Pesquisadores de nove países lançam rede global de IA aplicada à saúde em Goiânia
05 novembro 2025 às 15h51

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Pesquisadores de nove países do Sul Global se reúnem em Goiânia nestas quinta-feira, 6, e sexta-feira, 7, para o AI4BIO South Summit 2025, evento que marca o lançamento da AI4BIO Network, uma rede internacional dedicada ao uso da inteligência artificial nas biociências, com foco em genômica, medicina de precisão, epidemiologia e inovação biomédica. O objetivo é discutir o papel da IA na transformação das biociências e da saúde humana.
Ao Jornal Opção, o professor Dr. Celso Camilo, da Universidade Federal de Goiás (UFG) e cofundador do CEIA, afirmou que a ideia é estruturar o Sul Global depois de criada uma rede. “O foco do evento é criar uma rede de pesquisadores da área de IA e da área de biociências, medicina de precisão, biólogos, geneticistas, essa parte da biologia, da saúde humana”, explicou.

O principal objetivo da rede é promover o intercâmbio de conhecimento e acelerar pesquisas que impactem diretamente a saúde das populações dos países envolvidos. “Queremos que os pesquisadores se conheçam, estabeleçam objetivos compartilhados e montem um plano de 12 meses para ações concretas dessa cooperação”, apontou Camilo.
Celso Camilo disse que entre as ações previstas estão:
– Intercâmbio de pesquisadores entre países;
– Compartilhamento de dados genéticos e clínicos;
– Uso colaborativo de recursos computacionais, como GPUs;
– Submissão conjunta de projetos a editais internacionais;
– Publicações científicas em coautoria;
– Criação de uma plataforma digital para troca de dados.
Com um formato voltado à colaboração técnica e institucional, o AI4BIO South Summit 2025 promoverá discussões e construção de agendas conjuntas em áreas estratégicas como:
– Integração de dados genômicos e ômicos com modelos de IA generativa;
– Diagnóstico e predição de câncer;
– Frameworks para medicina de precisão e saúde populacional;
– Modelos de IA para vigilância epidemiológica e identificação de marcadores de risco;
– Aplicações éticas e sustentáveis de IA em saúde pública e biotecnologia;
– Formação de capacidades locais e cooperação entre países do Sul Global.
Ética e regulação
A integração entre IA e saúde exige atenção especial aos aspectos éticos e regulatórios. “Precisa ter realmente um cuidado. Esse trabalho da bioética fortalece a cooperação. A IA por si só já tem um impacto muito relevante, e dentro da biosciência o impacto é ainda maior”, alertou. Camilo afirmou que a rede pretende desenvolver guidelines e orientações que garantam o uso responsável da tecnologia, respeitando as especificidades culturais e legais de cada país.
Em todas as etapas, o compromisso ético é central: o uso de IA em saúde segue princípios de segurança de dados, transparência e supervisão humana, respeitando normas legais e as boas práticas de pesquisa e inovação.
Brasil como catalisador
O professor destacou o papel estratégico do Brasil na liderança da iniciativa. “O papel do Brasil é de catalisador. Cabe a nós, brasileiros, liderar esse processo junto com outros talentos espalhados pelo Sul Global. O Brasil, pelo tamanho que tem, pela relevância do que tem, pelos talentos que tem, não pode se furtar da responsabilidade de liderar esse tipo de iniciativa”, afirmou.
Segundo Camilo, o mundo caminha rapidamente para o desenvolvimento biotecnológico. “Depois da onda da IA de forma isolada, a próxima onda é a biotecnologia. E a gente tem que estar preparado, com estrutura, com talentos, com visão, com estratégia”, disse.
IA na saúde
A UFG e o CEIA já desenvolvem projetos que aplicam IA na análise genômica. “A gente coloca a IA pra olhar pra genética humana e avaliar ali dentro do genoma quais são as partes que aparentemente têm defeitos, com mutações que têm chance de gerar patologias, doenças. A IA consegue fazer numa velocidade e numa forma que manualmente é muito difícil de fazer, ou quase impossível”, explicou.
Com isso, a tecnologia permite diagnósticos mais ágeis e tratamentos personalizados. “Ganhamos em escala, ganhamos em agilidade e ganhamos em eficácia também nos diagnósticos e nos tratamentos. A IA dará mais eficiência e agilidade no diagnóstico de doenças como câncer, por exemplo”, disse Camilo.
A IA também tem se mostrado essencial na vigilância epidemiológica. Na genômica viral, permite comparar milhares de sequências e detectar rapidamente novas variantes de vírus, possibilitando respostas antecipadas, como campanhas de vacinação ou reforço hospitalar.
Cooperação
Em um cenário de corrida tecnológica global, a colaboração entre países em desenvolvimento é vista como essencial. “Sozinhos, especialmente países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, não têm condições de manter essa corrida. A colaboração é determinante pra que esses países consigam juntos avançar e participar dessa corrida. Sem essa colaboração, fica muito mais difícil, em alguns casos até impossível”, afirmou.
Liderança compartilhada
A rede é coordenada por nomes de destaque na academia brasileira. “A USP, com o professor Helder; a professora Cristina Toscano, da UFG; e a professora Herley, da PUC-Rio. Ressaltando os coordenadores, o protagonismo tá tudo certo”, destacou Camilo em entrevista.
Para o professor Dr. Helder Nakaya, coordenador geral do evento e docente da USP e do Hospital Israelita Albert Einstein, o encontro marca um novo momento na integração entre dados genéticos e inteligência computacional. “Estamos entrando em uma era em que o volume e a complexidade dos dados biológicos exigem novas abordagens. A IA é essencial para compreender padrões, prever doenças e personalizar tratamentos. O AI4BIO Network será um catalisador dessa transformação”, destacou Nakaya em nota.
A médica e epidemiologista Cristiana Toscano, coordenadora do Ceti-Saúde UFG, reforça que a iniciativa fortalece as ações de inovação em saúde através de pesquisa e desenvolvimento em rede. “Por meio da criação da AI4BIO Network, serão desenvolvidos projetos colaborativos que incluem desenvolvimento e avaliação de ferramentas diagnósticas, de medicina de precisão, uso de IA em análises preditivas e vigilância genômica, sempre com foco em impacto positivo para a população”, disse em nota.
Expectativas
“A gente espera que ao final tenha uma série de ações e projetos ao longo deste próximo ano, que a gente consiga chegar no próximo evento daqui a um ano e ter um resultado dessa rede, fortalecimento dessa rede, crescimento dessa rede”, concluiu à reportagem.
Organizado pela Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio do Centro de Excelência em Inteligência Artificial (CEIA) e do Centro de Excelência em Tecnologia e Inovação em Saúde (Ceti-Saúde), em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), o evento tem como objetivo fortalecer colaborações entre universidades, centros de pesquisa e organismos internacionais, consolidando o Brasil como polo estratégico no desenvolvimento e aplicação da IA voltada à saúde e às biociências. O evento também conta com o apoio do Einstein Hospital Israelita de Goiânia.
Serviço:
AI4BIO South Summit 2025
Local: Goiânia (GO) – 6 e 7 de novembro de 2025
Evento restrito a convidados – realização UFG – CEIA; Ceti-Saúde UFG, USP e PUC-Rio
Site oficial: https://ai4bioglobalsouth.org
Sugestão para entrevista: Prof. Dr. Celso Camilo, coordenador do evento e cofundador do CEIA
Contato de imprensa: Marina Sousa – (62) 98194-6440 | [email protected]
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