Os peritos criminais e médicos legistas do estado de Goiás decidiram, em assembleia, negar a primeira proposta de reestruturação de carreira feita por representantes da Secretaria de Administração (Sead). Ao todo, mais de 300 profissionais, ligados ao Sindicato dos Peritos Criminais e Médicos Legistas do Estado de Goiás (Sindperícias-GO) e à Associação dos Peritos em Criminalística do Estado de Goiás (Aspec-GO), rejeitaram a proposta do governo na última segunda-feira, 14. Uma contraproposta deve ser enviada à Sead ainda nesta terça-feira, 15.

Em entrevista ao Jornal Opção, o presidente do Sindperícias-GO, Fernando Picoli, compartilha um histórico das reivindicações da categoria e fala sobre o futuro da negociação. “A gente vive uma situação discrepante dentro da segurança pública do estado”, coloca o presidente do sindicato. Fernando compara a carreira dos peritos e legistas com a dos agentes das Polícias Civil e Militar, por exemplo, e diz que “durante anos, a gente [peritos criminais e médicos legistas] foi deixado de lado dentro da segurança pública”.

Picoli fala sobre uma promessa feita pelo governador Ronaldo Caiado que, reconhecendo a discrepância entre a carreira dos peritos e legistas, prometeu atuar para atenuar a situação. Inicialmente, essas correções aconteceriam dentro do Programa Repensar Carreiras, mas isso não aconteceu. “Além de não corrigir a distorção em relação às demais forças, houve uma alteração na carreira que alongou muito”, avaliou a primeira proposta da Sead à categoria. 

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O governo estadual ofereceu aos representantes da Associação e do Sindicato de peritos uma reestruturação de carreira que a alongaria, e que, para crescer e ser promovido, seria necessário pontuar em um sistema de pontos que ainda não foi criado. “Como que a gente dá um cheque em branco assim para o governo?”, questiona o sindicalista, ao destacar que não foi oferecido nenhum tipo de bonificação para o início da carreira. 

Após comparar os servidores de Goiás com os de outros estados, e com servidores de outras pastas da Segurança Pública, Picoli afirma: “Em todos os âmbitos de comparação, fica escancarado que a nossa carreira precisa ser mais bem valorizada”.

A reportagem solicitou posicionamento ao Governo de Goiás, que reconhece a importância e a dedicação dos peritos criminais e médicos legistas na manutenção da segurança pública. Em nota, o governo estadual disse que a proposta de Plano de Carreira e Remuneração (PCR) “está sendo construída de forma a promover avanços para a categoria”.

“O Estado reforça a disposição para a continuidade das negociações, mantendo um canal de diálogo aberto com as entidades representativas. No entanto, é necessário ressaltar que o contexto econômico e fiscal exige equilíbrio entre as demandas dos apresentadas e o cumprimento de obrigações financeiras”, finalizou a Secretaria de Comunicação.

Possibilidade de paralisação

Ao ser questionado sobre possibilidade de greve ou de paralisação parcial das atividades de médicos legistas e peritos criminais, o presidente do Sindperícias-GO explica que existe uma série de mecanismos legais para impedir movimentações dessa natureza na categoria. “A gente basicamente não fala nesse tema”, resumiu. 

Entretanto, o gestor reforça que a categoria está revoltada não apenas pela ausência de reajustes desde 2013 e pelo descumprimento das promessas feitas pelo governo estadual, mas também pelas carências estruturais que esse servidor enfrenta no cotidiano goiano. “Se não houver uma real disposição, uma sensibilidade do governo em tratar isso, realmente eu não sei como isso vai evoluir”, lamentou. 

Atuação

Cotidianamente, médicos legistas e peritos criminais lidam com situações desgastantes. Cenas de crimes, exames em vítimas de violência, autópsias entre outros procedimentos dessa natureza cercam o cotidiano da profissão. “Imagina trabalhar com isso diariamente, e se sentir desprestigiado”, questiona. “A Justiça não anda sem perícia”, coloca Picoli ao destacar o peso de seu trabalho para o andamento dos processos judiciais. 

O sindicalista traça ainda uma diferença entre os peritos e legistas, e o restante dos servidores. Para ele, não existe o desejo do dito “concurseiro” em se dedicar a essas carreiras, quem opta pelo segmento é de fato por gostar da profissão. “A gente faz isso com amor, porque a gente entende que está contribuindo para a Justiça”, explica.

Picoli destaca ainda que, entre os peritos e legistas de Goiás, existe um desempenho extra, ligado justamente ao amor à causa. Vaquinhas para comprar equipamentos, criação de sistemas para agilizar os processos e uso de contatos próprios para acelerar alguns procedimentos são alguns dos exemplos dados por Picoli de atuação extra da categoria. “Hoje, os resultados que nós entregamos são completamente dependentes de um esforço extra do servidor”, concluiu.