que permitiu o pluripartidarismo no Brasil. Em 1982, foi eleito o primeiro suplente do senador Mauro Borges (PMDB), chegou a ser convocado para o exercício do mandato. Após a criação do Estado do Tocantins, pela Constituição Federal de 1988, foi eleito deputado federal em 1990. Disputou uma vaga ao Senado em 1998, sem êxito. Em 2004, foi eleito vice-prefeito de Palmas na chapa de Raul Filho, que houvera conquistado seu primeiro mandato.

O sr. sempre se mostrou um entusiasta da campanha de Marcelo Miranda ao governo do Estado do Tocantins em 2014, tendo declarado isso ao próprio Jornal Opção, em entrevista, cinco meses antes do pleito. As urnas provaram que o sr. estava certo, contudo, não pode ser desconsiderado o fato que o grupo que ocupava o Palácio Araguaia estava, por si só, muito desgastado. Esses desacertos anteriores, por consequência, aportaram como uma espécie de herança maldita, uma vez que ao assumir, Miranda foi obrigado a administrar o caos, que chegava até mesmo a inadimplência da folha de pagamento do funcionalismo público. Questiona-se: valeu a pena?

Tínhamos conhecimento da existência do caos, mas pensávamos que seria mais fácil administrá-lo. O que se encontrou, foi um Estado em situação de penúria, anormalidade absoluta. Uma administração desastrosa, atolada em dívidas, que refletia no funcionamento da educação, saúde e segurança, os tripés de qualquer governo.

Inobstante a tudo isso, horas antes de tomar posse, Marcelo Miranda enfrentou, em sua própria casa, o desacato provocativo, um achincalhe por parte da senadora eleita Kátia Abreu, em razão de sua resistência em fatiar a gestão. Tal atitude causou um transtorno e um impacto político sem precedentes. Estávamos todos alinhados para começar um novo tempo e todos aqueles que acreditaram naquele projeto se assustaram com o rompante da senadora, que causou um tumulto sem precedentes e, evidentemente, desnecessário. Esse imprevisto rompimento influenciou significativamente nas reformas administrativas que seriam implantadas no primeiro dia de governo, caso houvesse coesão da chapa eleita pelas urnas.

Entretanto, Marcelo é um gentleman, uma figura humana extraordinária, que mesmo agredido, não revidou. Me contrariando, inclusive, não colocou as cartas na mesa, não expôs as vicissitudes da ex-aliada. Cauteloso, tomou posse, ergueu a cabeça e iniciou o projeto que se propôs a executar durante a campanha eleitoral, mas que demorou a tomar forma, em razão da falta de apoio, como também, pelo desgaste político que o rompimento causou.

Esse comportamento nada convencional da senadora se estendeu ao longo do tempo. Ignorando os princípios éticos-partidários, ela agrediu pessoas e instituições. Logicamente, isso lhe rendeu desafetos que se mantiveram inertes, enquanto ela exercia o cargo de ministra da Agricultura, mas que após o impeachment, rebelaram-se e pediram sua expulsão da sigla. Qual é o seu sentimento em relação ao delicado processo de expulsão que ela enfrenta hoje em proporções nacionais dentro do partido?

Primeiramente, quero dizer que vou colocar o elemento afetivo em primeiro lugar, pelo profundo respeito que tenho pelos dois filhos dela, Irajá e Iratã. Sempre me resguardei o máximo para não adjetivá-la mal, em função da parcimônia e respeito pelos dois rapazes. Por alguns encontros e diálogos, eu pude perceber que eles – assim como eu – gostariam que tudo houvesse caminhado de forma diferente, visando a coalizão.

Contudo, veio a proposta de expulsão por parte do diretório baiano, que considerou as atitudes da senadora como infidelidade partidária. Tenho, por princípio, evitar a expulsão. Recebo democraticamente todos que querem se filiar ao partido, assim como não lamento a atitude de membros que querem se retirar, e enfatizo que já perdi membros valorosos. Todavia, a expulsão da senadora é uma questão de tempo. A bancada federal é uníssona que o comportamento dela deve ser punido, em função das repetitivas agressões a membros do partido e desrespeito a unidade da sigla. Na minha visão, alternativa não há ao presidente Romero Jucá, senão homologar a expulsão. É automático: ela desejou isso, na tentativa de fazer uma polêmica para as próximas eleições, mas creio que ela passou dos limites.

