As chances de Paulo Mourão surpreender
27 março 2022 às 00h01

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Disputa acirrada entre Wanderlei e Dimas é cenário propício para surgimento de nome da terceira via; candidato do PT pode ser a bola da vez

O ex-prefeito de Porto Nacional e ex-deputado Paulo Mourão (PT) é indiscutivelmente o nome mais bem preparado entre os pretensos candidatos ao Palácio Araguaia, principalmente no quesito visão sistêmica da realidade do Estado. É um dos poucos líderes políticos do Tocantins que tem um plano de governo na cabeça e é capaz de discorrer sobre ele apoiando-se em dados e não em ideias vagas e noções mais vagas ainda de como resolver os graves problemas que atravancam o desenvolvimento do Estado.
Além de tudo, é uma “raposa velha” da política tocantinense. Moderado, diplomático e afeito ao debate de ideias. Um tribuno, de fala mansa, que procura convencer pela força dos argumentos. Iniciou a carreira em 1988, na primeira eleição do novo Estado, conquistando uma cadeira na Câmara Federal, onde permaneceu por quatro mandados consecutivos, se tornando congressista influente.
Foi ainda prefeito de Porto Nacional, sua cidade natal, onde deixou a marca de gestor competente e inovador, e deputado estadual. Um aspecto que chama atenção na sua trajetória é a guinada para a esquerda, tendo em vista que iniciou nas fileiras da direita, como militante da velha UDR. Atualmente é considerado um dos principais líderes progressistas do Estado.
Mourão vai enfrentar líderes de peso da política tocantinense, que estão muito à frente nesta corrida, em termos de estrutura partidária, capacidade eleitoral e aceitação popular. O jovem governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), com tudo que a máquina pública oferece para projeção política dos ocupantes de cargos, e o ex-prefeito de Araguaína Ronaldo Dimas, de perfil técnico e experiência política que chega à disputa com discurso de oposição e o aval do senador Eduardo Gomes, do ex-governador Marcelo Miranda e da prefeita de Gurupi, Josi Nunes (UB).
Os dois reúnem apoio de quase totalidade dos líderes do Estado. Wanderlei já soma 22 deputados estaduais, 3 deputados federais, 2 senadores e pelo menos 80 prefeitos. Dimas, conta com apoio de 3 deputados federais, 1 senador, 1 ex-governador e mais de 50 prefeitos. Ao Mourão, resta o apoio do povo. No Tocantins, como de resto em qualquer canto do Brasil, os líderes tem muito peso na escolha do eleitor. Mas, quando o povo vira para um lado, não há líder nenhum que consiga segurar.
Se a eleição fosse hoje a escolha indiscutivelmente seria entre Wanderlei e Dimas. Mas acontece que a eleição será no dia dois de outubro. E até lá muita coisa pode acontecer. Wanderlei e Dimas podem se desgastar criando as condições políticas favoráveis ao crescimento do petista, permitindo-o emparelhar na disputa. Em disputas acirradas, como a que se configura, o terceiro colocado tem sempre boas chances de surpreender.
O fenômeno Amastha, um caso emblemático na política do Tocantins, pode ser explicado como resultado do acirramento entre as duas principais candidaturas, o que permitiu o surgimento do terceiro colocado. Para relembrar. Em 2012, quando o empresário Carlos Amastha se lançou candidato a prefeito de Palmas, as pesquisas apontavam algo em torno de 2% de intenções de votos para o colombiano. Marcelo Lélis com mais de 40% e Luana Ribeiro, candidata apoiada pelo então prefeito Raul Filho, chegando a 30%. Luana cresceu rapidamente ao adotar uma campanha agressiva contra Lelis, líder isolado na disputa que responde no mesmo nível, para não perder posição. O tiroteio pesado entre os dois abre caminho para o terceiro colado se apresentar. Era o início de uma debandada jamais vista na política do Tocantins.
