Giovanni Assis: “Vamos iniciar a estruturação turística de Palmas”
09 julho 2023 às 00h00

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O presidente da Agência de Turismo de Palmas, Giovanni Assis, defende uma nova compreensão sobre o destinatário das políticas públicas de turismo, que tradicionalmente são direcionadas para os turistas. “Se eu tenho um destino turístico interessante para o próprio morador da cidade, certamente eu vou oferecer uma experiência também interessante para o turista que vem nos visitar. Então, política de turismo se faz para quem mora na cidade”, ressalta, o gestor.
Giovanni aponta que o Destino Palmas é rico em atrativos e mistura a arquitetura de uma cidade planejada com natureza e patrimônio arqueológico. “Esta nossa terra é muito abençoada. Temos as belezas naturais muito fortes, muito potentes, mas com essas experiências do pôr do sol e do lago. A gente tem a praia que é efetivamente um atrativo que movimenta a cidade em julho, no que diz respeito ao turismo, mas nós temos Taquaruçu Grande com o turismo rural, e a Serra do Lajeado, com inscrições rupestres. Então ao mesmo tempo que somos a cidade mais nova do País, nós temos pinturas que remontam a atividade humana nesse lugar há 12 mil anos. Então, nós somos jovens e antigos ao mesmo tempo”, destaca o gestor, que inclui ainda, como fator de atratividade, o clima ameno do distrito de Taquaruçu, no alto da serra.
O presidente anuncia que uma nova parceria com o Sebrae está sendo formatada com vistas à estruturação turística de Palmas, seguindo o que foi realizado em Taquaruçu. “Temos o entendimento de que a gente precisa avançar e já iniciamos uma conversa com o Sebrae, no sentido de formatarmos um novo convênio que vai olhar agora para uma estruturação turística de Palmas, continuando o que aconteceu em Taquaruçu, para que os empreendedores de Palmas tenham a oportunidade de se desenvolver enquanto negócio de turismo como os de Taquaruçu”, ressalta.
Giovanni é arquiteto de formação que esteve ao longo do governo de Cinthia Ribeiro (PSDB) cuidando da área da cultura. Ele conta que, no início, teve a preocupação de se afastar da visão de cultura para se apropriar de uma visão de turismo, mas logo percebeu que os dois campos são complementares e que as experiências resultam em conhecimento cumulativo necessário para a gestão de qualquer setor.
Goiano de Jataí, Giovanni é arquiteto e urbanista, formado pela PUC Goiás e atual presidente do departamento do Tocantins do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-TO). Foi diretor de Obras da Secretaria de Educação do Estado e presidente da Fundação de Cultura de Palmas, antes de assumir o comando da Agtur. Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção, Giovanni revela que as pesquisas apontam Palmas como destino de turistas de várias origens do Brasil e até do exterior, que procuram a cidade para passar férias. Ele comenta também o conceito de comida afetiva, que é a nova “pegada” do Festival Gastronômico de Taquaruçu.
O cliente da política de turismo não é o turista, mas o morador local
O Tocantins em julho é temporada de praia e grande parte do fluxo turístico passa por Palmas que é um destino com forte atrativo. Como o sr. avalia a temporada como produto turístico?
A primeira coisa que fiz quando cheguei na Agtur foi uma viagem a Brasília para conhecer o Ministério do Turismo e tive o entendimento que uma pergunta básica que se faz quando ao se olhar para as políticas de turismo é quem é o cliente dessas políticas? Você poderia dizer, é o turista. Eu te digo que não é o turista. E olha que bacana a gente parar para perceber que se eu tenho uma cidade, se eu tenho um destino turístico interessante para o próprio morador da cidade, certamente eu vou oferecer uma experiência também interessante para o turista que vem visitar. Então, política de turismo se faz para quem mora na cidade, essa é a primeira compreensão.
Você fala de temporada de praia. A primeira questão é que no mês de julho especificamente a gente precisa ter um olhar e oportunizar experiências interessantes para o turista que vem nos visitar, mas definitivamente experiências interessantes para nós palmenses que consumimos Palmas nesse período de descanso ou as vezes mesmo para pessoas que vão trabalhar no mês de julho, mas que no final de semana vão poder ter um, dois dias de folga e sair com a família. Então, eu acho que nós temos que ter primeiro, o olhar de que essa temporada de férias que a gente chamou de Palmas Férias 2023, a gente precisa olhar com carinho para o próprio palmense que quer ter a sua atividade de lazer e a atividade de cultura, mas para além disso eu acho que a grande novidade dessa temporada é a gente olhar o território como todo, entendendo que no Destino Turístico Palmas nós temos uma série de potencialidades. Palmas em si por ser uma cidade planejada e por ser a capital mais jovem do Brasil, só isso já gera um interesse, uma curiosidade, isso já é um fator de trazer pessoas para conhecer a nossa capital.