Superados todos esses percalços, parece-nos claro que o governo tomou um novo fôlego há alguns meses, com a retomada dos investimentos e inaugurações de obras. Qual é a avaliação geral desses dois anos e meio de mandato?

Os dois primeiros anos foram de extrema dificuldade. Houve significativa melhora a partir de 2017, mas estamos longe do ponto que gostaríamos que estivesse. Contudo, o governo pegou prumo e trilha um novo rumo. Em que pese o tempo ser escasso, seria necessária uma pesquisa científica para demonstrar os avanços. Essa mesma coleta de dados poderia definir, também, o futuro político do governador. Tenho a cautela de falar como presidente do partido dele, e hoje, não é possível definir se é mais viável disputar a reeleição ou a viabilidade de se tomar um novo rumo político.

Mas se analisarmos o contexto político hoje, o único adversário à altura do governador seria o prefeito de Palmas, Carlos Amastha. Ocorre que a PEC que proíbe brasileiros não natos de se candidatarem a governador e ao Senado, em trâmite na Câmara Federal, já foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça e tem parecer favorável do relator da matéria. Neste caso, é bem provável que se seja aprovada, mesmo porque o prefeito de Palmas não possui muitos aliados no Congresso Nacional, e consequentemente, terá poucos votos a seu favor. Nestas circunstâncias, o caminho da reeleição já não estaria aberto para Marcelo Miranda, face à nítida ausência de adversários?

Para responder sua pergunta, preciso voltar aos velhos tempos em que fiz reuniões políticas no então Norte de Goiás, no ano de 1988. Eu vi faixas e ouvi apupos que eu era um forasteiro, um paraquedista, e que deveria voltar para Goiás. Respondi que não me considerava como tal e, exemplificativamente, pedi no discurso para que Henrique Santillo, então governador de Goiás, não voltasse para São Paulo; que Moisés Avelino não voltasse para o Piauí; que a família Galdino não voltasse para o Maranhão; que todos ficassem aqui para que pudéssemos construir o Estado do Tocantins juntos.

Dessa forma, não vejo ninguém como forasteiro. E mais: não vejo nada de extraordinário nesse moço que hoje governa a nossa capital. Não enxergo nele nenhuma ameaça, nenhum problema nem tampouco algo que represente perigo. Ele foi reeleito, em 2016, com alto índice de rejeição, em virtude do racha da oposição e da vulnerabilidade política e eleitoral dos adversários. A eleição dele é o resultado – apenas e tão somente – do desequilíbrio das direções partidárias adversárias, na medida em que, se a oposição houvesse se aliado, hoje Amastha não seria o prefeito de Palmas.

No que concerne à base política do PMDB no Tocantins, partido do qual o sr. é o presidente estadual, compõem-se de 2 deputados federais, 4 deputados estaduais e, após o pleito de 2016, conseguiu eleger 17 prefeitos, entre os quais, os gestores de cidades importantes, como Araguatins, Miracema, Miranorte, Paraíso, Xambioá. Foi o partido mais votado naquela eleição, recebendo 78.286 votos em chapas majoritárias. Qual é a sua avaliação acerca dessa representatividade?

O resultado pode ser considerado expressivo, contudo, há que se ressaltar que há também uma significativa quantidade de votos peemedebistas que foram “transferidos” para candidatos de outros partidos, os quais estávamos aliados. Também é necessário enfatizar que as eleições, em âmbito municipal, não é o melhor termômetro para se medir partidarismo. Há uma miscigenação de pessoas e siglas e, exatamente por isso, o resultado pode ser considerado satisfatório.
Quanto à Câmara Federal, temos duas deputadas do PMDB, mas a base de sustentação do governo é mais ampla e a bancada tem votado de forma coesa.

Em Palmas, o PMDB tem apenas um vereador, Rogério Freitas. Não é muito pouco para uma sigla dessa magnitude num contingente eleitoral tão amplo como o da capital?

Trata-se de um sujeito muito aguerrido, combativo, belo parceiro da executiva estadual e metropolitana, enfim, um grande valor. Contudo, a grande verdade, que explica termos eleitos apenas um vereador em Palmas, é o fator coligação. O modelo político brasileiro está equivocado.

se a oposição houvesse se aliado na eleição na capital em 2016, hoje Amastha não seria o prefeito de Palmas”

Como presidente da sigla no Estado, o sr. tomou posição e exigiu que a base do PMDB tocantinense saísse da bancada de sustentação da ex-presidente Dilma Rousseff, mesmo enfrentando algumas resistências internas. É uma das peculiaridades do cargo de presidente de partido, encabeçar as decisões, ainda que os membros não concordem ou demonstrem contrariedade?

