Uma em cada cinco pessoas com HIV em Goiás está fora do tratamento, aponta boletim
02 dezembro 2025 às 15h53

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O Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (SES), divulgou o Boletim Epidemiologia da Infecção por HIV e Aids em Adultos – 2015 a 2025 durante ação do Dezembro Vermelho no Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT).
Os dados confirmam avanços no diagnóstico oportuno, na redução de mortes e na ampliação do tratamento, mas também apontam desafios para interromper a transmissão do vírus e alcançar pessoas fora do cuidado.
Embora mais pessoas estejam sendo diagnosticadas antes da evolução para Aids, a SES reconhece desafios para ampliar o diagnóstico precoce, especialmente entre jovens e populações vulneráveis.
“Cerca de 20% das pessoas vivendo com HIV não estão em tratamento regular porque não iniciaram ou interromperam. Recuperar esse público é prioridade”, afirma a coordenadora de Apoio Estratégico em Atenção às IST/Aids e Agravos Transmissíveis da SES, Ana Paula Vieira de Deus
A pasta também aponta o estigma como barreira decisiva. “O preconceito afasta pessoas da testagem e do cuidado. HIV é uma condição de saúde como qualquer outra. Acolher sem julgamentos é fundamental”, afirma a coordenadora de IST/Aids e hepatites virais, Luciene Siqueira Tavares.
Entre 2015 e 2025, Goiás registrou 25.100 casos de HIV e Aids em adultos, segundo a Subsecretaria de Vigilância em Saúde. O Estado tem atualmente 29.503 pessoas vivendo com HIV, das quais 5% não estão vinculadas ao serviço de saúde e 15% não iniciaram ou interromperam o tratamento.
Apesar dos números expressivos, a taxa de casos de Aids, estágio avançado da infecção, continua em queda, assim como os óbitos, reflexo do acesso gratuito ao diagnóstico e à terapia antirretroviral (Tarv) pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Ana Paula avalia que os dados mostram progresso, mas reforçam a necessidade de intensificar esforços.
“A redução dos casos de Aids e dos óbitos demonstra avanços importantes, graças ao acesso ao diagnóstico e ao tratamento. Mas a transmissão ainda está ativa, especialmente entre jovens e adultos, e parte das pessoas vivendo com HIV não está em acompanhamento regular. Precisamos fortalecer o cuidado contínuo para interromper a cadeia de transmissão”, afirma.
Prevenção combinada e diretrizes atualizadas
Durante o Dezembro Vermelho, a SES intensifica ações de prevenção, testagem e orientação em todo o estado, alinhada às metas internacionais da Unaids, 95% diagnosticados, 95% em tratamento e 95% com carga viral indetectável.
Em Goiás, de 2010 a 2025, foram notificados 21.249 casos de HIV, 10.540 casos de Aids e 4.647 mortes relacionadas. A prevenção combinada é apontada como eixo central da resposta do Estado.
As estratégias incluem preservativos internos e externos, testagem rápida, autotestes, PrEP (profilaxia pré-exposição) e PEP (profilaxia pós-exposição). Todas as ferramentas estão disponíveis de forma gratuita no SUS. Ana Paula destaca que Goiás tem ampliado o acesso às tecnologias de prevenção.
“Estamos expandindo a PrEP para populações com maior risco e reforçando a disponibilidade da PEP 24 horas nas unidades de urgência. A testagem rápida é ofertada rotineiramente e por meio de ações extramuros em regiões com maior concentração de casos”, explica. Entre essas regiões estão Central, Centro Sul, Pirineus, Sudoeste I, Entorno Sul e Sul.
A subsecretária de Vigilância em Saúde, Flúvia Amorim, reforça o papel essencial da terapia antirretroviral. “Pessoas que utilizam a medicação e atingem carga viral indetectável não transmitem o HIV por via sexual. O tratamento impede a transmissão e protege a saúde da pessoa e da comunidade”, afirma.
Ações educativas e mobilização social
Para ampliar o alcance da prevenção, a SES programa ações ao longo de todo o Dezembro Vermelho, incluindo atendimentos, testagem em Goiânia e municípios vizinhos, atividades comunitárias e reuniões técnicas.
A pasta também desenvolve campanhas permanentes em mídias sociais, rádios e TVs, além de parcerias com universidades, movimentos sociais e serviços de assistência. Ana Paula explica que o Estado está alinhado à nova campanha nacional do Ministério da Saúde e planeja adaptações locais.
“Vamos reforçar mensagens essenciais como prevenção combinada, testagem rotineira e importância do tratamento para impedir a transmissão.” A coordenadora também afirma que a SES planeja iniciativas voltadas à memória e mobilização social, em sintonia com exposições nacionais sobre a trajetória da resposta à Aids no Brasil.
O Governo de Goiás avalia que os avanços são significativos, mas reforça que a interrupção da transmissão depende da ampliação da testagem, da adesão ao tratamento e da redução do preconceito.
“Quanto mais cedo a pessoa conhece seu estado sorológico, mais cedo pode se cuidar”, resume Ana Paula. O boletim completo do período 2015–2025 está disponível para consulta pública e servirá de base para orientar políticas, estratégias de prevenção e ações educativas em todo o estado.
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