Neste momento acontece algo muito curioso. Temendo perder as eleições, o secretário de Infraestrutura do Estado, Eduardo Siqueira Campos, principal apoiador de Marcelo Lelis, resolve dobrar a aposta em seu candidato. Negocia com Luana para retirar a sua candidatura para consolidar o favoritismo de Lelis. Luana desacelera a campanha. Em pouco tempo o inexpressivo Amastha chega a 30% de intenção de voto, encostando em Lélis. Com Luana fingindo fazer campanha logo Amastha assume a liderança e liquida a fatura. Assim nasceu um fenômeno político. Como se sabe Amastha foi reeleito e se tornou forte candidato ao governo do Estado, tendo disputado o segundo turno com Carlesse em 2018.
Pelo que se observa do cenário atual nada pode deter um confronto, ao que tudo indicam fraticida, entre o governador Wanderlei Barbosa e Ronaldo Dimas (PL), os dois pré-candidatos mais bem posicionados na corrida pelo Palácio Araguaia, até o momento. Um dado que por si só explica porque ambos se vêm como inimigos e não apenas como adversários. Os dois estão crescendo como resultado direto das articulações que estão costurando, mas em determinado momento esse crescimento cessa. Obrigando-os a partir para o ataque.
É aí que as chances de Paulo Mourão podem aparecer. Parte dos eleitores dos dois podem se desencantar com os ataques recíprocos. A tendência é que procurem um outro nome. Preservado de críticas por não ameaçar ninguém, o terceiro colocado parece sempre uma boa opção.
Dimas e Wanderlei são da mesma origem política, a antiga União do Tocantins, berço do siqueirismo. Estiveram juntos em muitos momentos difíceis, incluindo o palanque de 2018 e vão dividir o apoio de Bolsonaro, mas nestas eleições o sucesso de um depende incondicionalmente da derrota do outro. Uma guerra inevitável, que já começou, e trará danos para ambos. Não se ganha eleição só falando do que pretende fazer ou deixar de fazer. É preciso fustigar o adversário, mostrar o seu passado, suas contradições para levar seus eleitores desistiram da intenção de elegê-lo. Quando o candidato descobre os prontos fracos do seu adversário ele começa a administrar o jogo da disputa. Mas quando passa dos limites no ataque, também perde apoio. O difícil é que ninguém sabe qual é o limite.
Analistas defendem que Paulo Mourão também pode ser beneficiado pela polarização entre Lula e Bolsonaro. É que tanto Dimas quanto Wanderlei dividem o palanque de Bolsonaro, ficando o palanque de Lula todinho para o Mourão. Se o PT mantiver a tradição que vem desde 2002, de vencer as eleições para presidente da República é fácil concluir que o candidato do PT ao governo do Tocantins tem muito para crescer. Se o Paulo colar em Lula e conquistar a simpatia dos seus eleitores já terá grandes chances de chegar ao segundo turno.
Um outro dado que corrobora com a ideia de Mourão não deve ser encarado como carta fora do baralho, são os números das pesquisas. Pelo que se conhece do resultado das sondagens realizadas até agora, Dimas e Wanderlei estariam empatados na casa dos 20 pontos percentuais, ou algo bem próximo, enquanto Paulo Mourão, em terceiro lugar, somaria 10% de intenção de voto. O que isto quer dizer?
Para ser competitivo Paulo teria que chegar a pelo menos a 20% até o início da campanha. Meta possível de ser alcançada. Se ele colar sua imagem na do Lula e conquistar a simpatia de pelo menos metade dos seus eleitores, já terá alcançado 20%. Qualquer candidato com 20% de intenção de voto no início da campanha deve ser levado a sério, pois tem chances reais de vencer as eleições. Em 2018, nesta época, Bolsonaro tinha 17% das intenções de voto e chegou onde chegou.
Não se pode dizer que Paulo Mourão vai chegar ao segundo turno. O processo eleitoral é dinâmico e depende de muitas variantes, algumas que não se conhecer ainda. Mas se pode afirmar, com base em análise, que ele tem chances reais de ir para o segundo turno. Tudo que Wanderlei e Dimas não podem fazer é tratar o petista como mero coadjuvante neste duelo de gigantes. Isso ele não é. E nenhum candidato que figure na terceira posição deve ser tratado assim. É bom lembrar de se trata de um líder experiente que tem política no sangue. É bem verdade que tem pouco carisma, mas não lhe falta disposição de lutar pelo que acredita. E estará muito bem acompanhado, na sobre de Lula, nesta missão de tentar conquistar o Palácio Araguaia na perspectiva de realização de um governo para a maioria.