Entendi que não dava mais para assumir o desgaste que nos encontrávamos, uma vez que o desgaste nos consumia, aliado ao fato da sociedade exigir respostas e tomada de posição.
A bem da verdade, creio que não havia e não há, ninguém mais preparado politicamente para assumir o cargo que o presidente Michel Temer. Do momento da transição, até a entrega do cargo ao novo presidente, que será eleito em 2018, o trânsito político deve ser exercido por alguém que conhece a fundo o Congresso Nacional.

Em termos nacionais, o sr. considera que foi um erro se aliar ao PT?

Não havia, naquele momento, alternativa que nos desse segurança para um outro passo. Não compusemos chapa com o ex-presidente Lula, por exemplo, contudo, com a Dilma era o melhor caminho partidário àquela época. A reeleição foi consequência, apenas o prosseguimento do projeto que já estava em execução, entretanto, não imaginávamos que ocorreria um desastre daquela proporção. O vice-presidente não responde pelos atos do presidente e muitas vezes, sequer é convocado a participar das decisões. Todavia, é importante ressaltar que Michel teve a cautela de fazer sua campanha eleitoral de 2016 com CNPJ próprio, desvinculando-se da campanha da ex-presidente Dilma. Isso foi objeto de apreciação pelo TSE e será – praticamente – a salvação de Temer.

Sua militância no MDB remonta à década de 1970, época em que se lutava veementemente contra a ditadura e pela implantação do estado democrático de direito. Como se deu esse envolvimento e quais as conquistas que considera como legado dessa luta?

Fui fundador do MDB, exerci mandatos de deputado estadual pela sigla. A luta foi realmente árdua. Lembro-me que a consciência política dos brasileiros chegou ao ápice em 1974, quando a sigla ganhou as eleições para o Senado em 16 dos 21 Estados. Foi uma demonstração de resistência ao regime ditatorial, vez que foram 16 derrotas da Arena que tiveram muita simbologia, sendo, inclusive, tema de livro. Só houve nova demonstração de consciência política no movimento “diretas-já”. Em contrapartida, a grande massa de eleitores, esquecidos dessa consciência, elegeu Fernando Collor de Mello em 1989. Uma dicotomia comportamental, que apesar de soar estranho, é comum em todo mundo, mas especificamente no Brasil, foi de extrema infelicidade para o País.
Após o exercício dos mandatos de 70, 74 e 78 como deputado estadual em Goiás, também fui candidato, em 1982, a suplente de senador na chapa encabeçada pelo saudoso Mauro Borges, que havia sido deposto e caçado do governo em 1964. À época, ultrapassamos os 400 mil votos e fizemos uma espécie de brincadeira que os “cassados” que regressaram ao país – entre os quais, o próprio Mauro e Iris Rezende – iriam “caçar” aqueles que representavam a velha política. Creio, enfim, que pude contribuir muito, em todos os aspectos, pela redemocratização do país.

E o sr. chegou a assumir o mandato?

O próprio Mauro Borges propôs o revezamento semestral. Contudo, com a instituição do senador biônico, nomeado pelo presidente da República, houve um desgaste político que envolvia também o senador Lázaro Barbosa. Entretanto, em outubro de 1983, acabei por assumir, por um pequeno período, uma cadeira no Senado Federal, quando ainda discutíamos as eleições diretas para presidente da República, bem como, a Constituinte que ocorreria em 1988.

Em junho daquele ano, de forma bastante elegante, quando se aproximou a época de votar as emendas constitucionais, Mauro Borges me escreveu uma carta, em que dizia que todas as Emendas à Carta Magna já haviam sido propostas, visto que o prazo fatal houvera se encerrado em maio. Contudo, cumpria a ele o dever de me informar que o pacto pelo revezamento permanecia incólume. Dizia ele: “penso que o Sr., por certo, não terá maior interesse em defender as minhas emendas, que estão muito voltadas à área de segurança”. Respondi a ele, também por carta, que já havia recebido a informação que na Comissão de Sistematização, o senador José Richa iria abrigar a emenda que criaria o Estado do Tocantins. Neste caso, uma vez promulgada a Constituição em outubro, o Tocantins passaria a existir e essa seria minha opção. Portanto, sendo aquele mandato pertencente ao Estado de Goiás, ele próprio deveria, doravante, exercê-lo em sua plenitude.

