Veja como o TDAH pode ter sido uma vantagem evolutiva para os antepassados
26 fevereiro 2024 às 10h41
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Características semelhantes às do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) podem ter causado uma vantagem evolutiva aos nossos antepassados na busca por comida na natureza. É o que revelou o estudo “Déficits de atenção associados à propensão para explorar enquanto procuram alimentos”, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. A pesquisa foi publicada na última quarta-feira, 21, na revista Proceedings of the Royal Society.
O transtorno afeta cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil, segundo dados da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA). A Associação apontou que, a nível mundial, o número de casos de TDAH varia entre 5% e 8%. O TDAH pode estar relacionado a ligações gênicas e familiares e tem sido observado um maior número de diagnóstico nos últimos anos.
O estudo mostrou que indivíduos com características de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade apresentaram melhores táticas de forrageamento (procura de recursos alimentares) do que pessoas mais neurotípicas.
Para chegar a essa hipótese, os pesquisadores conduziram um experimento envolvendo 457 participantes. O principal objetivo dos participantes era coletar frutas silvestres de arbustos virtuais exibidos em uma tela de computador. Os participantes foram instruídos a coletar o maior número de frutas possível dentro de um período determinado.
Quando um deles clicava em um conjunto de frutas, elas desapareciam do arbusto. Em seguida, os participantes enfrentavam uma decisão: continuar procurando por mais frutas no mesmo arbusto ou mudar para outro. Os resultados revelaram que os participantes com características semelhantes ao Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) tinham maior propensão a mudar para a busca em outro arbusto.
Ao final do experimento, esses participantes haviam coletado mais frutas, em média. Por outro lado, os participantes neurotípicos tendiam a permanecer por mais tempo procurando por frutas no mesmo arbusto, em vez de mudar para outro. Esses resultados levaram os pesquisadores a formular a hipótese de que o TDAH pode ter evoluído como uma adaptação de sobrevivência. Os traços comportamentais dos indivíduos que exploravam novos locais em busca de recursos teriam sido transmitidos às gerações seguintes, conferindo uma vantagem adaptativa em ambientes desafiadores.
A pesquisa foi direcionada por meio de 6 perguntas:
- Com que frequência você tem dificuldade em se concentrar no que as pessoas estão lhe dizendo, mesmo quando estão falando diretamente com você?
- Com que frequência você sai do seu lugar em reuniões ou outras situações em que se espera que você permaneça sentado?
- Com que frequência você tem dificuldade para descontrair e relaxar quando tem tempo para si mesmo?
- Quando você está conversando, com que frequência você termina as frases das pessoas com quem está conversando antes que elas mesmas possam terminá-las?
- Com que frequência você deixa as coisas para o último minuto?
- Com que frequência você depende de outras pessoas para manter sua vida em ordem e cuidar dos detalhes?
Conclusão da pesquisa
“A nossa tarefa de forrageamento virtual revela que as pessoas seguem de forma adaptativa as previsões da teoria de forrageamento ideal. Eles adaptaram suas estratégias de forrageamento às estatísticas locais de manchas e permaneceram mais tempo em manchas de tempo de viagem longo em comparação com tempos de viagem mais curtos, conforme previsto pela teoria de forrageamento ideal. No entanto, as pessoas geralmente colhiam em excesso as manchas e, consequentemente, não se conformavam ao tempo ideal de saída das manchas especificado pela teoria do forrageamento”, concluiu a pesquisa.
Dessa forma, os pesquisadores descobriram que os participantes com resultados positivos para TDAH abandonaram mais facilmente os adesivos e alcançaram taxas de recompensa mais altas do que os participantes com resultados negativos. Dada a permanência excessiva demonstrada pelos participantes em geral, aqueles com pontuações elevadas tomaram decisões exploratórias que estavam mais alinhadas com as previsões da teoria de forrageamento ideal e, nesse sentido, comportaram-se de forma mais otimizada.
O aumento da proficiência de alimentação de participantes com comportamento semelhante ao TDAH observado sugere que a prevalência e a persistência do TDAH em populações humanas podem servir uma função adaptativa em alguns ambientes.
Tratamento pelo SUS
Não existem exames para a identificação de transtornos mentais. O diagnóstico para TDAH é realizado de modo clínico, podendo contar com o suporte de escalas e testes específicos. Essas características podem ser apresentadas por qualquer indivíduo e em qualquer momento da vida, mas os primeiros sintomas geralmente são identificados entre crianças e adolescentes. Os responsáveis devem observar os sinais de alerta e procurar ajuda profissional quando se tornam recorrentes e/ou trazem algum prejuízo nas atividades diárias.
O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza atendimento para pessoas em sofrimento psíquico por meio dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). A Atenção Primária à Saúde é a porta de entrada para o cuidado e desempenha papel fundamental na abordagem dos Transtornos Mentais, principalmente os leves e moderados, não só por sua capilaridade, como também por conhecer a população, o território e os determinantes sociais que interferem nas mudanças comportamentais.
Nos transtornos do neurodesenvolvimento, o diagnóstico precoce é fundamental para o devido prognóstico e articulação intersetorial, principalmente com as escolas, indispensáveis no cuidado da pessoa com TDAH.
Diferentes níveis de complexidade compõem o cuidado, sendo os CAPS, em suas diferentes modalidades, pontos de atenção estratégicos da RAPS. Serviços de saúde de caráter aberto e comunitário, constituído por equipe multiprofissional e que atua sobre a ótica interdisciplinar, podem ser encontrados. Normalmente, no tratamento são usados medicamentos como Ritalina e Vevance.
As orientações são do Ministério da Saúde.