Os resumos do Google pode levar a era do “clique zero” e o fim do jornalismo digital; entenda

08 setembro 2025 às 20h10

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A revolução da inteligência artificial na busca online está redesenhando silenciosamente o mapa da informação digital. Nesse contexto, os veículos jornalísticos estão ficando fora dele. A era do “clique zero”, em que o usuário obtém respostas diretamente no topo da página sem visitar os sites de origem, já não é uma previsão: é uma realidade consolidada.
Segundo um estudo da associação norte-americana Digital Content Next (DCN), o tráfego vindo do Google para sites de notícias e entretenimento caiu 10% entre maio e junho de 2025. Em alguns casos, como na semana de 25 de maio, a queda foi de até 16%. E o motivo são os resumos gerados por IA que aparecem no topo das buscas, o chamado AI Mode, estão respondendo às perguntas dos usuários antes mesmo que eles sintam necessidade de clicar.
Jason Kint, CEO da DCN, é direto: “O Google venceu”. Para ele, o buscador deixou de ser um mecanismo de descoberta e passou a ser um destino final. Ao reter a audiência com respostas instantâneas, o Google se torna concorrente direto dos sites que antes ajudava a distribuir. E o resultado são menos leitores, menos impressões publicitárias, menos assinaturas e um golpe profundo na sustentabilidade do jornalismo digital.
Não são apenas os grandes jornais que sofrem. Pequenos sites, veículos de nicho e plataformas de entretenimento também estão vendo sua audiência evaporar. A pesquisa da DCN mostra que marcas não jornalísticas tiveram uma queda de 14% no tráfego, enquanto os veículos jornalísticos perderam 7%. O impacto é sistêmico: menos diversidade de fontes, menos pluralidade de vozes, menos responsabilidade na informação.
A DCN propõe quatro medidas para enfrentar a crise:
– Transparência: divulgação de dados auditáveis sobre cliques nos resumos por IA.
– Opt-out real: permitir que veículos impeçam o uso de seus conteúdos sem serem penalizados na busca.
– Licenciamento justo: negociar uso de conteúdo como fazem outras empresas de IA.
– Regulação: tratar os resumos por IA como parte do monopólio de busca, sujeito a regras antitruste.
Em resposta, o Google afirma que a IA estaria “gerando mais consultas e cliques de maior qualidade”. A DCN contesta: não há dados concretos que sustentem essa afirmação. Para os editores, o entusiasmo do Google ignora a realidade dos números, e o risco de apagamento da imprensa na era da inteligência artificial.
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