Nós temos um lago fantástico com um pôr do sol maravilhoso, que a gente diz ser o mais bonito do Brasil
Como o sr. avalia os aspectos de atratividades do destino serras e lago?
Nós temos esse Lago [da Usina de Lajeado] fantástico com esse pôr do sol maravilhoso que a gente diz ser o mais bonito do Brasil. Eu não sei se você teve a oportunidade de assistir a lua cheia nascendo do outro lado da Serra (do Lajeado) e do lado do Lago o sol se pondo, as últimas luzes amareladas do pôr do sol. Essa nossa terra é muito abençoada. Temos as belezas naturais muito fortes, muito potentes, mas com essas experiências do pôr do sol e do Lago, a gente tem a praia que é efetivamente um poder em referência ao turismo, mas nós temos Taquaruçu Grande com o turismo rural, temos a serra do Lajeado com inscrições rupestres, então ao mesmo tempo que somos a cidade mais nova do País, nós temos instalações, pinturas que remontam atividade humana nesse lugar há 12 mil anos, então nós somos jovens e antigos ao mesmo tempo e isso certamente desperta a curiosidade e nós temos Taquaruçu com frio. Então nós temos a oportunidade de ao mesmo tempo curtir o calor da praia durante o dia e subir a serra e curtir um friozinho de 18, 17, 16 e dizem que vai chegar a 13 graus esse ano.
Esse ano, acho que o olhar da prefeitura de Palmas, foi ter a sensibilidade de compreender essa diversidade de possibilidades
Como a prefeitura organizou a programação da Temporada de Férias?
Esse ano acho que o olhar da prefeitura de Palmas, da prefeita Cinthia foi ter a sensibilidade de compreender essa diversidade de possibilidades e organizar uma série de atividades para três praias da cidade, mas poque três se temos cinco? Isso é importante a gente dizer. Nós temos a praia das Arnos, praia do Prata e praia da Graciosa com atividades da prefeitura, mas ainda temos a Praia do Caju e a Praia do Buriti. A do Buriti é uma praia particular então a prefeitura não interfere nesse território e a Praia do Caju eles tem uma associação de comerciantes que é muito forte e lá eles próprios se movimentam e estabelece a sua programação nesse período de férias. Então nós investimos com recursos públicos nas três praias. Praia das Arnos e Praia do Prata compreendendo que elas têm uma movimentação que começa mais cedo, então a programação começa todos os finais de semana, sábado e domingo a partir das 15 horas e na praia da Graciosa que é efetivamente uma praia mais de contemplação a partir do pôr do sol com programação que começa a partir das 18 horas. E também nessas três praias teremos uma parceria com a Fundesportes de montagem e orientação para modalidades esportivas ligadas à praia. Futevôlei, beach tênis, futebol de areia, vôlei de areia e um programa que a Fundesportes desenvolve que chama Palmas mais fitness que são aulas de dança; e para quem não gosta de curtir praia, no meio do mês de julho vamos ter Palmas Cross run Cesamar, que é uma trilha no Parque [Cesamar] que temos notícia que as inscrições já estão encerradas e para finalizar o final do mês, a Meia Maratona de Palmas que a chegada será na Praia da Graciosa. Então, praias bombando esse mês.

Ainda tivemos o olhar para nossas feiras, que são grandes locais de manifestação da cultura popular
Mas ainda tivemos o olhar nas nossas feiras que são grandes locais de manifestação da cultura popular, nós potencializamos isso junto com a Sedem [Secretaria de Desenvolvimento Econômico], e estamos executando o Projeto Tem música na feira nos finais de semana e todos os domingos na Feira do Bosque com atrações musicais, e Taquaruçu, onde a gente fomenta e apoia eventos organizados pela própria comunidade. Tivemos o Festival do Circo de Taquaruçu que chegou no seu décimo ano, temos nesse final de semana o Sexto Jardim Encantado, Festival das Flores e a partir do terceiro final de semana a gente monta uma estrutura com praça de alimentação, palco para apresentações culturais mais voltadas para essa intimidade, esse conforto para o frio com bancas de alimentação com comerciantes que vendem vinhos, licores, fondues, queijos, ou seja, alimentação mais próxima do frio conectando com esse liminha de frio e no último final de semana dia 27 a gente faz um grande show encerrando esta temporada em Taquaruçu. Então efetivamente temos uma grande programação, a gente olhando para toda essa diversidade e potencialidade do turismo de Palmas e tentando agradar a todos os públicos de trilhas até shows, corridas, exercícios físicos, atividades culturais e esportivas enfim.
