PCC e CV realizam “batismos” em presídios goianos para novos faccionados

12 dezembro 2023 às 11h21

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Em guerra pela disputa do controle do tráfico em Goiás, o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) têm recrutado membros nas ruas e nos presídios sediados no estado goiano. Os batismos, conforme informado ao Jornal Opção por membros do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Goiás (MP), ocorrem principalmente na massa carcerária, onde se encontra a “nata” das organizações.
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Para se ter uma ideia, em sete anos, apenas o PCC viu o número de membros em Goiás aumentar 150%, passando de 800 (em 2016) para 2 mil (em 2023). Essa prática de recrutamento também é observada na facção goiana Amigos do Estado (ADE), aliada a organização paulista. Juntas, as facções têm cerca de 5 mil membros apenas em solo goiano.
O estado tem a oitava maior população prisional do Brasil, com mais de 22,6 mil detentos cumprindo penas de privação da liberdade em 88 prisões goianas, segundo dados da Diretoria-Geral de Administração Penitenciária (DGAP).
Os batismos envolvendo o PCC no estado, de acordo com o Gaeco, se diferenciam dos praticados em São Paulo, berço da facção. Em Goiás, não há exigência que os novos integrantes tenham necessariamente uma “trajetória criminal” extensa e bem-sucedida. No entanto, eles precisam ser indicados por um “padrinho” que se responsabiliza pelos atos do “irmão”, como são chamados os faccionados.
A forma de integrar a facção também dependia de um ritual. Porém, atualmente, os membros não precisam executar uma missão para provar o valor ao grupo antes de ser recrutado. A filiação de novos integrantes no estado também inclui o batismo de adolescentes, prática proibida na cidade paulista.
No último dia 30, um adolescente, de 16 anos, foi apreendido por matar acidentalmente um idoso, em Aparecida de Goiânia, após tentar executar rivais do CV. O CV, assim como a ADE, também compartilham do mesmo modus operandi de recrutamento.
Penalidades
Entretanto, assim que o membro entra nas organizações, ele é designado para cumprir missões a mando de chefes e da cúpula das facções. Caso se recuse ou falhe na ordem imposta, o faccionado é submetido ao “tribunal do crime”, coordenado por lideranças e executado pelos “disciplinas”.
Ao ser julgado, ele pode receber desde penalidades físicas, como espancamentos, até ser condenado à pena de morte. Nesta terça-feira, 12, por exemplo, cinco homens ligados à ADE foram presos por executar dois jovens no “tribunal do crime”, em Itumbiara.
O membro também é submetido ao tribunal do crime caso abandone a facção. No PCC, o único modo de deixar a organização é se tornando religioso, sendo frequentante de templos. O “irmão”, no entanto, é monitorado durante meses por membros para provar que deixou a vida criminosa.
Sintonia “dos gravatas”
As ordens para missões, assim como a administração das facções, normalmente, são realizadas de dentro dos unidades prisionais por meio de bilhares, ligações e até por meio de familiares e dos “gravatas”, como são chamados os advogados que compõem as organizações criminosas. Em Goiás, 16 advogados foram condenados pela Justiça em agosto deste ano por organização criminosa e associação ao tráfico de drogas.
Eles agiam como “garotos de recado” para presos do CV em Goiás e no Distrito Federal. Os “gravatas”, inclusive, levavam informações sobre o tráfico de drogas até para criminosos da favela do Morro dos Prazeres, no Rio de Janeiro.
Os profissionais e os familiares, no entanto, também são usados para outras finalidades como provocar manifestações. O Gaeco afirmou que no estado já foi contatada a atuação e financiamento do PCC em manifestações na porta das unidades prisionais goianas, com o objetivo de dificultar o trabalho dos policiais penais.