O fim da era da vida longa? Estudo revela freio na expectativa de vida
27 novembro 2025 às 15h08

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Um estudo europeu publicado na revista PNAS indica que, embora a expectativa de vida continue crescendo, esse avanço vem perdendo força nos países ricos. A pesquisa analisou dados de mortalidade em 23 nações de alta renda e concluiu que nenhuma geração nascida entre 1939 e 2000 deverá alcançar, em média, os 100 anos, contrariando previsões feitas no passado.
Segundo os cientistas, desde a década de 1990 o ganho anual de longevidade não passa de dois meses, menos de um terço do que se registrava no início do século 20.
A médica geriatra Erika Satomi, entrevistada pelo Metrópoles, avalia que o trabalho traz pistas importantes para pensar políticas públicas e hábitos individuais. “É um estudo ambicioso, com grande volume de dados e estimativas para grupos contemporâneos. Ele nos ajuda a entender onde devemos investir como sociedade para prolongar não apenas a vida, mas também o bem-estar”, afirma.
No início do século passado, a principal força por trás do aumento da longevidade foi a redução da mortalidade infantil, impulsionada por avanços em saneamento, vacinação e acesso à saúde. Em 1900, a expectativa média era de 62 anos; em 1938, já havia subido para 80.
Mas, segundo Satomi, em países desenvolvidos esse “teto” já foi alcançado. “O impacto das melhorias coletivas diminuiu. No Brasil, ainda temos espaço para avançar em áreas como saneamento e acesso à saúde, o que pode trazer ganhos adicionais”, observa.
Hoje, o desafio está em combater doenças ligadas ao envelhecimento, como câncer, problemas cardiovasculares e condições neurodegenerativas. Diferentemente das conquistas do século passado, essas batalhas dependem muito mais de escolhas individuais do que de políticas públicas.
Apesar de a média populacional não apontar para os 100 anos, casos isolados de centenários se tornam cada vez mais comuns. Para Satomi, isso reforça a importância de hábitos saudáveis ao longo da vida.
“Ter longevidade não é apenas viver mais, mas viver melhor. Vejo pacientes que ultrapassam a média da geração deles com independência e saúde. O segredo está no acúmulo de boas práticas: alimentação equilibrada, atividade física, evitar vícios. Muitas vezes, um idoso de 85 anos ativo pode estar mais saudável que um adulto de 65 sedentário e fumante”, afirma.
Universalizar o acesso a práticas de prevenção, como check-ups regulares e alimentação adequada, poderia transformar a experiência da velhice. “O que fazemos hoje é reflexo no futuro. E esse futuro pode ser mais produtivo e independente mesmo após os 80 anos”, completa a médica.
No consultório, Satomi percebe que o desejo de alcançar os 100 anos se tornou um objetivo simbólico para muitos pacientes. “As datas redondas têm uma aura especial. Antes, o sonho era chegar aos 90. Agora, o alvo é o século de vida. É um número que impressiona, e fico feliz em ver cada vez mais pessoas chegando lá”, finaliza.
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