Essa sensibilidade que o sr. aponta por parte da Prefeitura é o que faltava para a integração do destino de Palmas, lago e serras? Como o sr. avalia esse desafio de integrar setores que as vezes não se comunicam por ter características diferentes, mas é a mesma atividade turística?
Acho que é preciso integrar porque estamos falando do território de Palmas, então independente das diferenças que existem e obviamente elas precisam ser preservadas, conservadas e potencializadas, entendendo que o território do destino Taquaruçu é um, tem suas próprias culturas, suas próprias linguagens, mas está no território de Palmas. Taquaruçu nos cedeu o seu território, a sua estrutura de município para que Palmas existisse, então Taquaruçu para além de tudo carrega em si a memória, a cultura, a história do surgimento de Palmas, isso precisa ser potencializado, mas nunca nos esquecendo que é Palmas, é território, é município de Palmas. Então é preciso haver uma integração das políticas públicas, numa compreensão de que Palmas e Taquaruçu são o mesmo território, mas compreendendo que essa integração precisa respeitar e potencializar essas diferenças. Começa aqui então esse olhar mais sensível de que a gente pode ter atividades integradas, observando as distinções, as particularidades e peculiaridades de cada um desses locais, do destino Taquaruçu e do destino Palmas.
Iniciamos uma conversa com o Sebrae para formatarmos novo convênio para a estruturação turística de Palmas
Nós tivemos desde 2014 um convênio chamado Estruturação Turística de Taquaruçu da prefeitura junto ao Sebrae que está encerrando agora e é impressionante o quanto mudou nesses nove anos. Se olharmos com um olhar mais técnico a diferença que fez para Taquaruçu positivamente, não resolveu tudo e nunca vai resolver, estamos falando de turismo, de vida, de cidade, é dinâmico esse processo, mas melhorou muito, mudou muito a vida de muitos atrativos de Taquaruçu. Temos o entendimento agora de que a gente precisa avançar e já iniciamos uma conversa como Sebrae no sentido de formatarmos um novo convênio que vai olhar agora para uma estruturação turística de Palmas continuando o que aconteceu em Taquaruçu, para que os atrativos de Palmas, para que os empreendedores de Palmas tenham a oportunidade de desenvolver-se enquanto negócio de turismo como os de Taquaruçu tiveram essa oportunidade. Essa é uma conversa, e eu digo que sim é uma integração respeitando a distinção de cada localidade.
Os maiores ‘cases’ de sucesso em turismo são os que tratam com generosidade e sustentabilidade seu patrimônio cultural
Como um homem de cultura como o sr. avalia a contribuição da cultura como meio de potencializar o turismo?
Você diz que eu sou o homem da cultura e acho que estando à frente da Fundação Cultural de Palmas (FCP) por cinco anos, talvez passe essa impressão que eu sou um homem da cultura, mas eu sou arquiteto e urbanista antes de tudo. Dentro da arquitetura a gente compreende e estuda o espaço enquanto potencialidade do patrimônio, da construção de um patrimônio que está ligado à memória, patrimônio cultural material e imaterial, é claro que a arquitetura está muito mais ligada no material.
Acho que os maiores cases de sucesso em turismo no mundo são aqueles que tratam com generosidade o seu patrimônio cultural, seja ele material ou imaterial e transforma esse patrimônio em exploração sustentável de turismo. O que é exploração sustentável? É compreendendo que o patrimônio precisa ser conservado e preservado para que continue sendo um atrativo turístico. Então, em Palmas nós já temos essa grande dicotomia do novo e do velho, com o Taquaruçu que está no meio dessa idade, então nós temos o novo, o médio e o muito velho, porque se formos parar para pensar e fazer uma comparação de Taquaruçu com Porto Nacional, Arraias, Natividade, Taquaruçu é uma formação de um núcleo urbano até bem mais recente, mas na compreensão e no comparativo com a historia de Palmas é nossa memória, resgate do surgimento da nossa identidade, mas ao mesmo tempo nós temos as inscrições rupestres da Serra do Lajeado que estão do lado de Taquaruçu ou do lado de Palmas, nesse nosso território de Palmas que remontam ai uma estada humana aqui há 12 mil anos. Eu estive com a superintendente do Ipham [Cejane Pacini Leal Muniz] semana passada e ela dizendo que é impressionante lá encima da serra a quantidade de sítios arqueológicos e de material arqueológico que está sendo retirado. As pessoas, os proprietários vão fazer qualquer intervenção com trator ou com alguma enxada e começa a surgir material arqueológico, tamanha riqueza que para além das pinturas rupestres, tamanha riqueza de sítios arqueológicos que temos em cima da serra, tudo isso é potencialidade turística, tudo isso a gente precisa compreender como portanto esse processo de que a partir da cultura, da compreensão de quem a gente foi, de onde a gente veio, o que a gente vai fazer hoje para deixar como legado para o futuro, isso é manifestação cultural, isso é cultura e isso é turismo sustentável.

