“Vacinação infantil enfrenta resistência em Goiás por causa de fake news”, alerta Flúvia Amorim
29 outubro 2025 às 15h45

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Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção, a superintendente de Vigilância em Saúde do Estado de Goiás, Flúvia Amorim, falou, nesta quarta-feira, 29, sobre os desafios enfrentados pelo Estado na cobertura vacinal infantil, os avanços recentes e as estratégias adotadas para ampliar a adesão da população às vacinas. “Vacinação infantil enfrenta resistência em Goiás por causa de fake news”, alerta a superintendente.
A secretária traçou um panorama completo da situação atual e reforçou a importância da imunização como ferramenta essencial de saúde pública.
Segundo Flúvia Amorim, até 2024 nenhuma vacina infantil havia alcançado a meta preconizada de cobertura entre 90% e 95%. No entanto, 2025 começou com sinais positivos. “A gente já começou melhor. Já tem a vacina BCG, que é a melhor abertura hoje, que é da Nassir, né? Ela tá com 90% de cobertura. As demais estão na média entre 77% e 80%”, afirmou.
A vacina contra a COVID-19, infelizmente, é a que apresenta os piores índices. “Hoje, dentro do esquema básico, a pior abertura é a vacina COVID. Essa é a pior, infelizmente”, lamentou.
Os dados
O quadro abaixo apresenta a evolução das coberturas vacinais em crianças menores de 2 anos no estado de Goiás entre 2020 e 2025, com base nos dados da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS).
Observa-se uma tendência geral de recuperação após quedas em 2021, especialmente nas vacinas BCG, Pentavalente, Pneumocócica 10 Valente e Tríplice Viral D1. Em 2025, apenas a BCG atingiu a meta preconizada de 90%, enquanto as demais ainda permanecem abaixo do ideal de 95%.
Destaque para a melhora contínua nas coberturas da Tríplice Viral D1 e da Pneumocócica, embora a vacina contra Febre Amarela siga com os menores índices ao longo do período. Esses dados reforçam a importância de estratégias para ampliar a adesão à vacinação infantil.
Série Histórica de Coberturas Vacinais do Calendário Nacional de Vacinação das Crianças menores de 2 anos de idade. Goiás, 2020 a 2025*.

Observação:
*Atualização do painel em 29/10/2025 às 04:21:13, com dados contidos na Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) referentes às doses aplicadas até o dia 01/08/25 às 00:00:00.
Estratégias para ampliar a adesão
A Secretaria de Estado da Saúde tem adotado diversas estratégias para ampliar a adesão à vacinação infantil, especialmente entre crianças que ainda não completaram o esquema vacinal básico. Entre as ações destacadas por Flúvia estão:
– Abertura de salas de vacina fora do horário comercial, incluindo finais de semana, para atender pais que trabalham durante o dia.
– Vacinação em escolas, parques e eventos da cidade, levando a imunização para mais perto da população.
– Campanhas publicitárias nas redes sociais, com foco em desmistificar mitos, especialmente sobre a vacina contra a COVID-19.
“A gente tem trabalhado de forma muito efetiva na comunicação, sempre passando informações fidedignas. Fazendo campanhas para que as pessoas entendam que a vacina é segura, ela é eficaz. A gente tem que ter medo da doença, e não da vacina”, reforçou.
Barreiras à cobertura vacinal
Flúvia Amorim reconhece que diversos fatores dificultam a manutenção de altas coberturas vacinais no estado:
– Hesitação dos pais.
– Falhas na busca ativa.
– Dificuldade de acesso às unidades de saúde.
– Fake news.
“Tem pai que não vacina porque o filho ia levar mais de uma picada, mais de uma injeção. Outros falaram que receberam informações que determinadas vacinas causavam mais prejuízo do que benefícios. As fake news contribuíram muito para essa desconfiança”, explicou.
Ela destaca que, embora a desconfiança não atinja todas as vacinas, o receio em relação a uma pode influenciar a rejeição de outras. “Acaba que a desconfiança de uma influencia nas outras também. Ele acaba não se importando e não levando o filho pra vacinar”, disse.
Vacina foi vítima do próprio sucesso
Com uma reflexão contundente, Flúvia Amorim apontou que o sucesso das vacinas pode ter contribuído para a diminuição da percepção de risco por parte da população.
“As vacinas são vítimas do seu próprio sucesso. Se hoje as pessoas não sabem o que é paralisia infantil, não sabem o que é o mal de sete dias, que é o tétano neonatal, é porque foram vacinadas. Muitas pessoas ao longo de vários anos fizeram com que essas doenças fossem eliminadas ou controladas”, disse.
Ela alerta para o risco de retorno dessas doenças caso a cobertura vacinal continue baixa. “A partir do momento que você tem essa hesitação e não protege seu filho, você coloca ele em risco. Não só de paralisia, mas de uma série de doenças”, afirmou.
A Secretaria também tem atuado em áreas rurais, comunidades indígenas, assentamentos e regiões ribeirinhas afastadas dos centros urbanos. “É uma ação frequente. Por exemplo, na região dos Calungas, junto com os municípios de Cavalcante, Monte Alegre e Teresina de Goiás, uma equipe nossa vai pra essa região com nosso carro preparado, junto com o município, vacinar essas populações mais distantes”, apontou Flúvia.
Atualização do Calendário
O estado está se preparando para introduzir novas vacinas e atualizar o calendário vacinal infantil, acompanhando as recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial da Saúde.
“Em outubro, quando finalizar a campanha, vamos fazer uma campanha publicitária com movimento. Teve um Dia D agora recente, foi num sábado, onde todo o estado abriu salas de vacina das 8h às 17h. São várias ações sendo executadas pra que a gente consiga melhorar essas coberturas vacinais”, afirmou.
Troféu Zé Gotinha do Cerrado
Como forma de incentivo, a Secretaria lançou o “Troféu Zé Gotinha do Cerrado”, que premiará os municípios com as maiores coberturas vacinais. “Vamos fazer um levantamento das coberturas vacinais e premiar os municípios. A entrega vai ser feita agora em novembro. É possível recuperar coberturas vacinais se você tiver toda uma integração e planejamento dentro do seu território”, disse.
Segurança das Vacinas
Flúvia Amorim também reforçou a segurança das vacinas disponíveis no Brasil. “Há rigorosa avaliação da Anvisa. As vacinas são avaliadas e monitoradas continuamente. Caso algum medicamento tenha algum indício de evento adverso maior que o benefício, ele é retirado do mercado”, apontou.
Ela conclui com um apelo direto à população. “Se hoje temos essas vacinas disponibilizadas, é porque são eficazes. Vacine seu filho, se vacine, vacine seus pais. A vacina é segura, ela é eficaz e ela protege. Nós precisamos ter medo das doenças, e não das vacinas”, finalizou.
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