Dentro desse contexto, o que definitivamente atraiu o sr. para esta região?

Dez anos antes, ainda na campanha eleitoral de 1978, fiz um porta-títulos com o fragmento de um discurso do saudoso Ulysses Guimarães, com seguinte slogan: “Constituinte, com trabalho e justiça para todos”. Eu já possuía uma propriedade rural no município de Guaraí, e fiz campanha no então Norte de Goiás e todas as ações políticas do partido, de Paraíso ao Bico do Papagaio, eram desenvolvidas nesta fazenda. Até hoje nos reunimos por lá, e o local acabou por se tornar uma espécie de quartel-general do PMDB.

A criação do Estado do Tocantins passou mais de 170 anos de luta, e em 1988 eu estava mais do que envolvido na história e com o movimento separatista. A divisão foi ótima, não houve perdas, apenas ganhos, tanto para o Estado do Tocantins como para Goiás.

Quero fazer o registro de um fato histórico interessante: tenho profundo respeito pelo cidadão José Wilson Siqueira Campos, pela sua luta, história e trabalho. Contudo, é necessário lembrar que ele votou contra a instalação da Constituinte, que acabou por criar o Estado do Tocantins.

Posteriormente, ele se beneficiou disso, mas é fato que ele votou em Paulo Maluf, na eleição indireta, quando o grande timoneiro das mudanças era Tancredo Neves, que foi substituído, em razão de seu falecimento, por José Sarney, que, diga-se de passagem, cumpriu todos os compromissos do presidente eleito. Isso é um fato histórico, não há controvérsias. O contraditório é que Siqueira acabou por se beneficiar de algo que ele votou contra, porque sem Constituinte não haveria Estado do Tocantins.

Entre eleições para deputado estadual e senador, o sr. foi eleito vice-prefeito de Palmas, na chapa encabeçada por Raul Filho, nas eleições de 2004. De que forma isso contribuiu para sua extensa trajetória política?

Foi bastante fértil e muito bom que ocorresse. Assumi a Prefeitura de Palmas por vários meses, fruto de uma estratégia política do nosso grupo, e obtivemos bons resultados, entregando várias obras, contribuindo com o crescimento da capital.

Contudo, o objetivo maior era mostrar ações efetivas de oposição ao grupo denominado UT – União do Tocantins, liderado, à época, pelo ex-governador Siqueira Campos.

Raul Filho já havia perdido duas eleições, a primeira porque a oposição não se uniu e em razão de divergências próprias, ele e Freire Junior, foram derrotados por Odir Rocha, representante da UT, à época. Já a segunda derrota, mesmo Raul Filho sendo oposição viva e ativa, foi em razão do sr. José Augusto Pugliese insistir numa candidatura oposicionista que acabou por angariar pouco mais de 1.700 votos, que foi exatamente a diferença que faltou a Raul para ganhar a eleição de Nilmar Ruiz, outra representante da UT. Resumindo: o próprio PMDB inviabilizou as vitórias de Raul Filho, em ambas as eleições.

Na terceira pretensão dele, ficou definido que o nosso partido deveria entrar na disputa com um nome representativo e que agregasse o grupo, impedindo rachas. À época, meu nome foi escolhido para compor a chapa. Relutei, pois essa não era minha pretensão, acreditando que o melhor nome para compor com Raul seria o deputado Eli Borges. Todavia, não tive como fugir e então permiti o registro do meu nome, enfrentando a disputa. Saímos vitoriosos, graças a Deus, não permitindo a reeleição da então prefeita Nilmar Ruiz.

Essa composição acabou por unir o partido e viabilizou, por exemplo, a pretensão de reeleição do governador Marcelo Miranda, em 2005, contra Siqueira Campos.

Ocorre que na reeleição de Raul Filho, em 2008, o PMDB voltou a se dividir, viabilizando uma candidatura natimorta de Nilmar Ruiz, que dividiu os votos oposicionistas e permitiu que Raul, mesmo com baixos índices de popularidade, ganhasse a eleição…

Eu fui absolutamente contrário a essa candidatura. Me rebelei contra os comandantes do PMDB à época, porque o acervo peemedebista local não votaria em quem havíamos derrotado na eleição anterior. A ampla maioria preferia Raul Filho à própria Nilmar ou Marcelo Lellis, o representante da UT, naquela eleição. Tenho certeza que quem pensou o contrário tem profundo arrependimento até hoje.

