Um recente relatório da Organização Mundial de Meteorologia (OMM) destaca que o El Niño, mais intenso nesta temporada, continuará impactando o clima até abril de 2024, atingindo seu pico no final deste ano. Este fenômeno tem sido um dos principais catalisadores de eventos climáticos extremos no Brasil em 2023, como a seca na Amazônia, tempestades no Sul e dias quentes pelo Brasil.

Meteorologistas preveem que os recordes de altas temperaturas e eventos climáticos incomuns, como ciclones e alagamentos, se tornarão mais frequentes e intensos nos próximos meses devido ao El Niño mais forte.

De acordo com a OMM, o fenômeno alcançou consistência em outubro, com registros de temperaturas da superfície do mar e outros indicadores. Prevê-se que seu pico ocorra entre novembro deste ano e janeiro de 2024. Dada a resposta atmosférica às mudanças nas condições oceânicas, espera-se que as consequências desse pico sejam sentidas até o final do primeiro semestre do próximo ano.

“Com certeza, o verão será muito quente, porque estamos com um El Niño de intensidade forte e, também, na fase positiva do Dipolo do Oceano Índico, contribuindo (para esse calor)”, explica a doutoranda em climatologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Karina Bruno Lima.

O Dipolo, conhecido como “El Niño do Índico”, é outro fenômeno que afeta o clima na Ásia, influenciando o regime de chuvas. As projeções indicam secas mais intensas no Norte e Nordeste e tempestades mais frequentes no Sul. A combinação do El Niño com o verão, naturalmente quente, deve intensificar as ondas de calor extremo.

“Mas não é possível antecipar tanto assim quando exatamente essas ondas de calor vão ocorrer”, destaca a também divulgadora científica.

El Niño e La Niña

Ricardo de Camargo, professor de Meteorologia na Universidade de São Paulo (USP), explica que o El Niño resulta do aquecimento das águas do Oceano Pacífico próximo à costa da América Latina, deslocando massas de águas mais quentes da Oceania. Diferentemente do fenômeno La Niña, que resfria as águas sul-americanas e aquece a Oceania.

Ambos os fenômenos, de difícil previsão, fazem parte do sistema de redistribuição de calor na Terra e são impactados pelo aquecimento global, alterando o ciclo de evaporação da água, a atmosfera e o regime de chuvas.

“Desde o começo dos estudos sobre aquecimento global, já se falava que, em um planeta que retém calor, os eventos climáticos ficariam mais extremos. Afinal, a atmosfera e o oceano se movem o tempo todo para distribuir calor”, ressalta.

“A maneira como esses sistemas funcionam ou vão funcionar ainda não são totalmente conhecidas, mas o que temos observado nos últimos tempos, há um ou dois anos, são ondas de calor, enchentes e outros eventos climáticos com maior frequência e intensidade”, completa.

Episódios de El Niño e La Niña ocorrem a cada dois a sete anos, alternando-se. Em condições normais, duram de nove a 12 meses, conforme a série histórica indica.

“As ondas atmosféricas são alteradas pelo El Niño. Se o El Niño se alonga, as ondas de calor também se alongam”, afirma. “Isso não significa que vai ficar o tempo todo calor, sem a chegada de frentes frias. Mas essas frentes frias terão mais dificuldade em chegar ao centro do País, porque a velocidade em que são direcionadas para o mar logo que passam pelo Sul do Brasil é maior com o El Niño”, explica Camargo.

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