“Queremos justiça”: irmã de mulher que morreu após procedimento estético cobra respostas
04 dezembro 2024 às 11h13
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A Polícia Civil de Goiás (PC-GO) deu início às investigações sobre a morte de Danielle Mendes Xavier de Brito, de 44 anos, que faleceu após reação alérgica em procedimento estético. A profissional Quésia Biangulo, que se apresentou como enfermeira e biomédica, foi presa e sua clínica foi fechada pela Vigilância Sanitária após diversas irregularidades terem sido encontradas.
A irmã de Danielle contou, ao Jornal Opção, que foi informada sobre o incidente por profissionais do Samu, que pegaram seu contato no telefone da vítima. “Ligaram e falaram que ela tinha ido fazer um procedimento estético, tinha tido uma parada respiratória, eles tinham reanimado, entubado e estavam levando para o hospital”, a familiar de Danielle compartilha a informação inicial que recebeu.
Poucos minutos depois, a esteticista Quésia Biangulo entrou em contato com a irmã de Danielle. “Ela foi muito gentil, muito afetuosa, muito carinhosa. Me acolheu, me explicou”, a abordagem da profissional da saúde foi de prestar o máximo de assistência possível à família da vítima.
Segundo os relatos da esteticista à irmã de Danielle, o serviço que ela foi realizar na clínica era apenas uma avaliação clínica. A vítima teria pago R$300 para fazer essa avaliação. “Na anamnese, sua irmã me falou que era asmática e eu resolvi fazer um teste, por segurança”, teria dito Quésia à familiar da vítima.
Na versão apresentada pela biomédica, Danielle teve uma reação alérgica durante a avaliação, começou a sentir falta de ar e então o Samu foi acionado, enquanto a equipe da clínica de estética realizava primeiros socorros. “O SAMU chegou, ficou reanimando minha irmã por 17 minutos. Conseguiram reanimar, entubaram e levaram para o Hugo”, resumiu.
Segundo informações do prontuário de Danielle, foram aplicados dois antialérgicos nela após a injeção de hialuronida.
No dia seguinte à internação de Danielle, os médicos do Hugo chamaram a família para atualizações. Conforme os relatos da irmã, os médicos disseram que a paciente já havia dado sinais de morte cerebral, e também afirmaram que uma traqueostomia (procedimento cirúrgico que consiste em criar uma abertura na traqueia para permitir que o ar entre diretamente nos pulmões) foi feita ainda na clínica estética. Além disso, segundo relatos da irmã, houve intervalo considerável entre o início da crise e o acionamento do Samu.
Depois da morte encefálica ter sido declarada, a família de Danielle entrou com boletim de ocorrência junto à Polícia Civil, que pouco depois prendeu Quésia e interditou, com a Vigilância Sanitária, a clínica de estética.
A irmã de Danielle se mostra abalada devido ao ocorrido, e pede Justiça, caso fique comprovado que Quésia agiu de maneira irregular. “Ela deixou meus dois sobrinhos, um de 18 e um de 19 anos. Moravam só os três”, lamentou.
A reportagem buscou os perfis de Quésia nas redes digitais. O perfil individual da profissional está fora do ar, e também o perfil da clínica, entretanto, a página dedicada às aulas que a esteticista dava ainda está no ar.
Biomedicina
A biomédica Érika Mendes explica que a substância aplicada em Danielle é usada para dissolver preenchimentos anteriores. A profissional reforça que a hialuronida tem potencial alérgico, o que demanda o teste antes da aplicação. Além disso, sobre o laboratório que manipulou o medicamento, Érika aponta como “extremamente seguro e de confiança”. Segundo o depoimento, é mais provável que haja possíveis falhas na conduta de Quésia e não no produto usado.
A biomédica acredita que Danielle apresentou reação alérgica ou da substância aplicada (seja por ser alérgica a ela ou pela quantidade), ou de anestesia. Sua morte se deve a uma “sucessão de erros”: falha da profissional em identificar reação alérgica rapidamente, manobras ineficazes tentadas e demora em acionar o socorro.