Não podemos esquecer que é um festival de comida, as estrelas maiores são chefs de cozinha, é o produto gastronômico
Falando de cultura gastronômica, está vindo aí 17ª edição do Festival Gastronômico de Taquaruçu que é uma referência importante para Palmas. O festival também já tem um olhar mais como produto turístico do que um grande evento, como tem sido?
Como agente executor de politicas públicas a gente tem que a todo momento parar e avaliar e reavaliar enquanto postura, enquanto posicionamento e enquanto execução e produção. Eu cheguei aqui agora no turismo estou presidente e faço parte de uma Comissão Gestora de Eventos que a prefeita criou e a gente avalia e reavalia sempre o impacto que os nossos eventos trazem para cidade e para as comunidades mais próximas. Eu acho que a dinâmica da cidade e do próprio evento vai levando ele a ser organizado e chega a um ponto que a gente para e pensa, ele está mais para um festival de música do que gastronômico. A gente não pode esquecer que ele é um festival de gastronomia, vamos repensar isso. Desde a edição passada a gente teve um entendimento que podemos ter atrações artísticas, isso agrega valor ao festival, mas a gente não pode esquecer que ele é um festival de comida, gastronômico. As estrelas maiores são os e as chefs de cozinha, é o produto gastronômico, o concurso em si, a qualidade do produto comida, é isso que nos interessa.
Desde a edição passada a gente também com muita felicidade achou um termo que aí se conecta com a cultura que é a comida afetiva. Que é não só usar o projeto regional pelo produto regional, é fazer com que estes elementos regionais produzam uma cozinha, um alimento que traga afeto, que traga boas memórias. Se a gente está dizendo que Taquaruçu é um lugar de memórias, tudo naquele lugar pode e talvez deve remeter a essa memória afetiva que nos traz a uma regionalidade que é intrínseca ao lugar, à cultura do lugar e por tanto deve ser potencializada. O festival deste ano certamente se atentará ainda com mais força para a qualidade do produto gastronômico.
Tivemos turistas de SC, MA, PA, GO e RJ, só dos que estão na pesquisa; 58% deles vieram de férias pra Palmas
Que balanço que a Agtur faz do Arraiá da Capital, um grande evento que impacto a economia local. Pode ser considerado um produto turístico genuinamente palmense?
Nós, em Palmas por muito tempo, tivemos uma cultura de pensar que em julho todo mundo sai de Palmas e vai para fora. Nós contratamos uma pesquisa que iniciou os trabalhos de campo no final de semana passado e vai se estender durante todo o mês de julho, buscando compreender o fluxo turístico de Palmas. Só para se ter uma ideia, com base na amostra do primeiro final de semana, nós tivemos turistas de Santa Catarina, Maranhão, Pará, Goiás e Rio de Janeiro, só dos que foram atingidos pela pesquisa e tivemos turistas estrangeiros, de Portugal e dos Estados Unidos. 58% desses turistas vieram de férias pra Palmas. Isso já é um demonstrativo de que a gente precisa mudar esse paradigma de que Palmas em julho, todo mundo sai. Nós já temos uma mudança de status. Em julho, as pessoas já começam a vir pra Palmas, mas também para nossos dois maiores eventos da cidade que são o Arraiá da Capital e o Festival Gastronômico, que a partir deste ano, nós queremos nacionalizar e até, internacionalizar. Nós queremos a partir deste ano vender o Arraiá da Capital enquanto produto turístico e o Festival Gastronômico para outros estados e outros países. Entendendo que estes dois eventos, já têm maturidade suficiente e não deixam a desejar a outros eventos do mesmo gênero que acontecem no País.