Segundo a imprensa e também os adversários, seu partido é um verdadeiro “balaio de gatos”, em que os próprios membros não se entendem. O PMDB é, na acepção do termo, partido e dividido?

O movimento que originou o PMDB sempre teve várias de frentes, entre as quais, a que venceu a ditadura. É uma herança que coexiste dentro do partido, que abriga três ou quatro tendências ideológicas. Para nós, é importante fomentar a discussão de ideias e as divergências internas são absolutamente naturais. A letra “D” na sigla do partido significa Democracia. São frentes, tendências, oriundas dos mais diversos pensamentos dos seus membros, que são, efetivamente, respeitadas.

E quantas tendências ideológicas haveria dentro da própria sigla e no país como um todo?

Quando pluripartidarismo foi implantado, não pensávamos que se expandiria tanto, mais de 30 siglas partidárias. Esse “mar de partidos” deixou de ser benéfico para a nação brasileira e se tornou, por assim dizer, diarréico e, sem dúvidas, está fazendo mal ao País. Se analisarmos detidamente, as ideologias partidárias dificilmente passariam de cinco. Caso retroagíssemos ao período que antecedeu a ditadura, constataríamos que a essência das ideologias já estava impregnada nas ideias defendidas pelo PSD, PTB, UDN, Partido Comunista (PC) e o Partido Democrático Cristão (PDC).

Mas essa linha tênue entre liberdade e libertinagem quase levou a candidatura do governador Marcelo Miranda, em 2014, à bancarrota. O PMDB enfrentou, à época, problemas internos de toda sorte, sendo necessário, inclusive, a intervenção do então presidente nacional da sigla, Michel Temer, que acabou por viabilizar a chapa e a legenda que alçou Miranda ao Palácio Araguaia. O afastamento do ex-deputado Junior Coimbra da presidência do partido foi feita, praticamente, a fórceps. Como o sr. avalia todos aqueles acontecimentos?

A resposta não pode ser sintetizada. A candidatura do Marcelo Miranda em 2014 era inteiramente palatável, interna e externamente, e isso restou provado. Analisando as ocorrências havidas durante a gestão das forças situacionistas daquele momento – Siqueira Campos e, posteriormente, Sandoval Cardoso –, nos pareceu claro que o maior desejo deles seria uma candidatura de Junior Coimbra, pela oposição.

Por outro lado, tínhamos o exemplo da situação havida na eleição municipal de Palmas, em que o Marcelo Lellis estava praticamente com a eleição na mão, mas deixou escapar pelos vãos dos dedos, ao conjecturar e trazer para ser sua candidata a vice a ex-vereadora Cirlene Pugliese, que representava, pelo menos a princípio, uma ala do PMDB metropolitano. Isso foi o suficiente para que a própria sociedade o rejeitasse. Sem a referência política de João Ribeiro, a outra candidata, deputada Luana Ribeiro, não apresentou torque para alavancar sua candidatura. Isso fez com que Carlos Amastha fosse eleito.

Não queríamos em âmbito estadual que esses equívocos e erros de estratégia se repetissem. Por isso, foi necessária a intervenção partidária. Já havíamos conseguido a elegibilidade jurídica, mas nos faltava legenda, uma vez que o nosso próprio partido caminhava, mesmo que camufladamente, propenso a apoiar a chapa governista.

Os analistas dizem que o “problema” é que o preço dessa intervenção, foi a senadora Kátia Abreu ter vindo a tiracolo. Concorda?

A vinda da Kátia foi o ônus, em que pese, à época, ter sido muito importante. Não podemos ignorar que a presença dela nos reforçou, visto que uma ala do nosso partido já estava, por assim dizer, nos “braços de Morfeu”. Além disso, ela já era senadora, já detinha mandato eletivo e isso era de extrema importância para o grupo naquele momento. Era uma voz que poderia mostrar, como de fato mostrou, a importância da evidência do Marcelo junto à população tocantinense. Foi uma soma de fatores, portanto, que deve ser maximizada e foi importante para aquele processo político.