A biomédica diz que profissionais com essa formação estão autorizados a realizarem procedimentos minimamente invasivos, portanto, uso de anestesia hospitalar e tentativa de realizar traqueostomia são irregulares e indevidos. “O caso dela foi uma sucessão de erros da profissional”, concluiu.
Polícia Civil
A Polícia Civil prendeu Quésia Biangulo sob acusações de venda de serviço ou mercadoria impróprios para consumo, execução de serviços de alta periculosidade sem autorização legal e exercício ilegal da medicina. Além disso, há investigação corrente que visa apurar as circunstâncias da morte de Danielle, imputando à esteticista ou homicídio culposo ou homicídio com dolo eventual.
Durante a inspeção da Vigilância Sanitária à clínica de Quésia, no Setor Parque Lozandes, em Goiânia, foram encontradas diversas irregularidades. Produtos sem registro na Anvisa ou vencidos, anestésicos de uso hospitalar e materiais cirúrgicos não esterilizados foram alguns dos apontamentos que levaram à interdição do estabelecimento.
Defesa
Em nota, a defesa de Quésia Biangulo reforça que, com a formação em Biomedicina e Enfermagem, ela possui a documentação “que lhe autoriza a realizar os procedimentos estéticos em questão”. No documento, os advogados da esteticista afirmam que o Conselho Federal de Biomedicina dá a possibilidade aos biomédicos de realizarem procedimentos que requerem injeção de substâncias como ácido hialurônico, toxina botulínica e fios de sustentação. Portanto, eles esclarecem que “ não há que se falar em exercício ilegal ou irregular da profissão”.
A defesa nega ainda as acusações da Polícia Civil, dizendo que a clínica estava regular, com alvará da Vigilância Sanitária, e que os produtos utilizados na paciente que veio a óbito também estão devidamente regularizados. Por fim, a defesa destaca ainda que “as informações encontram-se distorcidas com o único fim de manter uma prisão irregular”.
Veja abaixo a nota completa dos advogados que representam Quésia:
A defesa da Sra. Quésia Rodrigues Biangulo Lima realiza alguns esclarecimentos em relação aos fatos noticiados pelos meios de comunicação. Inicialmente a defesa esclarece aos meios de comunicação, bem como a toda sociedade goiana e clientes que a Dra. Quésia é uma profissional devidamente qualificada e habilitada para realizar a atividade que desenvolve em sua clínica, ela possui formação acadêmica em Biomedicina e enfermagem, o que lhe autoriza a realizar os procedimentos estéticos em questão.
O Conselho Federal de Biomedicina por meio de suas resoluções, já esclareceu sobre a possibilidade do Biomédico realizar tais procedimentos, inclusive com a aplicação de preenchimentos injetáveis (ácido hialurônico), Toxina de Sustentação, Procedimento Estético Injetável para Micro vasos, assim não há que se falar em exercício ilegal ou irregular da profissão.
Diferente do noticiado pela Autoridade Policial, a Clínica no período em que realizou todos os atendimentos em suas clientes estava devidamente regular, possuindo autorização de funcionamento bem como alvará da vigilância sanitária. Com relação aos medicamentos utilizados nas pacientes da Clínica, todos possuem autorização para serem comercializados, tanto que são adquiridos por meio de empresas devidamente constituídas que possuem autorização para fabricação com emissão de nota fiscal e recolhimento de imposto.
É necessário dizer que deve-se observar antes de qualquer pré-julgamento, que as informações encontram-se distorcidas com o único fim de manter uma prisão irregular e sem fundamento para tal. A Dra. Quesia em todo tempo colaborou com as investigações, prestou auxílio à sua paciente bem como à família, sendo que esta informação está clara nos autos.
A defesa informa ainda que, com a evolução das investigações, estará à disposição para esclarecer novamente à imprensa e a sociedade sobre os desdobramentos, visando restabelecer a verdade do ocorrido. Por derradeiro cabe dizer que, os defensores legalmente autorizados a prestarem esclarecimentos sobre o caso são apenas subscritores, assim, qualquer informação advinda de outro Advogado deve ser por hora ignorada.